14.8.06

Cantinho da nossa culinária

Nova rubrica da FLC destinada à mulher caramela, com dicas, sugestões e indicações sobre receitas culinárias tradicionais da nossa região, de Valdera às Lagameças, da Palhota ao Lau, de Vale da Vila à Lagoa da Palha e Pinhal Novo.

As leitoras poderão enviar-nos as suas receitas, opiniões ou simplesmente partilhar connosco o gosto pela nossa cozinha tradicional.

Espaço com a assinatura da Ti Grunhilda (antiga cozinheira do Café Satélite, especialista em túbaros de porco caramelo-mirandês).

"Queridas amigas! É cum muito gosto que início aqui esta noba rubrica. Os homes da FLC cunbidaram-me e eu acitei, pois acho que o lugar da mulher debe de ser na cozinha a fazer comida para o seu home e qualquer mulher caramela debe de ser balente a cozinhar e sou contra essas modernices de comida pronta e nã sei quei, que essas gaiatas de hoije im dia gostam de fazer. Um dia quis experimintar a ber se o mê home, o Jquim Impanturrado, gostaba e chamei um carro de praça pa ir à capital à cunpratiba (aprobeitei pois também já aquaise nã tinha sacos de plástico) e cumprei uma daquelas sopas quéi só botar áuga. Depois, boltei par casa e fiz a sopa e lebei ó home, que já taba com a galga e só fica satesfeito quando tá impanturrado, atei lhe botaram a alcunha, cú bardadero nome dele ei Joaquim Augadiço, mas lebei atão a sopa ó home e ele mal pôs a colher na boca, nã debe de ter gostado do sabor e com as duas mãos tombou a mesa de uma só bez, rebirando as gamelas e o tacho da sopa, foi tudo borda fora. Depois ainda puxou do cinto de pele de porco e deu-me um tareão balente. No final disse-me que nã queria dessas pandlerices de comida im casa, que temos porcos e horta e bicheza cum fartura pa fazer comida rija, para ele se impanturrar e arrotar no final (ei quando eu sei que ele se sente bem impanturrado).
Por isso tão a ber, na nha casa só entram produtos caseros da caramelândia, espero que bócês façam o mesmo, se nã sóberim onde cumprar bão à raforma agráira".

Atão aqui bai a receita de pudim casero caramelo, que nos foi inbiada pela Belarmina Inxaugada, da Lagoa da Palha:

Pudim casero caramelo

Ingredientes

2 dúzias de obos de galinhas caramelas
2 orelhas de porco (de preferência caramelo mirandês)
2 kilos de açucre
1 panela velha
1 gamela (pode ser o alguidar da roupa)
1 beteneira pequena
1 balde
1 escopo
1 frigorífico

Modo de preparação

Labe as orelhas de porco e lebe-as ó lume atei farberem. Odepois tire-as par fora e dê-as ó canito e guarde a gurdura quélas ditaram dentro dum balde e deixe o balde ó sol atei a gordura inrejar e secar.
Atire depois os óbos cum força par dentro da betonera e ponha-a a trabalhar, dixando misturar as gemas com as claras. Depois atire com o pacote de açucar lá par dentro tamém e repita o mesmo processo. Lembre-se que o açucar ei branco, por isso se incuntrar graínhas amarelas debem ser de restos de areia da batenera, mas nã se preocupe cum isso (ódepois nim se nota, os alarbes traçam tudo).
Quando tudo tiber bem mexido, baze o cunteúdo da batenera par dentro da panela e deixe ir ó lume atei cozer tudo bem. Ódepois, intorne tudo para dentro do alguidar e bá buscar o balde com a gordura das orelhas de porco. Com a ajuda do escopo, retire a gordura e coloque-a por cima do preparado do pudim. Bai depois ó fricorifico pa gelar 1 hora e fica bom.

Bom apetite e atéi prá semana!

4.8.06

Consultóiro do dia-a-dia


Se tiberes ãinças ou bicho-carpinteiro, escrebe práqui que a FLC dá-te a mesinha. Tamém podes fazer as tuas précuras que temos um rancho de caramelos especializados que te darão as respostas certas.

Exmos. Srs. da Frente de Libertação Caramela, escrevo esta carta porque tenho andado com um grande problema e espero que o consigam resolver. Vivo na Cascalheira e sou caramelo há cerca de um ano porque o ano passado aderi ao “Kit – Novo Caramelo” (fornecido por V/ Exas) e tenho sempre praticado com toda a família os costumes da nossa terra com muita dedicação. Posso dizer que até já tenho uma flober para acertar nas molas da roupa da vizinhança e até já comi uma maçã riscadinha escondido nuns arbustos em Valdera. Já sei ler a nossa língua e estou a dar os primeiros passos na escrita. O problema é que não consigo falar o caramelo! Ainda a semana passada estive no Rancho Folclórico da Venda do Alcaide e senti uma certa vergonha por não saber falar como o resto da malta. O que devo fazer para poder falar o caramelo correcto?

Ó meu rapaz, bocemecê beio ao sítio certo na hora certa, pois a FLC acabou de preparar um curso de Berão sobre a oralidade e vernáculo caramelo moderno. Basta inscreber-se aqui. O curso serbe pra resolber os problemas da fala e vai ter as seguintes disciplinas:

Teorias da oralidade caramela (TOC)
Nesta disciplina são dadas noções sobre as cumbersas dentro da binha e algum bocabulário perdido. São dadas tamém as diferenças de linguaige nas dibersas regiões da Caramelândia e visionamento da telenobela “Cuiratos cum açorda” como estudo da riqueza línguística. No final, cada participante contará uma históira da sua cabeça em caramelo arcaico.

Terapia da fala
Aqui põe-se em prática a árdua tarefa de articular palabras enquanto se está a comer coirato; a posição da língua e o tom certo da bóz. Nas variantes da fala, as caramelas aprendim a falar em falsete, e os caramelos aprendim a falar enquanto emborcam uma mine. Para os mais interessados, a nossa terapeuta bai insinar tamém a falar com salpicos de cuspo (com placa e sem placa) como forma de comunicação a meia distância. Esta disciplina termina com uma dramatização na sede do Rancho Folclórico das Lagameças.

Debate-garreia
É uma disciplina nuclear onde se aprende a falar caramelo brabio em público. Terá exercícios de dicção correcta e leituras em bóz alta com um palito na boca; demonstrações de dibersos tipos de debate-garreia tais como a garreia a andar em cima da Famel sem cair, a garreia na coletbidade e a garreia na reforma-agrária. No final, será feito um exame na sede do Grupo Desportivo da Lagoa da Palha, numa noite de bálho. Este exame faz parte do trabalho final “A berdade está na bóz” proporcionando uma marabilhosa biaige aos rituais da razão fundada na oralidade. Os finalistas têm de se integrar no imbiente onde, previamente, estão todos a falar ao mesmo tempo. A partir daí é preciso percebê-los e fazer baler a sua ideia, atrabéz dum debate-garreia contínuo, a comer coirato e a beber mines. Se o finalista cunseguir cunbincer dois caramelos, passará com distinção.

Resposta de Manel Encontrado (assim conhecido porque foi encontrado dentro dum cesto, junto a um ninho de vespas).