29.9.06


Momento histórico: comitiva da Caramelândia pode ser recebida pelo Papa no Vaticano

A viagem a Roma poderá ser agendada já para o próximo mês, tudo dependendo dos apoios conseguidos, do estado do tempo e do meio de transporte utilizado para a deslocação (fragnete de caixa aberta, carroça ou motorizadas).
A comitiva a enviar ao Vaticano está praticamente definida. No entanto por motivos de segurança, a lista não foi ainda tornada pública. Apesar disto, a FLC soube através de um dos seus colaboradores secretos que dois nomes de luxo estão dados como certos para serem os representantes oficiais desta comitiva: nada mais, nada menos do que Toino das Ideias Parvas, conceituado filósofo caramelo contemporâneo, e Ti Balbina Acocorada, poetisa popular e activista feminista, que de momento preferiram nada dizer sobre este assunto. Dois nomes maiores das letras e artes caramelas que com certeza levarão a lição bem estudada para o encontro com Sua Santidade. Esta viagem será organizada pela recém formada C.P.L..C. (Comunidade dos Povos de Língua Caramela) e terá como objectivo máximo dar a conhecer ao Papa a nossa língua e cultura ancestral. Os representantes da C.P.L..C. pretendem convencer sua Santidade da importância da língua caramela nos nossos dias, para que ele passe também a incluí-la nos seus discursos e comunicações ao mundo, enchendo-nos de orgulho e tornando cada vez mais conhecidos os nossos desejos de auto-determinação. Para isso, Toino das Ideias Parvas e Ti Balbina Acocorada tentarão ter uma audiência em privado com o Papa. Consigo deverão levar um enorme rol de prendas (talvez por isso a comitiva seja obrigada a ir de fragnete de caixa aberta com sofás acoplados e atrelado), pois diversas entidades e organizações caramelas como o Rancho Folclórico de Pinhal Novo, os Bardoada, a Junta de Freguesia, o Círio da Carregueira, o ATA, e a Associação Académica, entre outros, já manifestaram o seu desejo em aderir a esta grande iniciativa.
Esta visita por si só, com ou sem êxito, ficará com certeza na história da caramelândia e aumentará ainda mais o respeito e admiração por estas duas ilustres figuras da cultura local.
Boa sorte e boa viagem para Ti Balbina Acocorada, Toino das Ideias Parvas e restante comitiva.
A nação caramela cunfia im bócezes, repazes e reparigas balentes!

17.9.06

Caramelo passa a ser língua oficial nas escolas da Caramelândia

Como sempre, a FLC tem o privilégio de anunciar ao povo caramelo as medidas oficiais antes de estas o serem.
Assim, sabemos que o Ministério Caramelo da Educação pretende implementar já no corrente ano lectivo, a língua caramela como língua oficial de todas as escolas da caramelândia (a partir do primeiro ciclo).
De recordar que esta medida não é nova, pois já tinha sido tentada no ano lectivo anterior, não se tendo verificado grande aderência por parte dos professores. Em relação a esta medida, só o colégio O Gaiato Parbo (Lagameças) foi distinguido pela positiva, com a totalidade dos professores e funcionários a adoptarem o caramelo como a sua primeira língua e dominando-a de um modo tão perfeito, que por vezes é necessário um tradutor para que algum visitante não caramelo consiga perceber o que dizem.
O Ministério Caramelo da Educacão anunciou que este ano não vai tolerar desculpas ou falsas argumentações por parte dos professores e que esta medida é mesmo para cumprir, com o objectivo de ser realmente possível ouvir e falar caramelo puro nas nossas escolas.
A rede de escolas da capital caramela vai ser alvo de inspecções periódicas por parte de inspectores educacionais e as escolas que falharem este objectivo serão duramente penalizadas.
Ao dispor dos professores estarão vários programas e cursos através dos quais a sua aprendizagem do caramelo será mais rápida e fácil. De destacar os acordos do Ministério com verdadeiras universidades da língua caramela como o café da Sede da Lagoa da Palha, os bares do marcado de Pinhal Novo, o café Capuchinho e o café Lua Cheia Aparbalhada, nos quais os professores terão conta aberta, podendo passar longos momentos ao balcão, imbubadando-se de língua e cultura caramela. Para além disto, existirão também visitas guiadas à caramelândia profunda, em carrinhas de caixa aberta com sofás e meio-bidons acoplados. Serão também cedidas às escolas (4 por instituição numa primeira fase) motorizadas artilhadas para que os professores adquiram o hábito de se deslocarem nestes veículos tradicionais, existindo a possibilidade de em cada final de ano lectivo haver despiques de punho aberto e escape libre entre os professores que demonstrem maior mestria e perícia na arte da menarda.
A FLC sabe também que está ainda em fase de estudo a possibilidade de os toques de entrada e saída das salas de aula (actualmente feitos por campainhas), serem substituídos por foguetaige, faltando ainda o acordo com o Círio da Carregueira, verdadeiros mestres nesta arte caramela secular. Esta organização terá apenas de disponibilizar os seus elementos para dar formação adequada aos funcionários das escolas, tornando-os verdadeiros profissionais do lançamento do fogo rijo. No entanto, sabemos que da parte desta organização não haverá qualquer problema de cooperação, exigindo apenas alguns garrafões de tinto da região e uma balente almoçarada de cunbíbio nas escolas onde a formação for dada.


12.9.06

A nha menardinha

"Como mimscrebi no motoclube cá da caramelândia, e im cumbersas amais o Tohinaiço imbentei estes bérsos da nha cabeça. Espero que gostim.

A nha menarda

A nha menarda artilhada
Tem molas de competição
Salta por cima do cumbóio
Pró outro lado da estação.

À noite desalboriado
Bou ditado no selim
Bou de farol apagado
Bou do Lau ao Terrim.

Fiz uma nova pintura
Com uma risca amarela
Só me falta a pindura
Que bou buscar à Sela.

Tenho escape de rindimento
Pra açapar de madrugada
Bou de punho cerrado
Bou a fugir à guarda.

Menarda menardinha
Menarda meu amor


Tem o ronco dum trovão
e a força dum tractor
lebo a família e o cão
em cima do guiador

tem a força dum tractor
menarda menardinha
E um ninho de ratos
Na cabeça motor


Tem cadilhes pindurados
Na manete do trabão
Faço rotundas todo ditado
A arrojá-los pu chão


Aposto já cuntigo
Librete contra librete,
Bou de roda im péi
Do Lau a Alcochete.

(carta anónima trazida por um cão caramelo)

5.9.06

Grandes entrevistas de verão

Espaço dedicado a entrebistas beraneantes com homes de elebada importância na grei caramela

A grande entrebista de berão bai para Fernado Excomungado Pitrólero, idade incerta, residente na bela localidade da Carregueira e candidato assumido à presidência da futura C.E.C. (Comunidade Económica Caramela).
A hora combinada para a entrevista não foi a melhor, a planície está quase deserta, três da tarde, o sol caramelo fustiga-nos o coirato atéi à intarmiada. Depois de pricuramos no café Lua Cheia Aparbalhada, não foi difícil encontrarmos o nosso homem. Manuel Pitrólero é de facto um home rijo, que impressiona pela determinação das suas ideías e porte quase aristocrático (de linhagem caramela).
Mal entramos no seu território (um antigo terreno baldio por ele ocupado no pós-25 de Abril) avistamo-lo: está no alpendre, confortavelmente instalado numa velha cadeira de palha, rodiado por dois cães de raça coelhera, que bastante brabios, não param de nos rosnar, eriçando o pelo e mordendo-se mutuamente. Nandinho do Pitróile (como gosta de ser chamado), tem os pés dentro de um alguidar com áuga e gelo, o qual serve simultaneamente de refrescador de mines e de uma metade de melancia, na qual ele acraba as unhas, esgrabatando as pevides que se misturam com a água fresca. As primeiras palabras que nos dirige não são cordiais:”tal tá a merda, atão já pinsaba que bócês na binham, bá lá ber, tenho mais que fazer!”. Percebemos depois que Pitrólero nos confundira com repórteres do Jornal do Pinhal Novo, e assim desfeito o equívoco, (sabendo que éramos da FLC), nos convidou imediatamente para entrar, oferecendo-nos melancia fresca e mines, “se são da FLC são amigos, car...”, disse. De seguida, num movimento elegante e igualmente selbaige, sacou da sua navalha, mergulhou-a no alguidar dos pés, levantando-a pouco depois. Na ponta trazia um belo pedaço de melancia, o qual nos ofereceu, ao mesmo tempo que abria duas mines com os dentes, “bebam repazes, cú calor tá aparbalhado, isto aquase parece que se bibe dentro de um meio bidon im brasa”.
N. Pitrólero tem uma longa história de trabalho e deambulações por todo o território caramelo, o qual conhece bem e no qual é também bem conhecido. Diz não só orgulhar-se dos muitos amigos que tem, mas também dos muitos inimigos que foi fazendo e que o ajudam a manter-se “sempre de pêlo eriçado como os mês canitos e de crista im péi comó galo cobridor”. Em gaiato, após o avô “ter aparecido im casa com um zingarelho que daba luz”, decidiu começar a vender pitromaxs de porta em porta, o que lhe permitiu comprar a sua primeira bicicleta a motor “ainda me alembra, fui à capital, ó Sousa das Bcicletes e paguei im denhero. Intrei na loja e disse: benho a péi mas quero sair daqui a cabalo im qualquer coisa que ande à parba”.
Pouco depois, fez parte do grupo de pioneiros caramelos que acreditaram na exploração do petróleo na região do Lau e consegui com isso amealhar uma pequena fortuna. Quando este tema de cunbersa surge, os seus olhos brilham, e entre mais uma nabalhada de melancia do alguidar e um gole de mine, diz:”ali habia pitróile bardadero, quim acraditou nisso, incuntrou o óile que faz os homes parbos. No ínicio para cunseguirmos extraí-lo tinha de ser à pá e ódepois chupá-lo por uma manguera...ingoli muitos litros de pitróile, atéi o mê mijo era balioso.. Aquase todos os meios bidons que hoje andam por aí, fui eu que os bindi, chiínhois atei ó cagulo de pitróile caramelo”. É este o home que quer ser presidente da futura Comunidade Económica Caramela, um sonho que acalenta desde gaiato, porque na sua opinião a caramelândia deve-se unir para que “ nã facam do home caramelo brabio um bicho im istincão para ser mostrado im desfiles e também para que a gente nã se ingalfinhe todos à bardoada e ó tiro uns cús otros, esquecendo-se que somos um só pobo, selbaige e rijo”. Entretanto as primeiras estrelas começam já a aparecer no céu da Carreguera e Nandinho Pitrólero tem os pés frios. Em silêncio, absorvido pela serenidade do horizonte, limpa os pés nos cães e enrola um cigarrito. Absorto, contempla agora o mundo. Queríamos ainda fazer-lhe algumas perguntas sobre a futura C.E.C., mas ele diz-nos calmamente: “repazes, se eu fosse a bócês punha os chispes daqui par fora. Bai comecar o nosso dibertimento nocturno, uma sassão da tiro”. Vêmo-lo pegar na caçadera, colocar o cigarrito ó canto da boca e apuntar para a casa do vizinho. Não tardam em chegar as primeiras rajadas de tiros, provavelmente provenientes de uma outra casa mais distante, que se acrabam na chaparia da marquise. Aproveitamos a sugestão, rastejamos até ao portão e vamos de menarda pela noite fora, cuntentes por termos conseguido mais esta entrebista com um home importante da caramelândia. Ao longe ainda se ouvem tiros...