Grandes entrevistas de verão
Espaço dedicado a entrebistas beraneantes com homes de elebada importância na grei caramela
A grande entrebista de berão bai para Fernado Excomungado Pitrólero, idade incerta, residente na bela localidade da Carregueira e candidato assumido à presidência da futura C.E.C. (Comunidade Económica Caramela).
A hora combinada para a entrevista não foi a melhor, a planície está quase deserta, três da tarde, o sol caramelo fustiga-nos o coirato atéi à intarmiada. Depois de pricuramos no café Lua Cheia Aparbalhada, não foi difícil encontrarmos o nosso homem. Manuel Pitrólero é de facto um home rijo, que impressiona pela determinação das suas ideías e porte quase aristocrático (de linhagem caramela).
Mal entramos no seu território (um antigo terreno baldio por ele ocupado no pós-25 de Abril) avistamo-lo: está no alpendre, confortavelmente instalado numa velha cadeira de palha, rodiado por dois cães de raça coelhera, que bastante brabios, não param de nos rosnar, eriçando o pelo e mordendo-se mutuamente. Nandinho do Pitróile (como gosta de ser chamado), tem os pés dentro de um alguidar com áuga e gelo, o qual serve simultaneamente de refrescador de mines e de uma metade de melancia, na qual ele acraba as unhas, esgrabatando as pevides que se misturam com a água fresca. As primeiras palabras que nos dirige não são cordiais:”tal tá a merda, atão já pinsaba que bócês na binham, bá lá ber, tenho mais que fazer!”. Percebemos depois que Pitrólero nos confundira com repórteres do Jornal do Pinhal Novo, e assim desfeito o equívoco, (sabendo que éramos da FLC), nos convidou imediatamente para entrar, oferecendo-nos melancia fresca e mines, “se são da FLC são amigos, car...”, disse. De seguida, num movimento elegante e igualmente selbaige, sacou da sua navalha, mergulhou-a no alguidar dos pés, levantando-a pouco depois. Na ponta trazia um belo pedaço de melancia, o qual nos ofereceu, ao mesmo tempo que abria duas mines com os dentes, “bebam repazes, cú calor tá aparbalhado, isto aquase parece que se bibe dentro de um meio bidon im brasa”.
N. Pitrólero tem uma longa história de trabalho e deambulações por todo o território caramelo, o qual conhece bem e no qual é também bem conhecido. Diz não só orgulhar-se dos muitos amigos que tem, mas também dos muitos inimigos que foi fazendo e que o ajudam a manter-se “sempre de pêlo eriçado como os mês canitos e de crista im péi comó galo cobridor”. Em gaiato, após o avô “ter aparecido im casa com um zingarelho que daba luz”, decidiu começar a vender pitromaxs de porta em porta, o que lhe permitiu comprar a sua primeira bicicleta a motor “ainda me alembra, fui à capital, ó Sousa das Bcicletes e paguei im denhero. Intrei na loja e disse: benho a péi mas quero sair daqui a cabalo im qualquer coisa que ande à parba”.
Pouco depois, fez parte do grupo de pioneiros caramelos que acreditaram na exploração do petróleo na região do Lau e consegui com isso amealhar uma pequena fortuna. Quando este tema de cunbersa surge, os seus olhos brilham, e entre mais uma nabalhada de melancia do alguidar e um gole de mine, diz:”ali habia pitróile bardadero, quim acraditou nisso, incuntrou o óile que faz os homes parbos. No ínicio para cunseguirmos extraí-lo tinha de ser à pá e ódepois chupá-lo por uma manguera...ingoli muitos litros de pitróile, atéi o mê mijo era balioso.. Aquase todos os meios bidons que hoje andam por aí, fui eu que os bindi, chiínhois atei ó cagulo de pitróile caramelo”. É este o home que quer ser presidente da futura Comunidade Económica Caramela, um sonho que acalenta desde gaiato, porque na sua opinião a caramelândia deve-se unir para que “ nã facam do home caramelo brabio um bicho im istincão para ser mostrado im desfiles e também para que a gente nã se ingalfinhe todos à bardoada e ó tiro uns cús otros, esquecendo-se que somos um só pobo, selbaige e rijo”. Entretanto as primeiras estrelas começam já a aparecer no céu da Carreguera e Nandinho Pitrólero tem os pés frios. Em silêncio, absorvido pela serenidade do horizonte, limpa os pés nos cães e enrola um cigarrito. Absorto, contempla agora o mundo. Queríamos ainda fazer-lhe algumas perguntas sobre a futura C.E.C., mas ele diz-nos calmamente: “repazes, se eu fosse a bócês punha os chispes daqui par fora. Bai comecar o nosso dibertimento nocturno, uma sassão da tiro”. Vêmo-lo pegar na caçadera, colocar o cigarrito ó canto da boca e apuntar para a casa do vizinho. Não tardam em chegar as primeiras rajadas de tiros, provavelmente provenientes de uma outra casa mais distante, que se acrabam na chaparia da marquise. Aproveitamos a sugestão, rastejamos até ao portão e vamos de menarda pela noite fora, cuntentes por termos conseguido mais esta entrebista com um home importante da caramelândia. Ao longe ainda se ouvem tiros...