25.12.08

Entrebista ao Ti Pau-de-cuspo


São sete e meia da matina, a geada a branquejar no escalracho luta com os primeiros raios de Sol que aparece dos lados da Marateca. O cantar destemido dos galos da bizinhança cruza-se com o grunhido dum porco lá das traseiras da taberna “Ó Bebes ó Pápazias”. À frente deste estabelecimento está uma mãcheia de homes brabios a mandar calar o porco que na pára de fazer propaganda política àquela hora da madrugada.

- Debes ter as nalgas frias, pra tares a grunhir dessa maneira!!! – diz um.
Das cumbersas sai fumo da boca para cima da araige e o esfragar as mãos serve pra aquecer e preparar o sangue para o primeiro copo do dia.
Esta taberna é lugar adonde o Ti Pau-de-cuspo faz a sua bida há mais de 60 anos. Ele puxa a porta arrastando ela pelo chão e essa chiadeira é o mesmo que dizer que já se pode entrar lá par drento.
O home de quem se fala, passa pra trás do balcão de pedra e olha prá gente já com um palito na boca.

(a partir daqui, esta entrevista foi feita pela Marisa Quadriculada, uma jovem universitária que ainda tem muito que aprinder com a FLC)


Marisa Quadriculada – Diga-me lá, desde quando é que usa o palito na boca.
Ti Pau-de-cuspo – Este … ando com ele desde Domingo.
MC – E usa o seu palito 24 horas por dia ou como é que é?
T. PdC – Não, quando me vou ditar cuspo o palito prá rua, opois, logo de manhãzinha, quando acordo, bou buscar outro novazinho.
MQ – E usa o mesmo palito durante todo o dia, ou vai mudando?
T. PdC –Nã. Durante o dia nã me desfaço dele; é sempre o mesmo, tá a cumprinder? Só quando bou ò Marcado do Pinhal Nobo é que ponho um palito nobo… é já uma coisa intiga, um costume intigo.
MQ – Acha que, para a libertação da cultura caramela, toda a gente deveria usar um palito na boca, ou acha que o palito deve ficar apenas reservado aos paladinos da tradição local?
T. PdC O QUÊIM??!!!
MQ – Acha que todos os caramelos deveriam usar um palito na boca?
T. PdC – Eu aicho que cada um usa o que quiser e ninguém tem nada a ber cum isso…Se a menina quiser usar um palito usa, se quiser lember um rajá, lembe tamém. Agora homes a roer pastilhas, com brincos na orelha e anilhas pinduradas no nariz é que é uma pandleiraige que nã tem geito nhum.
MQ – Para isso mais vale usar um palito, não?
T. PdC – Tóóó!!! Tá claro. Tem algum geito um home andar aí com argolas pinduradas nos beiços….
«…há quem ande com argolas pinduradas nos tomates…» disse um cliente, lá ao fundo, que estava a ouvir a entrevista.
MQ – Se a FLC o convidasse para dar umas lições sobre o uso tradicional do palito, você aceitava?
T. PdC – Isto nã precisa de lições nim de livros nim de trugia nhuma. Isto do palito só precisa de infiar um palito nas beiças e já tá. Nã tem nada que saber! E quem quiser saber que benha aqui, faça uma despeza, e eu digo como é que éi. Agora daqui ninguém me arranca, nim pra unibersidades, nim pra teatros nim pra nada.
MQ – E se for no mercado do Pinhal Novo?
T. PdC – Bem, aí bou pinsar.
MQ – O que acha sobre o futuro do palito como objecto fetiche da oralidade caramela?
T. PdCO QUÊIM????!!!
MQ – Acha que o uso do palito na boca, durante todo o dia, vai desaparecer por completo?
T. PdC – Eu aicho que sim. Dizem que a AZAI nã bai deixar ninguéim usar um palito na bia pública! O que eu aicho mal.
MQ – Mas a FLC não vai deixar que isso aconteça.
T. PdC – Pois eu aicho bem que bocêzes lutem por aquilo que é da gente.
MQ - Agora diga-me, continua a procurar novas formas do movimento do palito na boca, ou acha que já chegou ao limite das suas capacidades?
T. PdC – O palito da boca nunca tem fim, tá a ber …. (e demonstra o palito numa coreografia bocal, fazendo uma antologia histórica desta arte, que vai desde o minimalismo contundente até à beiçalidade barroca).
MQ
– É sabido que os caramelólogos (apoiados pela FLC) têm uma oficina de trabalho onde se explora a relação do palito na corporalidade caramela. Dessa oficina já estão a sair resultados vanguardistas desta arte e pretende-se atrair os jovens ao uso quotidiano deste objecto na boca, abolindo as gomas e as pastilhas elásticas que são feitas de petróleo americano. O que acha disso?
T. PdC – Eu aicho bem. Uma bez roí uma pastilha e ela colou-se-me às gengibes que tive que raspá-la com uma nabalha. Nunca mais! Eu aicho que bocês fazim bem, se é pra tirar a repaziada da má bida, pois que façam isso que eu apoio.
MQ- Obrigada.
T. PdC – Como bocemecê é da FLC, beba aqui ca gente um copo pró caminho.

23.12.08

O Palito Natalício

Como no dia 22 de Abril de 2008 tinha sido prometida uma entrebista dum home que usa, no seu dia-a-dia, um palito na boca, agora é que bamos apresentar ela.
Esta demora debeu-se à agenda totalmente preenchida desse tal home que só agora pôde falar com a gente.


Quem é o Ti Pau-de-cuspo?

Ti Casimiro Pau-de-cuspo, ou simplesmente Ti Pau-de-cuspo, é assim conhecido por usar um palito na boca ao longo do dia. Toda a bida o usou, e é hoije um dos últimos caramelos a usá-lo permanentemente na beiça, tal como já usaba o seu pai, o seu abô e todos os caramelos primitivos. O seu apego a este objecto é tal que, até na fotografia do BI ostenta um grandioso palito ao canto da boca.
Pau-de-cuspo, dono da taberna “Ó bebes ó Pápazias”, é um dos últimos redutos vivos dos hábitos palitícios da nossa cultura. Por isso a NASA, a convite da FLC, veio cá a Vale da Vila, com potentes câmaras de análise balística, para filmar os rapidíssimos movimentos do palito na boca deste home brabio.
As filmaiges (já com vários prémios ganhos), mostram até à mínima porosidade as gengibes só com um dente amarelo, assim como todo o detalhe dos movimentos do pauzinho a percorrer lés a lés a cavidade bocal. Um dos momentos mais empolgantes desta reportaige é quando, em dois longos minutos de filme em câmara-lenta, se pode ver o palito a soltar-se do canto esquerdo da beiça, a percorrer a gengibe em pirueta, fintando o dente, até desaparecer debaixo da língua. Ópois vê-se logo ele a surgir no outro lado do dente, a continuar a caminhada na ponta da língua até tocar no canto oposto da boca e logo de seguida fazer três fintas aos salpicos e regressar ao ponto de partida, virado ao contrário. Tudo isto enquanto o home dá uma gargalhada.
Sobre esta famosa cena, Manoel do Olho Estupefacto (um realizador da Carregueira com mais de cem anos) referiu que “o palito, em plena coreografia nos interstícios da paisagem bocal, revela uma leveza, uma graciosidade única, marcando o estágio mais evoluído desta expressão.”
Deribado à importância do Ti Pau-de-cuspo nesta tradição caramela, a FLC resolbeu intão fazer uma grande entrebista que bai ser espatada aqui já nos próximos dias como prenda de Natal e para que nesta quadra todos voltem a usar na beiça um palito natalício como forma reaccionária às forças opressivas da nossa cultura.

Por isso:

Em prol da cultura caramela,
na noite da consoada rói um palito natalício
e cospe ele só no dia 26 ao meio dia.

18.12.08

O Obama éi caramelo?!!

(parte 2, continuação)

Atão prestem bem atenção: um historiador caramelo, na sua mania de fazer pricuras e vasculhar a história caramela atei ao fundo da gamela, encontrou nuns tachos mais velhos do que a estação antiga da capital, uns papeis que o intrigaram atei ao coirato do pensamento. Esta papelada estava numa tacharia que tinha sido esquecida num armário na sede do Rancho Folclórico da Lagoa da Palha. O home-historiador, olhou, ficou parbo-calado, estudou estes papéis e sem ter ainda çartezas absolutas, abançou com uma teoria rebólucionária e beio apresentar a mesma à FLC.
Ora atão, o que a gente vai fazer agora, éi apresentá-la a bócês, porque bócês são a gente e a gente somos bócês e todos juntos, somos o grandioso pobo caramelo a caminho da libertação.

A teoria éi atão esta: leiam com óculos de ber ó perto e ódepois, digam qualquer coisa, (antes de se ingalfanharem todos à punhada, por causa da discórdia): Os tais papeis encontrados podem ter pertencido a Evangelisto Eucaristia, conhecido por ter sido o primeiro caramelo a ir a África. O nosso historiador (ao péi da gente no esconderijo actual da FLC, ó quintinho do pitromax) disse: “o Ebangelisto era um evangelizador e tinha um sonho, espalhar a cultura caramela por todo o lado. Um dia, em gaiato, biu um mapa mundo trazido por um caixeiro-viajante. Fascinado, fechou os olhos, apontou ao calhas e decidiu começar pelo local que a unha grande do seu dedo indicador apontava: África!. Ora, pelos meus cálculos, isto debe de ter sido mais ou menos por bolta dos anos 90 do século XIX, indo o nosso Ebangelisto bárias bezes a África, alargando o conceito daquilo que eu chamo de caramelo de ir e bir, porque na bardade, ele binha da zona de Aveiro, passava pela Caramelândia para aproveitar a bindima em Rio Frio e a apanha do figo caramelo no Lau e sei que às bezes atei ia às Romãs à Atalaia. Mas nã se dixaba ficar por cá, mal acabava o trabalho, no fim do berão, seguia biaige pa África, sempre im frente, guido pelo sol e pelas estrelas (e pelo mapa do caixeiro biajante) e quando regressava, binha pelo mesmo caminho, sempre a direito, mas ao contrário, sempre a galagar tarreno brabio e a ebangelizar os homes e a bicheza que encontaba nos aceros e baldios da sua peregrinação ebangelizadora”.


Bão agora fazer o que têm a fazer, que ódepois cuntinuamos daqui.

5.12.08

Agenda Cultural da Caramelândia

Semana de 8 a 14 de Dezembro

Arraiados

Dia 9 às 21h00

24h de Arraiados sempre em linha recta e a corta-mato

1ª edição da corrida de menardas e bicicletas a motor de fabrico exclusivamente caramelo.
Prevê-se despiques épicos entre os pilotos caramelos, ao serviço das várias garaiges oficiais e clandestinas que já quiseram marcar a sua presença, do Lau à Palhota, dos Arraiados às Lagameças. Nesta primeira edição, estão já inscritos 40 participantes, que prometem lutar pelo pódio. Segundo a organização deste grandioso evento: “a gente nã quer copiar ninguém. Quando falámos disto lá na sede, houve logo uma sessão de punhada, pois disseram que aquilo já existia lá im França. Atão dissemos: aí éi? Atão bejam lá se assim tamém existe! (andámos à punhada e ódepois tibemos a ideia de ser 24h mas sempre im frente, atei onde der).
Ei assim: Cada piloto parte birado pa onde quiser, e ódepois ganha o ultimo a cunseguir manter a menarda im andamento, sem se desbiar de nada, porque nã bale desbiarem-se, só têm éi de ir sempre im frente, de punho aberto”).
A entrada é livre, mas têm de consumir na sede dos Arraiados (pelo menos duas mines e uma intarmiada).


Sociedade Recreativa e Cultural da Lagoa do Calvo

Dia 13 às 16 horas

Bailado "O Traça-Coiratos"

Grandioso Bailado “O Traça-Coiratos” de Justino Embaladiço, interpretado pelo Rancho Folclórico de Pinhal Novo. O “Traça-Coiratos” é a primeira produção de Justino Embaladiço, antigo mecânico de automóveis no Lau e actualmente um dos mais proeminentes coreógrafos da nova vanguarda da dança folclórica caramela.
Este espectáculo conta com mais de 50 meios bidons em palco, e foram cumprados mais de 10 quilos de coirataige.
Entrebistado para a agenda cultural da caramelândia, Justino disse: “O Traça-Coiratos é baseado no Quebra-Nozes do Tchaikobske, que uma bez quando era gaiato bi por ingano na sede da Palhota, é ó depois nunca mais me esqueci. O quê fiz agora, foi só acrescentar fumo dos meios bidons e por um home a traçar coiratos, caquilo parece um pardido.”

Entrada Livre (é preciso nã chegar atrasado).



Em frente ao antigo Café Satélite
Dia 12 às 21h30

Um home que toca tudo

Espectáculo experimentaló-caramelo de Albano Imparbalhado, um bardadero home dos sete instrumentos, que se propõem dar um concerto a solo tocando ao mesmo tempo todos os instrumentos da banda da S.F.U.A (que já protestou e promete fazer um contra-concerto mesmo ao lado, mas mais perto dos Retornados).
Após contacto com a redação da Linha do Sul, ficámos a saber que “o ponto alto do espectáculo é o final, quando Albano imparbalhado, em estado de quase transe hipnótico a tocar mais de trinta instrumentos em simultâneo, ainda consegue lançar com os pés, três ó quatro foguetaiges pó ar, “o que dá um ar de apoteose-caótica a este espectáculo de cariz anarco-musical”, refere o crítico de música caramela deste jornal.

Entrada livre para sócios dos Círios da Atalaia e antigos frequentadores do Café Satélite.