22.1.08

O aeroporto e os construtores civis

Deribado às cumbersas do aeroporto, a Rádio Antena Caramela (instituição com alvará passado pela FLC), foi para o terreno fazer umas intrebistas e imbestigações, especialmente dedicadas aos construtores civis, empreiteiros e seus comparsas.
Para dar total credibilidade e imparcialidade a este trabalho, a Rádio combidou os melhores caramelólogos da FLC, que contribuíram com preciosas orientações. Assim, se não fossem eles, os nossos repórteres nunca seriam capazes de encontrar um construtor civil. Mas, com os caramelólogos da FLC, fartos de saber que o habitat natural dum construtor civil é dentro dum banco, foi num instantinho que se encontrou um belo exemplar…

Intrebista:

Repórter: Atão diga-me lá o que é que aicha do novo aeroporto aqui em territóiro caramelo?
Construtor civil: Eu? Ahrggg Ah ah ah ah!!!!....
O homem ficou tão nerboso e cuntente, tão cuntente, tão cuntente, que começou a dar pulos e grunhidos por esses ares, ópois começou a estrabuchar até lhe dar um xelique e desmaiar no meio da rua (sem deslargar a sua malinha da mão). Os nossos caramelólogos, habituados a lidar com estas aflições, infiaram-lhe logo com quatro punhadas nas bentas e um copo de água fria, pra o home não ingulir a língua. Ópois tentámos tirar-lhe a malinha da mão (pró home estrabuchar mais à bontade), mas ninguém conseguiu abrir-lhe a mão, nem com um pé-de-cabra! A malinha só foi tirada com a ajuda duma moto-serra que lhe cortou a asa. O objecto está agora em segurança nas mãos das autoridades da FLC.*

Retomada a normalidade, e com receio de voltar a repetir-se o incidente com outros construtores civis, preferimos fazer uma reportaige de imbestigação e sem intrebistas parbas.
Dessa maneira fomos descobrir coias por i.

Descobrimos que nestes últimos dias tem havido um grande fluxo de imigração construtores civis para a nossa nação, vindos de toda a parte lusitana. As tensões entre os construtores caramelos e os construtores invasores aumentaram a venda de canzoada rosnadora. Berificámos tamém que os anúncios dos placares do Pingo Doce aumentaram 200% ; do Intermarché aumentaram 350%; do Minipreço aumentaram 400%, sem falar das Compratibas que aumentaram 1800% e até já houve garreia por os anúncios estarem encavalitados uns nos outros.

E o que é que esses anúncios dizem?
A FLC apresenta aqui alguns retirados ao acaso:

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"Construtor civil, vindo do Estoril, procura alguém quem dê aulas de caramelo, para poder falar amistosamente com proprietários de terrenos da Venda do Alcaide, Lau e Vale da Vila. Urgente. Boa remuneração."

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"Filho de construtor civil, 28 anos, bom rapaz, caseirinho (gosta muito de ver televisão), capaz de levar o saco do lixo ao contentor, pretende casar com caramela proprietária de propriedade urbanizável. Oferece-se fortuna incalculável."

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"Ofereço um palmeiral completo com sistema de rega automática (cerca de oito avenidas, e mais 50 palmeiras de reserva para substituir as que vão morrendo), a quem conseguir urbanizar uma herdade 50 hectares nas Lagameças para construir um bairro de arranha-céus. Oportunidade única."

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"Restaurante “A Gamela” oferece espaço para encontros e casóiros. Recebemos filhas de construtores civis para casar com filhos de autarcas e grandes senhores da região. Sigilo completo, azeitonas à descrição."

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"Empreiteiro, homem sério, derruba todo o tipo de casas, postes, pontes, árvores, barracas, tudo. Derrubo tudo o que tiver de pé e faço o entulho desaparecer. Bom preço."

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"Excursões de tractor agrícola, a passar rente a terrenos e propriedades pra olserbar. Viaiges só pra construtores. Conheço meio mundo e tá tudo à benda. Contacto: Armando do Tractor."

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"Sou o Toino Cimentício, bendo batoneiras de todos os tamanhos pra fazer cimento. Grandes, muito grandes e de tamanho parbo. Bom negóiço. Vendo tamém grabilha à carrada."

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"Compadre de autarca (e amigo de vereadores) oferece influência para alterar o P.D.M. Só para construtores civis à escala de Hong Kong ou Nova Iorque. Assunto sério e transparente."
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"Era pra dzer aqui, que nã bendo o meu terreno a ninguém, por dinheiro nhum. Tou bem adonde tou, gosto da nha casita, do meu pombal e a nha horta ninguém ma tira. Nã quero binder nada a ninguém e pronto. Jquim da Horta."

E é com estes anúncios, espatados nos placares, que ficou feita a nossa reportaige.

* Se alguém encontrar por i um home feito parbo com uma asa na mão, digam pra contactar a FLC.

17.1.08

Airoporto pra quê

A Rádio Antena Caramela, a pedido a FLC, foi prá rua fazer intrebistas à população, pra saber se afinal quer ou não quer o airoporto aqui no nosso territóiro.

1ª Intrebista a Xico Electrocutado que tava a apanhar ovos de cegonha num poste de alta tensão em Rio Frio.

Rádio Antena Caramela: Boa tarde, desça lá aí do poste e diga lá aqui ó microfone o que é que acha do novo aeroporto na caramelândia?
Xico E. – Hã?!!
R.A.C. – Diga lá o que é qu…
Xico – Digo pois. Digo que nã quero cá abiões aqui a zunir ós meus óbidos. A araige caramela foi feita prá passaraige, prós pombos, prás cigonhas e prás nubens.
R.A.C. – Quer dizer então que está contra o aeroporto?
Xico – Hã?!!
R.A.C.- Quer dizer então qu…
Xico – Prás moscas tamém, prás abelhas, e prá passaraige im giral. Abiões? Eles que bánham zunir lá prá terra deles.
R.A.C. - Quer dizer então que está contra o aeroporto?
Xico – Hã?!!
R.A.C.- Quer dizer então qu…
Xico – Airoporto? Ninguém disse que tava contra o airoporto? Obiu a mim dzer que taba contra o airoporto?
R.A.C. – Não.
XIco- Atão porque é que tá praí a dzer que eu tou contra o airoporto? Hã?...
R.A.C. – Bem, como estava a dizer que…
Xico – Hã?!!
R.A.C .– Como estava a dizer qu…
Xico – O que eu disse é que nã quero cá os abiões armados im papo-secos a aboar aqui por cima da cabeça. São logo corridos à padrada.
R.A.C. – Mas não acha que o aeroporto vem melhorar a nação Caramela?
Xico – Hã?!!
R.A.C. – Não acha qu…
Xico – Eu nã disse isso.
R.A.C. - …
Xico – O que eu disse é que aicho o airoporto de grande importâiça prá nossa nação. E já debia tar feito. É um grande abanço aqui prá bizinhança e arredores.
R.A.C. – Nesse caso é a favor do aeroorto?
Xico – Hã?!!
R.A.C. – Nesse caso é a..
Xico – Pois é ebidente que sim! Eu já disse ali no clube e bolto a dzer aqui: já tenho guardado um granda galo pra oferecer à maltezaria do airoporto. Mas só quando aquilo tiber acabado, antes disso não o papam.
R.A.C. – Não percebo! Bocemecê é a favor do aeroporto mas os aviões …
Xico – Hã?!!!
R.A.C. – Quer dizer que é a favor do …
Xico – O airoporto é uma coisa, abiões é outra. Nã bê a diferença, ó quê?
R.A.C. - …
Xico – Hã?!!
R.A.C. - …
Xico – Não é a mesma coisa! Sabe o que é a mesma coisa?
R.A.C. – Não.
Xico - A mesma coisa é bocemecê meter os dois dedos no cu, ópois cheira um e cheira outro, e é a mesma coisa. Isso é que é a mesma coisa. Agora airoporto não é a mesma coisa. Abiões é que é outra coisa. Certo?
R.A.C. – Certo.
Xico – Hã?!!!
R.A.C. – Certo, pois.
Xico – O airoporto é bom pró dimbolbimento da Caramelândia pois a malezaria pode ir lá passear aos domingos. O Marcado do Pinhal Novo bai ocupar a pista toda e bai ser o maior Marcado minsal do mundo. As lojas bão binder binho e até podemos fazer tiro ós pratos. Podemos fazer corridas de Zundápes contra Lambretas amais uma partidinha de futebol. Atão nã é bom?
R.A.C. – E os aviões?
Xico – Hã?!!!
R.A.C. – E os …
Xico – Lá tá bocemecê com os abiões! Os abiões que bánham lá prá terra deles. Já disse. É o que eu penso e agora bá chatiar outro.


Não percam as próximas entrevistas pra saber o que querem os caramelos do aeroporto.

15.1.08

A FLC ao serviço do povo caramelo

Unidade Móvel de desemparbalhamento popular


A FLC em colaboração com o Ministério dos Assuntos Sociais Caramelos, vai disponibilizar à população caramela a primeira unidade móvel de desemparbalhamento popular.
Este serviço consistirá numa toyota Dina de caixa aberta, especialmente quitada e adaptada (um agradecimento aos firminos do ferro) que circulará pelas planícies da caramelândia distribuindo informação e respondendo às mais diversas dúbidas do bom povo caramelo. Em funcionamento desde o dia 1 de Janeiro, tem sido um sucesso e uma ajuda permanente no quotidiano brabio e rude do home e da mulher da nossa zona.
Com uma equipa de duas pessoas, o chófer Albino Pezudo e o ajudante-especialista-em-tudo Estanislau Bombista (primo do Celestino Bombista, responsável pelo comité olímpico caramelo), têm ajudado “em um pouco de tudo, por exemplo quais são as nobidades e os saldos na Loja do Toino Brinca, na capital, ó atão por bezes as pessoas tambim querem saber quem andou à punhada no ultimo marcado”.
Alguns também consideram este serviço um verdadeiro apoio à agrícola local, pois também é frequente perguntas em relação à brabeza (intensidade) da geada, como tratar das autorizações para vender na reforma agrária, ó quanto ao aproveitamento do oile da motorizada para combater o míldio da ingrícula. Por vezes, fazem também serbiços de intrega ao domicílio de produtos que só existem na capital e que dificilmente chegariam a certos locais do país caramelo e até já chegaram a lebar canzoada à bacina da câmara. Por tudo isto, “quando bemos a toyota Dina abançar ao longe, eu amais o mê Juile damos pulos de alegria, e ele por bezes até bai buscar a caçadera e dá uns tiros pó ar. Ódepois, bem todos bê-los e até os inchemos de intulho com as nossas parguntas”, referiu Zulmira Pombalistica, moradora da Palhota.
O resultado esse tá à óbista (óbidos mais bista) de todos: “acho ca gente se sintimos menos aparbalhados, um bim haja a esses homes e à FLC”, referiram algumas das pessoas por onde passámos, à boleia do serbiço móvel de desinparbalhamento popular.

7.1.08

UNESCO prepara-se para incluir a cultura caramela na lista das culturas a defender e preservar no mundo

A cultura caramela prepara-se para ser reconhecida internacionalmente, passando a fazer parte da lista dos povos minoritários, reconhecidos pela UNESCO devido à sua história, cultura e importância na diversidade cultural humana.
Para tal, após visita secreta de António Guterres - Alto comissário das Nações Unidas para os refugiados- à Caramelândia, basta apenas que seja enviada alguns livros e cd's em idioma caramelo*, para que a existência deste idioma seja comprovado junto de algumas entidades. António Guterres, andou camuflado de vendedor da reforma agrária, tendo adquirido toda a indumentária necessária para tal na Loja do Toino Brinca. A FLC cedeu-lhe uma motorizada Famel com chófer e “três jerricans de gasólio para circular à buntade pela nossa bela nação. Cuidim bem do home!”, disse Jerónimo Açaimado, actual ministro dos assuntos estrangeiros da caramelândia. Toino Guterres visitou a Reforma Agrária, o mercado mensal, a loja do Toino Brinca, e todas as povoações à volta da capital, bem como as instalações secretas da FLC.
Ficou maravilhado com o que viu e disse (em conferência de imprensa semi-secreta na Palhota, no café O Pôr do Sol Caramelo) sentir-se envergonhado por ainda não ter tomado nenhuma medida protectora em relação a este “povo nobre e de grande orgulho identitário”, ao qual alguns dos presentes responderam: “bócês quando são prasidentes tên na maniazinha que são párbos, mas aqui ca gente comem mas ei merda de porco caramelo!”.
No final, o alto comissário, teve ainda tempo para trocar palavras com o mais destacado pensador em língua caramela da actualidade, Toino das Ideias Parbas, o qual o impressionou bastante pela “agudeza e contemporaneidade límpida do pensamento verbal”. Após Guterres ter proferido estas palavras, Toino das Ideias Parbas julgou que o home o taba a insultar e quis jogar-se a ele segurando no gargalo de uma mine, que havia partido no balcão do café. Este triste incidente foi rapidamente abafado e após explicações, saíram todos com um sorriso nos quechos. A visita terminou com uma passagem-almoço pela Atalaia, onde Guterres teve oportunidade de ser brindado com uma grandiosa foguetaige rija, organizada pelos Círios, caté andou parbo. Teve também a honra de ser considerado cidadão honorário da Atalaia, lançando um mortero de cima de uma carrinha de caixa aberta, com um cigarrinho acesso ao canto da boca, enquanto a equipa do Talau musicava o momento.
Resumindo, “epá, achamos que o home foi maravilhado cum a nossa cultura, inda lebou umas garrafas de tinto do Cajó e uns quejos do Ti Chico Obelhero e amais umas nabalhitas, daquelas que eram bendidadas na cantina da antiga estação da C.P. Bamos esparar agora que os homes digam qualquer coisa, pa isto ir pá frente, senão organizamos uma excursão i bamos lá ter cum eles a uma terra chamada Bruxelas, comás cobes”, referiu Jerónimo Açaimado, visivelmente eufórico e embebido em médias na Sede da Palhota, já a noite caramela ia mais alta que o depósito da água da estação.
A FLC apoia O POVO CARAMELO e a sua luta pela AUTODETERMINAÇÃO.

*O livro seleccionado para representar a nossa cultura será "Poesia com chispes de Luz" de Ti Balbina Acorada e o cd será "Talau e seus Muchachos" dos Círios da Carregueira.