30.1.09

Notícias Breves da Caramelândia

-Formação “O Tinto Caramelo éi do Malhor que há!”

Dias 7 e 14 de Fevereiro no Café Lua Cheia Aparbalhada.
Formador: Atoino do Grau (Presidente da Associação Caramela das Bubaderas Festivas)
Inscrição livre (só é praçiso almoçar lá e ódepois da parte da tarde fazer despesa cunsiderábél ó balcão do café).

- Novo Programa “Ser caramelo desde gaiato”
Organização A.M.C. (Associação dos Moradores da Caramelândia)

Bai iniciar já amanhã este balente programa, o qual bai permitir a centenas de gaiatos das escolas primárias de todos os lados, uma bisita-biaige por alguns locais emblemáticos da cultura caramela.
De acordo com Balbuína Gerôndia (presidente da A.M.C.): "o objectivo deste projecto éi que exista um desimparbalhamento dos gaiatos e apostar numa caramelice precoce. Os gaiatos têm de dixar de ber parboíces na telebisão e irem mas éi ós ninhos e ó banho à Chaboca!".

Para amanhã (dia 31) o programa éi o seguinte:

Bisita-biaige à Raforma Agráira, ber os legumes e cunbersar com os homes e mulheres sobre a agricultura caramela;
Ida à Loja do António Brinca, ber o que há de mais actual na moda caramela;
Cortar o cabelo no Albarinho;
Pedir sacos de plástico na Cunpratiba
(pa lebar o lanche pá escola);
Bisita à Loja do Gil das Farinhas;
Imburcar uma Sumol de laranja (de pénalte) e uma intarmiada no Café Capuchinho.


Inscrição gratuita, bão todos até caberem.
A organização mandou dzer que nã sabe se o Julinho do Intulho pode lá tar com a sua fragnete. Se tiber, podem bir mais gaiatos ainda!

Este programa tem o apoio da Creche “O Gaiato Parbo” e do Balentim Desidratado, presidente do Forninho (bai emprestar uma charrete a motor “pa lebar a galfarraige míuda”).

- Prémio para a luta caramela

A FLC foi premiada com um prémio nã sei quê dos Dardos, prémio balente, atríbuido pelo Chapa Bloguite, que se aceita pelos seguintes motibos (pelo menos éi o que os homes do prémio dizem da gente): " o Prémio Dardos raconhece o balor que cada blogueiro (quem?!!) imprega ao transmitir balores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, im suma, damonstram a sua criatibidade através do pinsamento bibo que está e permanece intacto entre as suas letras, entre as suas palabras. Esses selos foram criados com a intenção de promober o cúnbíbio entre os blogueiros (quem?!!), uma forma de demunstrar carinho e reconhecimento por um trabalho de lavoura agrário-cultural (a laboura acrascentámos nós) que agregue (dê, cunfira) balor à rede (a rede das cunbersas de bócês mais a gente).*"
Só por isto, no dia 31 de Janeiro, o Celestino Bombista já disse que bai lançar três morteros dos mais rijos que os Círios tiberem. A gente agrade e promete cuntinuar a garreia pela cultura e identidade do povo caramelo.

*O discurso foi traduzido pa um melhor intendimento-absorção do público caramelo.

25.1.09

FLC ABRE GABINETE DE ATENDIMENTO AO PÚBLICO


A FLC, instituição de utilidade pública, abriu um gabinete de atendimento ao público para resolver em tempo real todo o tipo de problemas de índole caramela. O problema de cada um, é resolbido na hora e nã é deixado para amanhã. O gabinete é 100% clandestino e, para que nem as Juntas de Freguesia da Nação Caramela possam saber adonde a gente exerce esta actibidade (e daí tirarem proveito eleitoral), o gabinete foi escondido dentro duma rulote das farturas devidamente equipado pró enfeite. Este beículo (inspirado da rulote das bacinas da canzoada), está sempre em movimento por esses aceiros afora, por isso quem quiser uma consulta tem que escreber práqui e a gente, por pombo-correio, combina secretamente o sítio e a hora de encontro. Como as consultas são grabadas e executadas no momento, fica aqui o registo duma delas a servir de exemplo de sucesso desta iniciatiba.


Consulta


- Intão boa tarde. Já pode tirar a alcofa da cabeça, porque já tamos im marcha e cá dentro tamos im segurança. – diz o técnico de assuntos caramelos, e continua: – Assente-se aí nessa saca de carbão que eu assento-me aqui im cima desta grade de mines. Atão diga lá o que é que tem, cagente resolbe já aqui.
- Sabe… é que eu moro há cinco anos no bairro da Salgueirinha mas não percebo nada da cultura caramela e de há uns meses para cá tenho notado que as pessoas me andam a chamar «acleimado». O acleimado prá qui, o acleimado prá li!!! Afinal o que é um acleimado? E como é que deixo de ser acleimado.
- Oh meu repaz, bocemecê tem mesmo um granda problema. Pior que acleimado só mesmo «pandelero». Fique sabendo que «acleimado» é o contrário de «home brabio».
- Assim como?
- É um home sim cultura nhuma, na sabe o que quer, nim quer o que sabe, nã tem pindéria nhuma e está sempre remelgado cum cara de parbo.
- Não sabe o que...!!!
- Ora por exemples, bocê sabe abrir uma mine com o isqueiro, assim? – e exemplifica.
- Eu não uso isqueiro, não fumo.
- Eu nã perguntei se fumava. Sabe ou nã sabe?
- Não.
- Intão bocê é um acleimado. Tome lá aqui um isqueiro e uma mine e tá já a praticar, vá.
- Mas posso-me queimar.
- Atão nã bê que esse isqueiro é da Corigues e já nã tem gás e nem faz faísca. Quem se queimou com ele já nã se queima mais.
- Ahhh.
- Agora diga lá a mim… bocê gosta mais de fazer tiro de flober ou prefere aspirar o carro.
- Bem… gosto mais de aspirar o carro.
- Porra, mas de bez im quando vai um tirinho de flober nas molas da roupa da bizinha, ou não?
- Náááá, isso não.
- E um tirinho nas nalgas da gataige vadia? Bá lá, diga a berdade.
- Ahhhggg também não.
- Nem arrãzaria nos charcos?
- Também não.
- MAU. Nã ma diga que nunca atirou de flober?
- Não!
- Eh pá, bocê é mesmo pocachinho e tem mesmo um problema séiro. Bocê nã é daqui! Mas a gente resolbe isso. Tá aqui esta flober e agora abra bem os olhos e olserbe. – Ele tira uma mãchinha de chumbos duma lata, mete eles na boca, ópois, com uma pancada seca abre a flober, tira um chumbinho da ponta da língua e infia ele no cano, ópois comenta – Este até bai lembido com cuspo e tudo. – e crava um tiro no meio dum tacho pindurado, e diz – Agora é a sua bez de espatar um tiro no tacho.
- Eu não sou de armas, e além disso ainda não consegui abrir a cerveja.
- Porra, despache lá isso. É por isso é que bocê é um acleimadito.
O home consegue finalmente abrir a mine, esguinchando-lhe espuma prás fuças. O técnico diz:
– Eh eh eh! Com essa espuma toda pu focinho bocê até podia fazer a barba. Já agora diga lá, como é que bocê faz a barba?
- Faço com água morna!
- Carago!!! Cum áuga morna?!!! MORNA??!!... Bocê é mesmo um acleimadinho de estufa, ponha mazé já uma bacia d’áuga a apanhar geada, e a partir de amanhã fazer a barba com a áuga coalhada de gelo, hã?
- Sim.
- Diga a mim mais uma coisa que me anda a roer o sintido: bocê diz tudo à sua maria?
- Sim, quando ela me pergunta eu digo.
- Mas diz mesmo tudo, tudo, tudo?
- Sim.
- Mesmo se bocê fosse à Cela, ou à Sorte no Azar amais uns amigos, chibava-se a ela quem eram os outros homes que foram amais bocê, e outros homes escundidos na penumbra que biu a buer champanhe, e isso tudo?
- Sim.
- A esburgar-se assim, bocê é o rei dos acleimados. Nem o padre o quer na igreja cum medo de bocê se mijar pas pernas abaixo e salpicar os joanetes às beatas. Agarra mazé já aqui na flober e tá já a apontar pró tacho, já.
- Sim, estou.
- Espeta já um tiro nele, já.
Ouve-se o disparo e o tacho a abanar.
ACERTEI!!!
- Porra. Agora diga-me uma coisa, bocê tá sempre com esse sorriso parbo ou é só bontade minha de lhe dar uma punhada?
"

A consulta continuou até ao ponto do técnico da FLC ter desacleimado por cumpleto a criatura. Fez dele um home brabio. Sabemos hoije que ele sente-se com muita balentia e quer ir prós forcados do Pinhal Nobo. Mais um home salvo, mais uma missão cumprida em defesa da nossa cultura e bons costumes.

Dicionário caramelo:
acleimado
derivado de “atoleimado”: home parbo, poucachinho que na sabe fazer nada e habitua-se àquilo que a agente quiser.

20.1.09

Biagens pela Caramelândia
Palhota. Escola Primária. Meio da manhã. O sol caramelo aquece as poças de auga fria, onde alguns porcos chapinham. Os gaiatos brincam e palreiam no pátio. É o intervalo do aprender, onde se aprende as coisas selbagens do ser. No alpendre, duas mulheres braçudas e orgulhosas, vestidas à moda Toino Brinca, observam o gado pequeno, duma ponta à outra do correr. Três pássaros no telhado a olhar para o longe. É grande a caramelândia, mesmo a voar. Na rua passa uma famel a todo o gás, debe ir direita à sede, o home bai buer a primeira mine da manhã. Enrejar a brabeza dá saúde e faz rejeza (diz a boca dos velhos na Palhota). Agora fora da escola. As bozes dos gaiatos mais baixas, rés-do-chão, casa típica caramela. As mulheres chamam o gado brabio, “benham pa dentro, a professora já introu!”. Boa voz para o rancho da Palhota, devem andar lá, amanhã há ensaio, não se esqueçam. O porco adormeceu na poça. Focinho de fora. Parece um crocodilo. Crocodilo-caramelo a grunhir de felicidade. Do outro lado da rua. Calma da manhã. Mercearia da Ti Zulmira dos Pitromaxs. Bende tudo. E mais alguma coisa. “É só dzer”, diz ela. Há diálogo. Há tempo. Há freguesas. Depois é o almoço. Talvez chispes ou dobrada. O home hoje debe de bir a casa. Há diálogo im boz alta, os sacos dos abios, repousam no chão:
-éi
-nã éi!
-éi!
-nã éi!
-o mê gaiato disse que éi!
-e tu acraditas no gaiato?!!
-atão o gaiato éi esperto!
- éi parbo!
-éi esperto!
-éi parbo!
-a terra éi radonda!
-tás parba?!!
-e anda à bolta do sol!
-comós carroseis?!
-sim!
-atão a terra éi um carrosel?!!!
-mais ó menos…
-e éi radonda como uma laranja?
-mais ó menos…
-atão, éi ó nã éi? Primero dizes que sim, ódepois já nã éi?!!
-tu éi que tás a dzer isso…
-eu?!!debes tár párba!
-párba és tu!
-és tu, amais as ideias parbas do tê gaiato!
-tá calada, bê lá mas éi!
-o quéi?
-tás parba, ó quéi?
-ai éis?
-quem?
-eu, secalhar, nã queres tu bêr!
-bái mas éi ber se ê tou no marcado do Pinhal Nobo, a cumprar çaroulas ós ciganos!
-bai mais éi tu ber se ê tou a cumprar rabuçados pá tosse na raforma agráira.
(…)
-éi radonda e anda à bolta do sol!
-e eu sou neta do Zei Maria dos Santos!
- bai mas éi chafurdar na lama amais os porcos
-olha, bai mas éi à merda!
-éi!
-na éi!
E por aí fora, nos aceros da língua em inxovalho crescente, mas sadio. Pelo menos intartãe, diz a Ti Zulmira dos Pitromaxs. Já há mais gente na mercearia. À bolta delas. Oubem cum atinção. Ao longe, o toque do mí-dia. O home já debe ter chegado a casa. Nim almoço, nim mulher. Bai haver punhada e garreia lá im casa.

-éi!
-nã éi!
(…)

14.1.09

O Obama éi ó não caramelo?
(3ª parte, continuação e final)

Se bem se lembram, tábamos a ber se o futuro presidente dos estados unidos é ou não caramelo (ver notícias anteriores), o que no actual momento da cunjuntura locálóglobal nos parece de importância nada aparbalhada e merecedor de um atento olhar caramelo.
Tábamos atão aqui, a ber se nã se perdem “(…) da sua peregrinação ebangelizadora”... Mas tenham calma, e apreguem nobamente os óculos de ber ó perto, porque há mais para dizer: junto aos papeis antigos, lá na sede do rancho, bem no fundo de um tacho, ainda agarrados a um bocado de toicinho já com mais de cem anos, descobriram umas cartas do Eucaristia, onde se pode ler (o historiador entregou-nos as cartas e nós lemos dentro do esconderijo à luz do pitromax clandestino) que o home naquela altura estava no Quénia (fomos ao marcado cumpar um mapa mundo – para ber aquele mundo que fica para lá da Caramelândia- para saber onde éi que isso ficaba, e cuncluimos que éi mais longe do que do Lau à Palhota, só ao pé-coxinho com botas caneleras num dia de naboero) e que o home pinsaba ficar por lá, porque habia belas planícies onde o gado caramelo por ele lebado podia pastar à buntade de forma selbaige, e muitos dos ebangelizados lá da zona já só queriam comer coirataige e buer um preparado de cevada em pequenas gamelas, a bebida-abó da actual mine.
Agora prestem bem atenção, éi o nosso historiador que bai falar: “(…) ora aposto e ateimo que o Fulgêncio deve ter ficado por lá, por uma aldeia qualquer e vivido até ao fim dos seus dias como um rei, com um rebanho de várias mulheres e sempre de pandulho cheio. Descobri nas minhas pricuras, que este home também era conhecido por Fulgêncio Cobridor ou o Cobre-tudo, porque dizem que marchaba tudo o que apanhaba pelo caminho de ir e bir a África, até a bicheza brabia, (dizem que tebe mais de cem filhos). Tenho aquase a çarteza, de que actualmente este home éi cunsiderado uma espécie de santo protector dos descendentes da tribo que o acolheu, sendo adorado como uma espécie de deus, alguém com poderes dibinamente especiais. E éi aqui que a porca grunhe à parba, porque muito provavelmente (ó atão ê cá dedicaba-me á bindima e dexaba de cuntar histórias) um destes cem filhos do Fulgêncio Cobridor terá sido, bejam bócês bem, as coisas quê descubro, primo do tio-avô da abó do futuro presidente dos E.U.A, e todos sabem que esta abó do home-presidente ainda bibe lá, naquelas aldeias. Tenho probas do que digo e nã tenho medo das mostrar, até bou à Junta de Freguesia da Capital, se lá me quiserem óbir, cas orelhas bem destapadas, eles que benham lá com as kodaks do Zéi Maria dos Santos, que a mim nã calam os beiços!”.
Após analisar bem todas estas provas, a FLC decidiu reunir algumas das mais altas indivudualidades da caramelândia, para num debate-garreia, bermos se esta ideia tinha algum trambelho. A reunião foi no Café América, na Carreguera, e tiberam lá, entre outros, Zimbão Cornadura, Ti Balbina Acocorada, Toino das Ideias Parbas, Celestino Bombista, Albino dos Ácaros e o Ti Atoino da Beiça Larga. Ficou decido que sim senhor, a ideia tem trambelho e que duas coisas são importantes:urge ir a África, ber se a tal aldeia ainda existe e se o Ebangelista Cobridor ainda lá tal, imbalsamado, “tipo im estátua”, como referiu o Albino dos Ácaros, antes de dizer que a sua carrinha está à disposição de uma comitiva que queira fazer a mesma biaige, que o ebangelista fazia: “bou já pôr os bancos corridos e ber quanto pitróile éi que se gasta daqui a lá”. A outra coisa importante foi aquase só dita pelo Toino das Ideias Parbas (o Zimbão Cornadura abanou três bezes a cabeça pra cima e pra baixo e fez hum-hum), é que ódepois da comitiba boltar de África, “debia-se de arranjar manera de dezer ó Óbama que ele é descendente do pobo caramelo e que de agora im diante (aqui o Toino das ideias Parbas, imbalado por grade e meia de mines, emocionou-se e lebantou-se de péi em cima duma cadera) debe-se de portar como um dos nossos, de porte altibo, orgulhoso da sua história e identidade ancestral, e punderar uma bisita à gente, ba ber como se bibe na nação dos seus antepassados!. Lebanto a nha mine im nome da caramelândia”, e aqui todos fizeram um brinde, o Celestino Bombista foi buscar foguetaige rija e ficou cumbinado que bão tratar dos preparatibos da biaige a África e de incuntar manera de falar com o presidente da América. No final, o Zimbão Cornadura, na sua sabedoria esotérico-rural, lembrou a todos (acalmando a euforia que ia desimbocando num ensaio da punhada com alguns dos habituais frequentadores do Café América, pouco habituados a óbirem outras bozes a falarim mais alto do que as suas) que "se esse home-Obama quer ser dos nossos, primero debe de dar probas da sua caramelidade, porque ninguém éi caramelo, só porque uns papeis intigos, o probam, um caramelo ó éi ó nã éi!", tendo saído em braços e sob fortes aplausos de todos os prasentes no café América!