25.8.09

Cá está o Nidberto da Cramalheira amais a Ti Juila Espezinhada, os dois assintados na Paraige das Caminetas. O Nidberto pinsaba que quem taba a tirar a kodak eram homes do Jornal do Pinhal Nobo e por isso tapou a dintadura. A Ti Juila tába na hora d'almoço, a aprobeitar pa cozer umas ciroulas antes d'ir abrir a Marcearia .

23.8.09

Grande entrebista de verão (parte II)
Ora atão bamos cuntinuar a entrebista ao Nidberto da Cramalheira!
"(...) Podem botar também na nossa cunbersa que os homes do Ministério Caramelo da Educação debiam de pricurar professores mais caramelos do que alguns que por aí bejo, que insinassem ao gado míudo o que éi ser caramelo, o quéi a nossa cultura. Bejam que atéi eu que só tenho a 2ª classe sei qual éi a nossa capital, nã sadmite isso a um home-professor, que eu atéi os raspeito muito”.
Dito isto (já íamos na quinta grade de médias), o Nidberto da Cramalheira foi direito ao assunto, prestem bem atenção agora, que ele bai falar mesmo rápido:”atão a nha neta beio de lá de Lisboa a dzer que biu as estrelas dentro de uma casa que lá o céu éi lindo como nunca tinha bisto eu parguntei-lhe se taba parba se foi lá de dia de dia nã há estrelas ela disse que não dentro da tal casa taba de noite eu disse tás parba e dei-lhe uma balente galheta nos quexos ela atei andou pú chão ficou a chorar e foi dizer à mãe a mãe dela (nha filha, Anacleta Imborcatiba) disse ó marido (ao Alcindo Escabador) e ele beio parguntar o quéi-que se passou eu disse que a gaiata tá parba ele disse-me párbo tá bócê ainda nos ingalfanhámos à punhada na rua os dois a rabolar por cima do intulho pós porcos bofatada e pontapéi a coisa acalmou ele foi à bida dele e eu á minha e eu ódepois atéi tibe pena da gaiata (aqui parou pa puxar ar e surbia pa dentro do corpo-vasilhame e arrincou outra bez o relato). Pus-me a pinsar fui à colectibidade pinsei a tarde toda e disse: atão ela aicha que lá as estrelas eí que são bonitas pois bai ber as nossas mais dó-pé tão perto que atei a bão incandiar e bai ber que as estrelas no céu da caramelândia éi que são as más lindas do mundo. Já tenho um plano (aqui abançámos pá sexta grade, esta taba na parte de trás da paraige, debaixo de umas silvas) falei com o Babuíno Aluado (inventor caramelo, também já entrevistado pela FLC), ele bai-me ajudar na ideia e agora só éi praciso dinheiro. Por isso tibe a ideia de leiloar a minha cramalheira de ouro puro que tantos inbejam e que bale uma furtuna. Fico sim dentes, mas com dinheiro para inbestir. Olhos de Áuga há de ter o primeiro olserbador da estrelaria de toda a caramelândia, e a nha neta bai ser a dona-gerente-utilizadora do estáminé, bai ser a nha herança par ela” (os olhos brilham pela primeira vez mais do que os dentes, as médias imborcam-se como caracóis com pão cum manteiga).
A conbersa bai longa. No horizonte da paraige, o sol caramelo começa a dar as últimas labaredas. Por aqui diz-se que são os raios do horizonte abaladiço. Normalmente é o pretexto para a(s) última(s) abaladiça(s) dos homes da terra, reunidos em pequenos grupos na Colectibidade e às vezes à porta da mercearia da Ti Juila Espezinhada. Também o Nelo nos diz:”bamos atão à abaladiça?” e saca de mais uma grade de médias (já bão 8 a dibidir por três homes). Antes de arrancar para mais uma parte da história, limpa a garganta e as vias nazais, fazendo sair da boca uma bela lasca de cor esverdeada e formato ligeiramente arredondado, a qual o canito sempre atento nem deixou cair no chão. Olhou orgulhoso pó canito e disse: “atão bou contar o resto, já éi de noite, mas tá agradábel, gosto de conbersar ao ralento selbaige da nha terra.
Atão oiçam agora, éi ingraçado! Erámos gaiatos (os olhos brilham novamente), róbava-mos açúcre na mercearia da Ti Juila Espezinhada...
(cuntinua).

17.8.09

Grande entrevista de Verão

Entrevistas a homes e mulheres de referência na grei caramela, que muitas vezes passam do anonimato às bocas do povo, simplesmente porque o marecem.
É este o caso do nosso actual entrebistado, um home crú, orgulhoso das suas raízes, um home em contínua transformação, um alquimista, capaz de transformar o ouro em estrelas…

Mais uma vez a FLC em grande entrevista. Fomos ao taparuer escondido atrás do frigorifico do nosso esconderijo actual e de lá retirámos o suficiente para atestar o depósito da motorizada de serviço e mais algum para umas mines, caso a entrebista para aí se albergasse. Almoçámos bem. Um balente arroto em uníssono (quanto mais alto e prolongado maior a satisfação digestiba) marcou o arranque da máquina a motor e consequentemente da biaige direitos ao nosso entrebistado. O esconderijo ficou para trás, o destino agora é outro: Olhos de Água, terra aberta ao sol e à heróica brabeza dos seus habitantes.
O encontro foi marcado na paraige dos autocarros. Abistamo-la lá ao longe, o sol a bater na sua chaparia como um maço no escopo de um padreiro experiente. Estacionámos em derrapaige diagonal. O nosso home já lá está. Pernas estendidas e cruzadas, está entratido a cortar as unhas das mãos com uma tesoura de podar. Sorri quando percebe que a FLC chegou. Está em contra-luz e gosta de mostrar os dentes, a sua cramalheira quase que nos ofusca a bisão. Aninhamo-nos os três no banco corrido da paraige. A esta hora não há ainda ninguém, aqui só passa uma fragnete-colectiba-a-motor uma bez por dia, podemos cunbersar à buntade, estamos em território amigo, ter os Olhos de Áuga éi aquase tão refrescante como uma melancia nas primeiras hora da matinal Raforma Agrária.
Prestem bem atenção agora: o nosso home beio ao mundo com o nome de Albertino Nidberto dos Nicolaus. “esse nome éi pa esquecer, puta cu pariu!”, diz-nos mostrando que a partir dali só o debemos tratar por Nidberto da Cramalheira Doirada, “Berto da Cramalhera para os amigos”.
O Bertoéi aquase sozinho o tema de cunbersa das sedes e colectibidades da nossa caramelândia, neste berão. Do Lau ao Forninho, das Lagameças ao Rio Frio, dos Arraiados à Lagoa da Palha não há quem ainda nã tenha óbido falar dele. Motivo: o leilão que ele tebe na ideia de fazer, prometendo a sua cramalheira em troca de dinheiro, ou seja quem der mais leba a dintadura com nada mais nada menos do que 8 dentes d’ouro, “d’ourinho balente cumprado na capital, na óribesaria do Morais, só os corta-palhas da frente reluzem tanto que às bezes a nha pariga atei tem que pôr os óculos de soldar, pa falar comigo, quando o sol tá malino como hoje. Posso também garantir que nunca os labo, só beêm um palito de tempos a tempo, pa escarafunchar o conduto maior, de modo que o ourinho tá lá todo, nim oxida nim nada”, diz ele com orgulho, abrindo a boca e batendo com os quatro dentes de cima nos quatro dentes de baixo, fazendo um som estilo ferrinhos do rancho. Perguntamos-lhe por que os quer vender, quando está à vista que a sua cramalheira é a sua cara. Responde-nos que a história éi longa, mas se quisermos óbir ele pode cuntar, hoje já na tem mais nada pa fazer, talvez ainda andar à padrada com mais dois ou três amigos mas isso são outras histórias, “um home tamém tem direito a dibertir-se”afirma batendo repetidamente com as costas na chaparia e rindo-se com o corpo todo.
Ajeita-se na paraige, escolhe um local onde o sol lhe bata na cramalheira (bê-se que gosta de impressionar os outros com os dentes) e com um só movimento saca uma grade de médias debaixo do banco corrido, de onde retira três exemplares. Abre uma a uma com uma seca e certeira pração da carica contra a chapa mais rija da paraige. De médias bolta e meia cheias, bolta e meia bazias, começamos a oubir a explicação (um canito de raça coelhera aproxima-se e senta-se perto de nós intartido a roer os bocados maiores das unhas que ficaram no chão):” a minha filha, Anacleta Imborcativa, casada com o Alcindo Escabador, tem uma gaiata que anda na escola primáira. Uma bez fui buscá-la à escola de motorizada e disse-me que iam fazer uma bisita de estudo à capital, fiquei todo cuntente a pinsar que ela ia ao marcado, ou à cunpratiba ou ao Gil das Farinhas. Quando chegou da tal bisita, parguntei-lhe se tinham dados sacos da cumpratiba à gaiataige ó se tinha bisto a torre da estação, ela nã parcebeu a pargunta e disse que tinha ido a Lisboa a um sitio chamado planetaige ó planetairo, nã sei bem, e eu a pinsar que a capital para ela era o Pinhal Nobo, mas não, bi que na escola nã insinam grande coisa aos gaiatos. No dia seguinte, (inspirou fundo, cruzou as pernas e bebeu o resto da média de penalte, como que a buscar inspiração e memóira pá sua cunbersa, o canito rosnou, concentrado no seu petisco unhal, a roer ainda uns restos de conduto auricular a elas agarrado) fui à escola e pricurei o tal professor. Disse que só caria fazer uma pricura, caria parguntar qual era a nossa capital: ele raspondeu com um ar de quim sabe tudo: Lisboa! Eu infurecido só lhe disse: ai éi? Atãoi bócê na sabe que tamos na caramelândia e que a nossa capital éi o Pinhal Nobo?!!!. Nim o dixei rasponder, apraguei-me a ele e dei-lhe um tareão mesmo im frente aos gaiatos, dentro da sala de aula. No final parguntei-lhe ótra bez sobre a capital: ele lebantou o quexo e disse pinhal novo, ainda a gaguejar. Dei-lhe mais uma punhada, ele rabolou e só parou ao pé do quadro. Eu calmamente (nã sou home de me inerbar nem de biolências) disse: tá aquase certo, só que nã se diz novo diz-se no-bo".
Ódepois (agachou-se e puxou outra grade de médias debaixo do banco, serbiu-se e serbiu-nos, bebam, bebam repazes, aqui são os olhos d’áuga mas pó buxo só inturnamos surbia) birei-me pá gaiataige e disse: pórtim-se bem ó xabalada, e debaixo de uma chuba de palmas da galfaraige e das cuntínuas saí da escola".
A entrebista cuntínua, éi que senão fica muito grande pa bócês lerem tudo de uma bez e podem ficar imbaralhados cum tanta leitura. Bão mas éi buer umas mines, cu calor tá mais parbo que um papo-seco sim conduto.

3.8.09

Classificados Caramelos

Compre, venda, troque, ofereça, pricure

Edição especial de verão- só para coleccionadores

Compro naperons antigos, nobos e belhos (Nã é praciso tirar os naperons dos móbeis, bou a casa ber se bale a pena, a maior parte das bezes nim bale a pena gastar gasóile)
Contacto: Guilherme Jibóia (Lau)

Troco retroescavadora usada por placa da câmara com alvará municipal para vazar entulho. Contacto: Julinho do Entulho

Compro pentes de bolso e navalhas de podar a vinha.
Nota:os pentes têm de ser de plástico, tem que dar para pentear pós lados e pá frente com um só movimento).
Contacto:Mariano Maquinista (pinhal novo)

Vendo gravações áudio (cassetes pa óbir no rádio) com o som do
fogo rijo da festa da atalaia, anos 1991 e 1993.
Contacto: 9154356780 (Celestino Bombista)

Vendo cagatório à antiga portuguesa (estilo retrete de cócoras) já bastante usada, mas em muito bom estado. Só para coleccionadores. Oferta de dois esfregões palha de aço, uma escova de arame e meio jerrican de produto-criolina pa desincardir e dar brilho.
Contacto: Armanda Arganaça (sou a dona da mercearia Compra e Põe-te ao Fresco, nos Arraiados)

Vendo pedras da linha do antigo ramal pinhal novo-montijo ao kilo. São mesmo as originais. Boas para ornamentar qualquer coisa, ou para guardar no armário (cada bez bão balorizar mais). Motivo: já nã tenho espaço im casa.
Contactar o Alcindo dos carros de mão.

Troco motor de rega casero por Zundapp noba amais o capacete. Só aceito se for noba, o motor de rega éi balente, atei suga a áuga da bala da merda.
Contacto: Ti Marta Garganera (Palhota)

Troco o primeiro livro clandestino do Toino das Ideias Parbas “o Infinito éi um tractor agrícola”(edição fotocopiada às escondidas, na sede do Rancho da Lagoa da Palha, pelo próprio autor), por 6 ou 7 garrafas de Vinho da Cascalhera, do ano passado ou atão por 8 grades de médias. Perguntem pelo Quintino da Sapec no Café América.
Vendo sanita antiga (a única que lá deu serventia) do café Satélite, ainda com o assento e tampa original. Peça bastante valiosa (o home que beio abaliar a peça até disse: “se este cagatório falasse…”). Só aceito ofertas a partir de 100 mil réis.
Contactar o Ti Enxaugado.

Vendo cartazes antigos do cinema da SFUA.
Colecção muito boa, cartazes dos filmes do ET, Indiana Jones, Gelado de Limão, Conan, Bud Sepencer, e vários dos cóbois e índios. Quem comprar o conjunto ganha uma sacada de rabuçados bola de neve e três fichas triplas.
Contactar: Belarmino Pançudo (tou na Sela, ós domingos nas matines dançantes), faço bom preço.