25.9.09

Nobo libro de Toino das Ideias Parbas tá quase pronto


Não é uma notícia qualquer! Não é um home qualquer! Não são pinsamentos qualqueres! Não debe de ser um libro qualquer! No intanto, éi para qualquer um ler, pelo menos esta éi a opinião do seu autor.

Apresentamos aqui, de forma inédita, um excerto do 3º capítulo do novo livro do mais conceituado filósofo caramelo da actualidade:


3 homes à cunbersa na parte de fora de uma colectibidade im qualquer lado da caramelândia . Um banco corrido, duas motorizadas estacionadas, várias mines vazias, a tarde aquase noite.


- biram aquilo onte?

-bimos.

-óbiram?

-óbimos.

-o queira?

-nã sei.

-ê cá tamém na sei.

-atão mas nã biram?

-bimos

-Atão mas na óbiram?

-óbimos.

- e atão o queira?

- na sabemos.

-na sabem?!! Atão mas se biram e óbiram!

- sim, bimos é óbimos.

- ahhh, atão sabim!

- sabemos o quêi?

- que biram e óbiram.

- sim, sabemos.

- atão o quéira?

- na sei

-na sei.

- Tal tá a merda! Atão tão parbos? Dizem que sim e ódepois não?

-Tu éi quês parbo, sabemos que bimos e óbimos mas nã sabemos o que bimos e óbimos.

-ahhh, óbiram sem ber e biram sem óbir!

-mais ó menos isso, mas nim uma coisa, nim outra.

- atão mas éi possibél óbir sim ber e ber sim óbir, tudo ó mesmo tempo?

-nã sei

-nã sei.

-Mau, tal tá a porra da merda, hãin? Dizem que sim, sim dzer que não e que não, sim dzer que sim?!!

- Atão tar parado nã éi o mesmo que tár andar e tár andar nã éi o mesmo que tár parado?

- O quêi?!!!! (os otros dois em coro, ajuntados agora o que perguntava e um dos que dizia nã sei, agora juntos fazendo parguntas ao outro dos que primeiro respondia nã sei, agora sozinho e alvo das perguntas desintrambelhadas dos outros dois).

- sim, atão na dizem ca Terra anda á roda e ca gente anda sempre nela tipo carrossel?

-?!!!!!!!!??!!!!

(os otros dois em silêncio emparbalhado, a olhar para o outro já desconfiados e quase prontos para garrearem com as mãos fechadas, respondem)

- ái éi? atão se fosse assim, lá era praciso haber a feira de Maio e pôr os gaiatos nos carrósseis? E nim era praciso buer mines de litro pa ficarmos tontos, se essa ideia parba da terra andar à roda fosse de bardade.

- Tou a dzer, aprindi na escola.

-Tás parbo.

-não tou

-tás

-Nã tou

-tás!!!

-não tou, bócês éi que tão, nim sabem nadinha, nim metade do quê sei, nim merda nenhuma!

- queres andar à punhada ca gente, pã ber se a terra anda á roda ó seis tu que andas a rabolar pú chão?

-se quiserem, podim começar, bamos ber quim rabola ou quim arroja pú chão, comós sacos de batata noba!

(…)Negrito


Puderam atão ler um pequeno excerto do nobo libro do Toino das Ideias Parbas, mais precisamente do 3º capítulo, intitulado a Problemática da Ilusão dos Sentidos, onde o autor introduz a temática através de simples conversas quotidianas, aparentemente banais, mas segundo ele, “rapletas de conduto filosófico de lamber os beiços e chorar por mais”.

De realçar que o título do livro será (se entretanto o Toino não mudar de ideias) O Pensamento Filosófico dos Caramelos nos Diálogos Populares do Quotidiano do Dia a Dia Actual.

A FLC sabe que esta obra foi realizada só com base em “diálogos, cunbersas e debates-garreias” que o Toino durante dois anos, foi escutando por toda a caramelândia, a maior parte deles em Colectibidades, Sedes de Ranchos Folclóricos, Cafés e à porta de lojas e mercearias e que depois lhe serviram de base de estudo, colocando em prática pela primeira vez uma teoria há muito defendida por si: a de que todos os homes têm um filósofo inibido dentro de si e que muitas vezes esse filósofo só sai cá para fora a toque de mines e conbibio intra-caramelo tarde-noite (a)fora (teve uma bolsa do Ministério Caramelo da Cultura que lhe subsidiou as muitas rodadas que teve de pagar durante os dois anos de investigação).

Através dos diversos diálogos oubidos na Carreguera, Palhota, Fonte da Vaca, Forninho e por aí adiante, o nosso filósofo exercita-se com rara mestria e delicia-nos com vastas divagações sobre temas que lhe são caros desde sempre: o realismo campestró-colectibo- anti-latifundiário; os príncipios do pinsamento caramelo neo-contemporâneo, a dialéctica selvagem da punhada-recreativa, o homo meio-bidonistico, o pós-existêncialismo agro-pecuário, entre outros temas apaixonantes e de grande interesse para o público caramelo, mostrando um pensamento cada vez mais luminoso e intelectuo-encantatório.

Com os simples diálogos populares (que são sempre a introdução dos capítulos) o Toino quer provar que todos temos conversas filosóficas e que elas estão por toda a parte e que o homo-caramelus, mantém as mesmas dúvidas existenciais que os seus ancestrais antepassados.

Por ultimo, este novo livro também apresenta a sua nova área de estudo, complexa e simples ao mesmo tempo (um tema apaixonante, segundo Florindo Introspectibo, o autor do prefácio do livro), O Carrossel da Terra bersus os Carrósseis da feira de Maio, o qual versa sobre a teoria geocêntrica (éi a Terra c'anda!) e a teoria heliocêntrica (éi o Sol c'anda!), sobre “a ilusão dos sentidos-parbos” e a recusa natural de um pobo em não aceitar aquilo que não bê, um tema que o Toino das Ideias Parvas tinha há muito recalcado dentro de si, pois foi esta temática a razão dos primeiros tareões com cinto que o seu pai lhe deu, quando se apercebeu que o seu filho em vez de se dedicar às lides agrárias e ver se o motor de rega tába a trabalhar em condições, “só tinha ideias parbas e ficaba aquase inbalsamado, durante horas a olhar pó céu de noite, a ber se sintia a terra andar à roda”.

Um livro que a FLC recomenda totalmente (talvez o melhor livro já aqui apresentado até hoje), disponível a partir de Outubro no Marcado do Pinhal Nobo, nas sedes dos Ranchos Folclóricos, Juntas de Freguesias e nos circuitos clandestinos da cultura caramela.


A não perder, para ler e reler!

10.9.09

Grande entrevista (3ª e última parte)
(…) Eu era o mais guloso, era à colherada pó buxo, à ganância açucarada. Eu amais o Albanito do Solstício, o Vítor Agrário e o Florindo Paleólitico, inbentámos uma traçaige noba: comíamos coiratos que ficabam de um dia pó outro com açucre, rijos que nim chaparia mas docinhos cmó mel, era mais ó menos meio saco d’açucre por cada coirato, por isso hoje acho graça à bossa nobela, nunca perco um episóido dos Coiratos cum Açúcar ó lá o quéi! E ódepois (saiu a 10ª grade de médias, esta taba em cima da paraige) a nossa brincadera faborita, quando nã estábamos na época nem de armar ó bisgo nem da pesca nocturna-clandestina do Lagostim na Chaboca, era andar á padrada uns cus outros. Ora, uma coisa e outra, deram-me cabo da cramalheira, mais os insaios da padrada do que o açucre e quando fiz a tropa já só tinha três dentitos, dois deles quase a cair da boca abaixo. Nã me importaba, sempre cuntinuei a traçar coirato e costeleta de porco.
Ora bem, uma bez na Feira de Maio da capital, os homes dos carros de choque anunciaram no altifalante que o seu chefe (o que só bende fichas, na faz mais nada, ele é que manda) oferecia uma recompensa por quem lhe desse alguns dentes que lhe faltabam na sua cramalheira, o home caria traçar torresmos e torrão d’alicante e nã cunseguia. Eu, manhoso coma ciganaige do Marcado do Pinhal Nobo, tratei de pricurar o que eles dabam im troca: um dente de ouro, uma balente sacada de fichas amais andar num carro de choque artilhado sempre que quisesse. Nim pinsei duas bezes. Disse que oferecia os mês dentes todos (aqui inganeio-os, pois eles já nã eram muitos, só por causa disto, bamos buer atão a abaladiça!). Lebaram-me ó chefe lá na cabina, abri a boca, ele pôs uns óculos de ber ó perto, olserbou cá par dentro e disse: são mesmo esses que eu procurava!; já mos cariam arrancar logo ali com uma gazua de assentar o chão da pista, mas eu apanhei medo e disse que no outro dia lá estaria com os dentes.
Assim foi, fui ao Rui Ferrador logo ali ao lado e o home lá me arrancou o resto da cramalhera. Fiquei com fichas pó resto da feira de Maio, tibe as parigas todas que quis, fui o rei da pista, tibe o cuidado de só comer coirataige menos rija e no final, boltei ao Rui Ferrador pa ele me aparafusar o mê nobo dente douro com qualquer coisa que tibesse à mão.
Chaguei aos Olhos d’áuga de carrinho de choque (o home-dono da pista ficou mesmo cuntente e atei me emprestou um carrinho de choque que depois o Rui Ferrador retficou pa andar no asfalto e terra batida sim ser praciso botar fichas) e todos se admiraram com o mê dente, as parigas sorriam par mim e eu pinsei, hás de ter mais destes na tu boca, hás de ser um home raspeitado. E assim foi, fui coleccionando, a pouco e pouco, ora cumpraba um, ora cunpraba outro, atei que depois de muitos anos tenho esta cramalheira de fazer inbeja ao Rei-Rapa. Agora bou leiloá-la, já tá à benda em toda a caramelândia, nas sedes e colectibidades, quem der mais fica cum ela e bou ódepois cuncretizar o mê sonho: construir um posto de olserbação da estrelaige pá nha neta.
O Babuíno Aluado (grande inventor caramelo) também já tá todo intusisamado e já deu esta ideia: montar uns andaimes im forma de torre bertical, com uma altura nunca bista na caramelândia, mais alta do que daqui-ali (levanta-se e aponta lá pó longe com o dedo esticado, nim ele sabe bem para onde), secalhar atei mais! De dia cobre-se com um oleado por cima e pede-se a um home-artista da terra para pintar umas estrelas na parte de dentro pa inganar a gaiataige e à noite destapa-se o oliado e lá do alto, olserbamos as estrelas aquaise a tocar nelas e tamém se quisermos, pode serbir de farol, pás motorizadas que andam à noite de colectibidade im colectibidade por essa caramelândia afora, se guiarem, sabendo sempre onde são os Olhos d’Áuga (nesta altura o canito já dorme, a paraige éi agora apenas mais um vulto na escura noite). Entretanto ouvem-se passadas na gravilha. Alguém se aproxima com um pitromax, éi o Florindo Paleolítico, que se assenta ao nosso lado. O Berto da Cramalheira, feliz e aquase inbalsamado pelas médias que já inborcou diz-lhe “bens mesmo a horas, ia propor a abaladiça!”. Buemos atão a última, desta vez em silêncio individual.
A noite éi agora dos grilos, das arganaças selvagens (estilo coelhos adultos) e de todo o tipo de bicheza nocturna que a esta hora ganha vida e liberdade existencial. O canito acordou e roi agora (só para se entreter) umas das muitas grades de médias que povoam o chão da paraige.
Muito a custo lebantamo-nos do banco corrido e encontramos a menarda da FLC. Pomos os capacetes debaixo do braço e montamo-nos a cavalo como se se tibesse lebantado uma araige parba que nos impurra pa um lado e pa outro. Ainda óbimos o Berto da Cramalhera a vociferar para o Florindo Paleólitico:”olha bem aí o Victor Agrário de pitromax na mão!Éi sinal de que nos bamos dibertir, bamos andar à padrada uns cús otros, como quando éramos gaitos parbos!”.
A paraige das caminetas fica para trás. Sobre nós o infinito céu estrelado, belo como milhares de meios-bidons im chamas.
As mesmas estrelas que nos Olhos d’Áuga “hão de ser bistas mesmo dó perto, tão dó-péi que atei bão ofuscar!”.