10.8.10

Consultório do dia-a-dia - O Barbecue


Como já foi dito, a quantidade de cartas que chega ao quartel-general das forças da FLC é tanta que até já temos uma criação de 50 porcos alimentados só à base de proteínas de envelopes dos CTT. Todas são respondidas mas apenas algumas chegam a este baldio informatibo. Apresentamos aqui mais um exemplar sem embelope.

"Exmos Senhores da FLC, em particular ao Departamento de Apoio ao Cidadão para a Prática Saudável dos Costumes Caramelos (D.A.C.P.S.C.C.), é com todo o prazer que vos escrevo a presente carta, pois estou certo que irei ser atendido.
Sou um habitante do bairro Vila Serena desde 2007 e tenho feito tudo para me tornar um caramelo (e a minha família também). Sempre que estou com os meus amigos tenho sempre defendido e praticado (no pouco que ainda sei), a grande cultura caramela. Eles não são de cá, mas acreditam que já sou mesmo um caramelo! O problema é que, no próximo mês vou fazer um barbecue no meu quintal e convidar esses velhos amigos da Ericeira e do Estoril, e gostava que me dessem algumas indicações para tornar todo o evento numa festa verdadeiramente caramela. Já sei muitas coisas mas sinto-me ainda um pouco inseguro. Agradecia que me dessem algumas orientações para poder realizar esta festa. Obrigado.
Ass. Victor Bettencourt de Almeida"


Ó meu repaz, só bocemecê é que desenxagua a gente do fundo do poço (a seis metros de fundo) adonde os homes e mulheres estavam banhar-se com águas frescas. Desta bez foi de graça, mas prá próxima bez é bocemecê que bai puxar a gente com a roldana. E isso tudo para ir imbestigar o tipo de quintal que bocemecê tem. Depois da nossa béstoría o que temos a dzer é o seguinte: o que está a pedir é uma grande transformação na sua bida. Im primeiro lugar bocemecê nã bai fazer nim barbecue nim porra nenhuma. O que bai fazer é uma assada com budeira coletiva, e punhada recreatiba pu bucho pra melhorar o trânsito intestinal.
Para isso tem que amandar já pró intulho esse “barbecue” apandleirado que os construtores cibis fizeram pra venderem a casa mais depressa. Esse chão de mosaico espanhol tem de ser todo arrancado pra deixar respirar a terra original (aquela que já cá estaba um trilhão de anos antes de bocemecê nascer). Arranje meia carrada de grabilha de calibre médio, outra de areia amarela, cimento, uma pá e uma bateneira cheia de ferruige como objectos decoratibos que dão a ideia que foi bocemecê que fez a casa a seu gosto nas horas bagas, e que ainda não acabou (e nem nunca bai acabar). Espete um pinheiro manso no meio do quintal pra fazer sombra e aprobeite pra fazer um canteiro com hortaliças. Arranje um ou dois canitos malhados da raça traçador-de-restos e, o mais importante de tudo, apresente-se com um meio-bidom em labaredas, uma grelha (que pode ser até uma rede de capoeira), 10 quilos de carnaria suina, outros tantos de sardinhas (do Samuel) e meia dúzia de caixas de maçã riscadinha. Ali à mão, ponha três sacas de pão de quilo e mais uma dúzia de jerricans de tinto do Poceirão, e 18 grades de mines (com caricas antigas que só abrem à dentada ou com o isqueiro). Ponha uma cassete da Rádio Antena Caramela com a gravação do relato do derby Baldera vs Palhota, do ano de 2003, só pra dar um certo requinte.
Reunidas estas condições mínimas, bocemecê está pronto pra receber os cumbidados que vêm lá das outras bandas.
Receba os cumbidados im tronco nu e a pegar numa toalha incardida. À intrada, cada cumbidado apanha uma punhada pas costas como forma de cumprimento. Ó despois todo o combibio debe ser feito à bolta do meio-bidom a assar todas essas iguarias suínas. Lembre-se que a partilha do lume foi sempre um dos pontos chave para o processo de caramelização.
Quando toda a gente tiber impanturrada, mas ainda a buer com um palito na boca, está na hora de lançar um assunto polémico antes que se vánham embora. Assuntos polémicos não faltam e até podiam ser: “Qual é a minarda que anda mais em escape libre, uma Zundap ou uma Casal?” ou “O que é que dói mais, as mordidelas de bespas nos beiços ou mordidelas de abelhas nas nalgas?” ou “Quem é que arrebenta mais patardos, os Círios dos Olhos de Água ou os da Carregueira?” ou “O poço dos pinheirinhos do Pinhal Nobo é berdadeiro ou falso?” No intando, dado que os combidados não são de cá, o assunto tem de ser adaptado, assim, pode ser: “Qual é o melhor cartão de visita, um BMW cinzento-escuro ou um Mercedes azul metalizado?” ou “Onde é que se obtém um bronze com tez mais chique, na piscina ou na praia?” Enfim… para já, o tipo assunto não interessa, o que interessa mesmo é que a cumbersa aumente e se torne em debate-garreia, opois aumente ainda mais de intensidade até atingir ao níbel de chinfrim-teimosia, opois aumente ainda mais até ao ponto grunhido-ameaça e daqui aumente ainda mais até chigar ao ponto mítico dumas punhadas-pu-bucho pra resolberem o dilema e terminar em calorosos abraços.
Se conseguir cumprir estes passos, já domina 1% da cultura caramela, portanto está no bom caminho mas ainda tem muito que aprinder e ensinar aos seus amigos.