Quando chigámos à Compratiba im frente à intiga sede do Pinhalnobence, já estaba a loja fechada e nem pacotes de bolachas, nim esferográficas nim nada. Espantadiços, os inspectores da FLC disseram:
- Tóóóó!! Limpinho como tá, Isto parece mazé a CERAPA!
- Nã, a CERAPA já nim tem telhado, nim nada!! Isto parece mazé a fábrica de frigoríficos HR!
- Mas isto aqui nã dá pra jogar à bola! Isto parece mazé, o Centro Comercial dos Mochos!!!
- Os Mochos?!! Isto parece mazé o recinto do Marcado do Pinhal Nobo numa 6ª feira santa.
- Qual quê! Isto parece mazé a compratiba!
Dito isto, fizeram uma corrida de minardas a derrapar pas curbas e cruzamentos im direito à loja da Compratiba junto aos Bombeiros. Estancionaram os seus beículos no campo do Pinhalnobence e intraram pa Cumpratiba adentro:
- Diga lá à gente, o que é que o fechamento da Compratiba tem a ber com a abertura da Loja do Cidadão? - précurou um agente da FLC.
- Bem eu aicho que que nã tem nada a ber! - respondeu a mulher do talho inquanto cortaba em finas fatias as últimas salsichas, reaprobeitadas da outra loja já fechada.
- Ai nã aicha! E o que é que esta gente bai fazer quando esta loja fechar? Nã bai prós computadores da Loja do Cidadão?
- Não. Ninguem bai pra lá.
- Intão bão prá donde?
- Bamos todas bender a mobília na feira-da-ladra, aos Domingos, im frente ao Costa-Bar.
- Ahh intão é isso!
- Atão diga lá mais uma coisa, aqui à gente. Nã aicha que andar aqui a bender pacotes de bolachas com a oferta duma esferográfica, foi uma forma de perder clientela já que a malta toda está agora a dar uso às esferográficas pra preencher papelada na Loja do Cidadão?
- Pode ser, mas a ideia original foi uma promoção para a alfabetização caramela. Graças a essas esferográficas é que ainda se fazem sessões solenes de Poesia Popular Caramela, promobidas pela Junta do Pinhal Nobo - respondeu uma outra funcionária, enquanto arrastava pu chão o último basilhame de grades de mines pra um canto da loja.
Desostinado, o chefe do pelotão, Toin Serpentino, disse im boz alta pra toda a gente obir:
- Na Caramelãndia ninguém emigra, hã! Quem é caramelo nunca abandona a sua terra!
- Desculpe, mas pra tratar do BI, os senhores têm de tirar as meias da cabeça. - disse uma funcionária assustada.
- A gente samos clandestinos, samos da FLC e nã precisamos dessas balhanas de cartões nim porra nhuma. - vociferou a sub-inspectora das milícias, Dona Rosalinda das Caganitas.
Dito isto, todos os funcionários lebantaram-se e meteram-se im sintido. Opois a canzoada começou a chirar e a rosnar de perto (pus entrefolhos e tudo) todos os funcionários pra berificar se algum deles pertencia à Compratiba. Feita a bestoria (este vocábulo caramelo vem da palabra “Visto” e não da palabra “Besta”), e como nenhum cão deu uma mordidela (apenas alguns solavancos eróticos agarrados às pernas das mulheres, guarnecidos com lembidelas clandestinas), confirmou-se que ninguém nunca pertencera à Compratiba.
- Agora diga lá à gente: bocemecês bendem aqui pacotes de bolachas?
- Não senhor. - respondeu amedrontada uma técnica de Bilhetes de Identidade a granel.
- Hummmm!! E na oferta duma esferográfica, pró cidadão preencher os impressos, bocemecês oferecem uma sandes de coirato? Hã?
- Não senhor.
- Nim oferecem uma bifana?
- Não senhor.
- Porra. Bocê só sabe dzer “Não”? E bocês nã oferecem nada, nã bendem nada, nã produzem nada?
- Não senhor.
- Atão isto serbe pró queim? Humm?
- Serve para o cidadão pagar os seus impostos, para emigrar, pedir o cadastro, pagar multas...
Com esta cumbersa a canzoada começou logo a ganir com as orelhas agachadas, caté parecia um canto gregoriano quando os monges chamam pla traboada.
- Porra!... E bocemecês já reperaram se os cidadões e cidadonas preenchem essa papelada com as sagradas canetas da Compratiba? Daquelas canetas que binham agarradas, com fita cola, aos pacotes de bolachas?
- Nós dispomos aqui das nossas próprias canetas. - respondeu uma técnica de impressões digitais, enquanto afeiçoava as cuecas porcausa dos cães terem andado lá com o focinho.
- Balhana é o que ei! BEM... como samos pela cultura caramela, a gente agora bai selar esta loja pra reabri-la mais tarde com produtos hortícolas. Até lá, esta Loja do Cidadão bai ficar fechada e armadilhada com morteiros dos Círios da Carregueira, e quem intrar sem a nossa autorização sujeita-se a lebar com um patardo pus tímpanos que nunca mais oube a pardalaige a acasalar nas arbes da abenida.
- E nós, para onde vamos?
- Bocês fiquem descansados. A Compratiba bai fazer uma promoção especial. A partir de agora, bocês bão prás lojas da Compratiba e bão infiar os Bilhetes de Identidade nos pacotes de batatas fritas; bão infiar as declarações do IRS nas sacas de carvão; bão colar os recibos da água às acendalhas;... e bão colar as multas às bassoiras... pra serem logo barridas pró caixote do lixo.
Mais uma missão de sucesso da FLC em prol da cultura caramela.