18.6.11

AS FESTAS CARAMELAS 2011



Como toda a gente sabe, a FLC é o órgão máximo que luta pela defesa da cultura caramela. Por isso, dado o extenso pugrama das Festas do Pinhal Nobo, os nossos delegados encartados lebaram a cabo a maior campanha para aferir os índices de caramelidade implicados na grande manifestação caramela de índole festiba. A quantidade de informação encriptada foi tal, que os nossos técnicos lebaram uma semana a chigar a um consenso (por isso é que só agora foi publicado). E como é que isto foi feito?

Numa entrebista secreta do jornal “O-Diário-Que-Só-Sai-Uma-Bez-Por-Semana” explica como tudo foi feito:

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Estagiário de Jornlista (EJ) - Atão explique lá à gente comé fizeram pra saber os índices de caramelização nas festas?

FLC – Oh, foi canja.

EJE opois?

FLC – Opois, im primeiro lugar, a gente sulfatou as festas todas com um químico que muda de cheiro conforme os índices de caramelização.

EJE opois?

FLC – Opois as amostras eram lebadas por pombo-correio-rápido para os nossos laboratóiros cediados no nosso quartel im parte incerta.

EJE opois?

FLC – Opois essas amostras eram introduzidas numa máquina de costura imprestada pa ti Losalinda da Peúga. Daquelas máquinas que trabalham com os chispes do operador a dar a dar, a dar a dar.

EJE opois?

FLC – Opois essa máquina estaba atada a uma caçadeira altomática que por sua bez disparaba contra um placar do Orçamento do Fundos Europeus para o projecto do TGV.

EJE opois?

FLC – Opois os nossos técnicos encartados, acompanhados por canzoada, iam interpretar o placar crabejado de chumbo, e a partir daí descodificabam os resultados.

EJE opois?

FCL – Opois badamerda prá intarbista!"


Esclarecidos dos métodos utilizados, uma semana depois a FLC lançou finalmente fumo branco, saído dum meio-bidom com um tapete de inarmiadas na grelha. Assim, o maior índice de caramelidade registou-se no momento em que o boi de 400 quilos, das largadas de Sábado, em plena soltura, aproximou os cornos a uns escassos centímetros do home brabio que estaba tranquilamente a birar os coiratos no meio-bidom em brasa. O diálogo destemido entre o home brabio e o bicho desenvolto atingiu o pico máximo de caramelidade nunca antes documentado. Tal cumbersa representa a re-emancipação da cultura caramela perante as forças opressoras do resto do mundo. Apresentamos aqui um padaço do diálogo (a tradução dos dizeres do boi, foi feita por ganadeiros especializados da FLC):

BichoO qué k tájaí a fajêr?... Olha que lebas uma cornadadita! - disse ele num tom acriançado.

Home Brabio ao Fogareiro – Tóóóó, tu bai marrar mazé as nalgas da tu tia!

BichoOh, nã gosto nada!

Home Brabio ao fogareiro – Ah nã gostas?!!! Atão bai fscar o tabuleiro do pão, que tás a inxotar a clientela. Bá lá, faz qualquer coisa ca trupe tá toda a fugir prós carrosseis.

BichoOh, nã gosto nada! Posso trazer, na ponta dos cornos, uma dúzia de testículos aí dos matulões que tão a fugir de mim?

Home Brabio ao Fogareiro – Bem, isso já é outra cumbersa! Trata lá disso que os coiratos tão-se-me a acabar. - disse ele com a nabalhita em tom a meaçador.



Dito isto, o resto já toda a gente sabe. Portanto, ao contrário do prebisto, este ano, o ponto mais alto das festas não foi o patardo final, lá no céu, a arrebintar as tripas da bia láctea, foi sim este momento de intimidade entre o home e a fera que consagrou a nossa caramelidade e o sintido das festibidades. Além disso, este ano nã hoube patardo final, mas sim uma espécie de fogo-de-charco que nada tem a ber com os nossa identidade (a prática mais parecida é a rara forma de pescar pardelhas à bomba). Para o ano, em bez de fazerem fogo-de-charco, a FLC está a preparar o maior espectáculo de fogo-de-retrete. O fogo-de-retrete tem sido o mais esquecido mas também o mais típico, especialmente no dia seguinte, quando o home e a mulher brabia comem um panelão de sopa caramela amais uma barrigada de sardinhas, binho e mines a granel. Hoije ainda se acredita que o fogo-de-retrete é um dos costumes mais ostracizados da nação caramela, porque as facções palmelonas mais eruditas, insistem em rejeitar a nossa identidade obrigando o pobo a uma pirotecnia recalcada e silenciosa de Salão-de-chá. Para o ano a sessão de fogo-de-retrete, promovida pela FLC, bai puxar pelo físico dos mais balentes. Será ainda um evento clandestino, colectibo e ao ar libre, sem qualquer despesa para o contribuinte. O ebento só será solene quando o fogo-de-retrete representar uma das mais escancaradas, ensurdecedoras e genuínas manifestações da cultura popular caramela, com patardos monumentais, rabichas e repuchos de tirar o fêlego a qualquer um.

Uma outra obra que a FLC bai fazer é acrescentar ao coreto mais sete andares, pra infiar lá dentro toda a Orquestra de Guitarras da SFUA. É que o concerto desta maltezaria toda, no palco grande, não tebe os resultados desejábeis, nem fez juz à nossa cultura local.

Muito mais poderiamos falar sobre os índices de caramelidade, como por exemples o passeio de pasteleiras, a sopa caramela, os Balha ca carroça, os delegados da FLC enbergando uma camisola verde a dzer “PINHAL NOVO - CAPITAL DA NAÇÃO CARAMELA”, o Pátio Caramelo e muito mais... mas isso fica pró ano.




Até lá, o que interessa é a precura da nossa berdade e do êxtase popular, o resto é cumbersa.

6.6.11

PUDINS DO PENSAMENTO

Uma crónica sob total responsabilidade do escritor João das Porras, sobre o existencialismo caramelo e outros distúrbios da realidade, só pra intelectuais de primeira apanha.

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É Domingo de manhã, dia de eleições. Sinto-me de espírito aberto como um caramelo que comeu um quilo de amexas e qualquer lugar recôndito serbe pra exprimir as suas emoções. Sentado entre as barrecas das Festas do Pinhal Nobo, e as arbes do jardim, deparo-me com a aproximação duma sombra. O vulto sombrio acarreta um home de camisa azul-remédio-prás-formigas e mais umas botas de sola vitalícia, compradas na intiga drogaria do Costa, no Pinhal Nobo, nos anos 60. Uma manápula surda atrabessa-se entre a minha cabeça e os anúncios das Três Marias (dissimulados de notícias culturais, nas páginas do Jornal do Pinhal Nobo). E de quem éi esta manápula envolta de resíduos de cimento-cola? É do Virgolino Arrebita, natural do extremo oeste dos Batudes. É um home de poucas falas, e por isso, autor de grandes rasgos de sabedoria que entram no nosso discernimento como uma rajada de arrebitos pa testa adentro, espatados por um moto-arrebitador.

Aperto-lhe a mão (num bacalhau):

- Atão comé que ei? – pergunto.

- Oh!... Coiz! – responde ele, seguro de si.

Tudo tem o seu quê, mas a unibersalidade destas palabras "Oh!...Coiz!" respondidas, enche a cagulo o mais dilatado pinsamento caramelo. São palabras tão intensas que chegam a materializar os miolos dum cabeçudo em repouso. São enfim, a duplicidade entre o encantatório, e uma intiga guarda de passagem-de-níbel a limpar as mãos num guardanapo de papel.

É com esta resposta "Oh!... Coiz!", que Virgolino fica calcinado a olhar pra mim, com o sobrolho franzido que nem um javali preso por um chispe. No seu olhar, ele está plenamente convicto de que aponta o olho esquerdo pra um Eu sobressalente (desfasado a cinco minutos para lá de mim), e intranha o olho direito no infinito compactado, onde as abóboras ficam esmigalhadas de tal geito que nem servem pra dar aos porcos. É esse o seu olhar!

Perante tais palabras guarnecidas do ser, envolvo-me num arrebatamento interior caté fiquei agrafado a um nobo sentido do dia que dantes nunca tinha chigado ca minha própria cabeça… mintira, lembro-me por exemples do Orlando Frigorifico que graças ao seu comintário “nada é que nã éi nada”, sinti um burburinho tal, que hoije vejo os lençóis matinais como eucalitros sacudidos.

Procuro intão os sinais do meu íntimo. Sinto a metamorfose da existência como rinocerontes ainda dentro do ovo, perturbados, prontos a arrebintar a casca com uma cornada. É neste lavajo de pinsamentos, que as palabras “Oh!... Coiz!” me despertam o sintido do “Coiso”. Mas que Coiso, carago? Pergunto eu no cheiro da minha dúbida, enquanto Virgolino Arrebita prolonga o silêncio do seu olhar fixo por mais 15 longos minutos. Esta hora metafísica vai alimentando a minha procura ora embrutecida, ora corporalizada na semântica necrófila das páginas do Jornal, ora com uma lambidela na mortalha do sétimo cigarro.

Não aguento mais a dúbida. Tenho que me desendubidar.

Amonto-me a cabalo na nha minarda e desato em biaige à precura d”O Coiso”. Bou da Carregueira aos Cajados, do Poceirão à Palhota, bou de lés a lés calcorriando os mais secretos aceiros, debaixo do intulho, por detrás das retretes… e nada! Nã há “Coiso” em lado nhum! Ao final da tarde, quando o Sol se farta do dia e segue a Estrada dos Espanhóis, começando a escapulir-se lá pra trás do Pintiado, alebanta-se-me a ideia de que “O Coiso” pode estar incrustado im mim, como uma espécie rimel que se intranha nas olheiras das belhas quando saem da Cela às cinco da manhã.

Decido então falar com a Nossa Senhora da Atalaia e ponho-me a caminho.

Chigado ao santuário da Atalaia, rebela-se uma notória atmosfera para o reencontro de falsas criaturas (parsidentes da república, comentadores desportibos, porcos, gorilas, etc) que carrego na minha fragmentação. Os miolos transubstanciam-se num monólogo-garreia até que, na precisão dum gesto espontâneo, acho uma bola de cotão no alto do rego, onde o lombo acaba e começam as nalgas. Tal pegada do destino, leva-me à pergunta: terei eu achado “O Coiso”? Não! É apenas um sinal sobrenatural de que “O Coiso” existe e está prestes a mostrar-se!

Chego ao Pinhal Nobo já noitinha. Sonambolesco, assento-me no Costa-Bar sintindo o efeito voluptuoso duma mine a escorrer-me pas guelas abaixo. À terceira mine os meus olhos incontram a luz da telebisão. É uma luz que traz o negativo de si própria! Ela traz-me “O Coiso” pra dentro do meu nervo óptico e dá-me o renascer da certeza sob a experiência de milhares de Tarzan’s dilacerados desde que nasci... Não, não é um reality-show de gordos, ou um pugrama que testemunha a angústia duma bola de cotão, a germinar no alto do rego dum polícia de moca na mão! É algo de muito mais místico… é todo o resultado das eleições das terras Lusas… de uma ponta à outra!

O Coisoé a derradeira aventura da metafísica, o exercício excepcional da realidade adiada bida afora, o lugar das múmias.

Obrigado Virgolino Arrebita, a tua resposta alumiou o dia!

Encontrado "O Coiso", lá fora na abenida, só a passaraige escondida nas arbes bai escagaçando os tejadilhos das biaturas caramelas, dando abanço ao paraíso.


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