26.9.11

CIRCUITO DE MANUTENÇÃO CARAMELA

É já do conhecimento público que as forças globalizatórias continuam a dar tramela ao nosso pobo no intuito de o transformar numas papas de vargalho branco! Mas a FLC, como entidade protectora da cultura caramela, nã deixa que isso aconteça, pois os costumes que os nossos bisabózes imbentaram intigamente, são prá gente desfrutar hoije. Dessa maneira, foi no passado Sábado que as altas patentes desta organização clandestina, assinaram um protocolo com o Firmino Desentupido, para a cedência dum baldio de 30 hectares na Benda do Alcaide. Este baldio bai transformar-se num parque temático para a manutenção da cultura caramela. Terá o nome de Caramelarium e consiste num circuito de manutenção para todos aqueles que, já sendo caramelos, percisam de manter a sua cultura intacta contra as albardas reaccionárias do ocidente. Quem nã for caramelo pode afoitar-se lá par dentro só pra sintir as marabilhas da nossa milenar civilização.

O projecto foi garriado, terminado e aprobado à sombra dum andaime cheio de ferruige, em frente ao café “Mina de Mines”, em Bal da Bila, e é pra ser implementado já amanhã de manhã. O circuito de manutenção tem dibersos obstáculos que não são mais do que simulacros para exercitar os usos e costumes caramelos. Cada praticante bai superando um a um, com o máximo de realismo, até ficar sastesfeito da bida. O percurso deberá ser feito com traje a rigor debendo os homes estar munidos duma nabalhita e as mulheres dum alguidar. Desses obstáculos destacamos aqui, em primeira mão, os seguintes:


- Tem de cozinhar e infardar um prato tipicamente caramelo. Há duas bariedades à escolha, serbidas em gamela de meio alqueire: a Fava insalsada, ou a Batata cu pingo.


- Tem que atrabessar uma passaige de níbel com 14 linhas interlaçadas, estando dois comboios em manobras, um pra um lado e outro pra outro. O praticante terá de entrar e sair dum comboio de passageiros e opois saltar por cima de outro, carregado de grabilha. Tudo im andamento. Este simulacro treina o que intigamente se fazia, em que a gaiataige, pra ir prá escola, tinha que atrabessar uma dezena de linhas, passando por cima dos comboios pra nã chigar atrasado às aulas.


- Tem de entrar num túnel de bentania e acender um meio-bidom, só com tojos secos e um fórfo. Este simulacro treina o caramelo na sua relação com o fogo e com o fogarero.


- Tem de cavar um rego de 50 metros e incher ele de áuga com a ajuda duma picota, tendo o cuidado de nã inxotar as arãs pra outro charco. Este simulacro treina o caramelo para os tempos que se abizinham (em que, se quiser comer, tem que cavar e regar).


- Tem que conduzir uma matilha de sete cães de raça traçador-de-restos, num corredor de 500 metros acagulado de gatos. Os cães bão todos atados por cordeis, e o participante tem que tirar as teimas à canzoada, sem se enlearem nem se engalfinharem com a gataria. Este simulacro treina a bicheza e o caramelo prá ida à bacina. Um clássico!


- Entra num complexo labirinto, intulhado de mercadorias do marcado do Pinhal Nobo. Todo o percurso é feito com um palito nas beiças que bai, como uma bússola, apontando o caminho. Este simulacro treina o sentido de orientação do caramelo para quando for fazer o avio ao marcado mensal.


- Tem que ir à estrumeira procurar a minarda que está lá interrada há 20 anos. Ao encontrar ela, terá de pôr a trabalhar e zarpar amontado até ao foguetódromo. Este simulacro treina o caramelo para os dias que hadem bir (em que ele tem que deslargar o seu BMW e boltar a andar na sua fiel minarda, atirando um foguete ao ar).

***

O circuito tem mais de 2400 obstáculos diferentes, como a apanha de pinhas, o cortar lenha, a bindima, buer mines de litro, sessões de punhada (com robôs brabios), enfrentar um toiro na largada, ordenha de cabras, balho (com robôs brabios programados pra balhar modinhas do rancho fóclórico das Lagameças), e mais uma data de coisas sem fim!... No final da prova, o meio-bidom deve estar ainda aceso em labaredas.


A inauguração contará com um festibal de música caramela, contando com a presença do poli-instrumentista-cançonetista Jorge Nice que bai insaiar e descontrair as entidades oficiais com a leitura dos editais da Junta de Freguesia do Poceirão em linguaige caramela. Terá também a participação dos Shivers, com a boz aveludada do Igor Azougado com o tema “Épah” em castanholas e pandeireta de caricas; do Axel com uma bersão em gaita de beiços do tema do festibal RTP da canção; dos Ervas Daninhas que vão tocar o clássico "Caganitas de coelho" só com chocalhos, os Bardoada que, só com bombos, bão tocar a ópera “O charco dos cisnes”, com efeitos de luz em pitromax e candeeiros a pitroil, e pra terminar o mítico grupo de baile Terno D' Ouros, que se reune numa nova formação só para este ebento e vão tocar a marcha do Bitória de Setúbal com campainhas e guisos polifónicos.





REBOLEM CALHAUS DO CASTELO

QUE NADA ASSUSTA UM CARAMELO!

2.9.11

ABC da Bassoira

Estudos da FLC têm rebelado que os níbeis de imbecilização da sociedade moderna nos últimos anos têm sido preocupantes. Pra evitar esta tendência no nosso territóiro, o restrito grupo dos Cabreiros Templários (conselheiros cativos à FLC) reuniu-se clandestinamente à bolta duma malhada de cabras pra traçar um curso intensivo, emitido por cordel atado a uma rede de latas bazias.

Cada habitação irá ter uma lata, com um buraquinho no fundo de onde sai um cordel esticado que, por sua bez, bai ligar a um painel de latas instalado nos estúdios da escola. É então o Curso Propedêutico Tele-Lata Para A Cultura Caramela (C.P.T.L.P.A.C.C.).

Infiem os bossos obidos par dentro das latas e bamos lá intão obir e aprinder.

Mini-Apresentação:

ORQUESTRA DA SFUA (em dias de budeira colectiva):

Tom tororom, frlôm fôm fôm…

Tum tururum, frlum fum fummmm.

PATARDO DOS CÍRIOS DA CARREGUEIRA PRA DESIMPOEIRAR AS LATAS:

“PUM”

“A BASSOIRA ”

PROFESORA (Ti Gertrudes da Touca-Larga):

O mundo doméstico caramelo está repleto de objectos importantes que poupam o home e a mulher de ter que esgrabatar cas unhacas pra fazer as coisas, por isso, hoije bamos falar da bassoira.

Dum modo giral a bassoira serbe para inxotar o lixo para a porta do bizinho que por sua bez inxota o lixo para a porta de outro formando assim uma comunidade. Trata-se portanto de uma das mais intigas formas de sociabilização, mesmo antes do caramelo apanhar ubas pra comer e buer. Nos tempos intigos, a bassoira era constituída por um tufo de tojos secos atados por um baraço.

SOM DA ARAIGE A UIVAR PUS RAMOS DUM EUCALITRO AMAIS A BOZ DUMA CARAMELA A BRADAR...

Áudio-encenação:

- Óh Jacinto, deslarga lá a inxada e bai fazer a mim uma bassoira que eu preciso de barrer os cortinados.

- Já bou. Deixa isso im paz e bai mazé fazer a sopa que eu tou cuma esgana capaz de comer um barrasco pus cornos.

PROFESSORA (Ti Gertrudes da Touca-Larga):

Assim se percebe que a bassoira se tornou desde cedo um objecto de fabrico caseiro, tipicamente feminino com múltiplas funcionalidades e pouco apreciado pelos homes.

A bassoira sem pau era baixa e tinha o poder de dobrar a caramela para o acto da barredura dando todo o relevo ao traseiro a dar-a-dar, coisa que agradava ao seu amado. Mas quando a mulher barria a eira à frente doutros homes, o seu querido home já não achava graça nhuma e essa posição podia até dar punhada giral. Foi intão que se inbentou o pau de bassoira prá mulher ficar direita e os outros deixarem de se limber com os olhos.

Com o pau, a mulher ganhou outra elegância e poder de manobra. As mais belas coreografias domésticas estão associadas à caramela quando barre a terra, a grabilha e as caricas, que a sua família trouxe agarrada às botas par drento do lar. Ber ela a barrer e a assobiar entre os raios de sol, é um dos momentos que qualquer home caramelo gosta de guardar na memóira pra toda a bida.

A bassoira, além de barrer, tebe sempre muitas outras utilidades, como sacudir os tapetes e as fronhas das almofadas, tirar as teias que as aranhas caramelas gostam de fazer aos cantos da casa, ou até mesmo para abanar o fogareiro. Mas dada a inbenção do pau, multiplicaram-se as utilidades, tornando-se assim um dos artefactos mais importantes da bida doméstica.

SOM DO CHAFURDAR NUM ALGUIDAR COM 50 LITROS DE CAL ACOMPANHADO POR UM DIÁLOGO DE GALOS POR ESSE CAMPOS AFORA...

Áudio-encenação:

- Ó Natércio, bai lá pôr a bomba d’áuga trabalhar pra meter aqui áuga no balde pra eu mexer aqui a cal com o pau da bassoira.

- E tu já tens trincha pra caiar o muro?

- Atão na bês que tenho aqui a bassoira. Bou caiar com ela… e deixa-te de cumbersas e bai já ligar a bomba.

PROFESSORA (Ti Gertrudes da Touca-Larga):

O pau da bassoira serbe portantos para mexer a cal, desintupir a retrete, bem como educar o gaiato parbo a ser o home de amanhã. Neste caso, um gaiato que tenha na mania, tem logo prometida uma pazada de bassoira pu lombo caté impa.

SOM DUM BANDO DE GAIATAIGE A JOGAR À PADRADA E A ESTILHAÇAR O VIDRO DUMA JANELA. OPOIS SILÊNCIO… …

ABRUPTAMENTE OUBE-SE O ESTRONDO SECO DUM PAU DE BASSOIRA A ACERTAR NO LOMBO DUM GAIATO DESACAUTELADO E A FAZER DELE UM HOME ÀS DIREITAS...

Áudio-encenação:

- Toma lá que é pra aprinderes. – diz a mulher caramela na sua missão educadora.

PROFESSORA (Ti Gertrudes da Touca-Larga):

Não sendo um objecto que dure para sempre (como por exemples um pneu), a bassoira tem o seu ciclo de bida bem definido no nosso dia-a-dia. Quando é noba, serbe pa barrer as impurezas da casa, mas à medida que bai embelhecendo, a bassoira passa a fazer serbiço no quintal e, vai, vai… até acabar na pocilga. Mesmo quando a bassoira está resumida ao pau, ela já nã barre nada, mas ainda assim tem nome de “bassoira” e serbe pra fazer com que o bacro aprenda a portar-se com catigoria, como um banqueiro dentro dum Jaguar im direito à pousada do Castelo de Palmela.

BARULHO DUM BACRO A BARRASCAR NA GAMELA E A COMER BOLOTA À GANÂNCIA; ESTOIRO DO PAU A INCARNIÇAR O LOMBO DO BICHO, SEGUIDO DUM GRUNHIDO DE EXCLAMAÇÃO:

Áudio-encenação:

- Grroinc!

- Toma lá que é pra na seres lambão e te acautelares. - diz o dono.

- Grônc. – resposta do bacro.

PROFESSORA (Ti Gertrudes da Touca-Larga):

Nos dias de hoije a bassoira ganhou muitas formas e tamanhos, chegando mesmo a ganhar o fitio dum toalhete de papel agarrado a um cabo. Ainda que apresente um cabo cumprido, este é pouco resistente e facilmente se desmancha quando atinge o lombo dum porco ou dum gaiato parbo (razão pela qual a gaiataige e os homes de hoije têm dificuldade em intender os ensinamentos que uma bassoira intiga podia proporcionar).

O artefacto sim trambelho nhum que o mundo moderno impurra (prá gente jogar fora a bassoira), é o aspirador. Este objecto eléctrico, que faz mais barulho que o comboio dos bolksbaiges, requer, no entanto, o dobro do trabalho para usar. Além disso, o aspirador tem a capacidade de chupar dos dois lados: de um lado chupa as pequenas impurezas por uma mangueira e, do outro, chupa a electricidade com 23% de imposto. Apesar de ter o poder de chupar continuamente sem se fartar, não consegue chupar uma carica, uma pedra de grabilha ou até uma caganita de coelho que ficou colada ao cimento. O pior de tudo é que retira toda a beleza coreográfica e os belos cantos de assobio que uma caramela refinou ao longo dos séculos. Portantos, barrer é uma coisa, chupar é outra e não benham cá com misturas parbas. A bassoira intiga é que éi.

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E agora responde às seguintes parguntas:

1- De que objecto tibemos a falar?

2- Indica três utilidades importantes que tem o pau da bassoira.

3- O que é que chupa sem se fartar?

4- Porque é que o banqueiro bai de Jaguar e não bai de Zundap?

5- Porque é que o IVA da electricidade é 23%?

6- Desembolbe uma redacção, a partir da tua cabeça, sobre as semelhanças entre um aspirador e um banqueiro. Nã te esqueças de usar o pau da bassoira.

Bom trabalho.