a nobela da tarde totalmente garriada em caramelo moderno
Episoido especial de Natal
Início de Inverno na Caramelândia, as folhas das árvores ainda caem em alguns locais, o sol a meio-gás bronzeia suavemente o lombo dos porcos caramelo-mirandeses que vagueiam nos campos em busca de traçantes que ingordem e façam os seus donos orgulhosos na hora da matança.
Albino Chispalhudo ta im casa. Olha cuntemplativo para a árvore de Natal que a sua mulher acabou de decorar com algodão e rabuçados de mentol. Lembra-se do seu tempo de gaiato, quando esperaba pelo Pai Natal e ia apanhar pinheiros selbaiges no campo. Dócil como um barrasco capado, senta-se no sofá enquanto a sua mulher lhe massaija os chispes com criolina e augardente noba. Ligam a telebisão. Bai começar mais um episóido dos Coiratos com Açorda, a sua nobela preferida (neste episóido o realizador inspirou-se na bonecaige Russa que biu a ciganaige a bender no marcado e decidiu pôr o Chispalhudo a ber a sua própria nobela, um dentro da outra, um abanço notável na ficção caramela).
Na telebisão aparece um grande plano do interior do Café Lua Cheia Aparbalhada, bendo-se uma árvore de Natal ao fundo com as luzinhas a piscar e o balcão todo decorado com fitinhas brilhantes. Dois homes entram, encostam o bracito ao balcão e pedem duas medias de forma iducada “bá lá ber atão o do costume, já cá debia era de estar!”. (Chispalhudo reconhece-os: “olha, são o Toinito da Sibéria e o Custódio da Siderurgia Nacional!”). Depois do primeiro gole procuram um tema de conversa, ao mesmo tempo que afastam as moscas que andam de bolta dos tremoços cum sal (a câmera segue-as dando imagens bertiginosas). A meio da quarta golada, um diz que o mundo ei grande como uma melancia do Manel Leitero e o outro responde com um sintético “tás parbo”. (O Chispalhudo ri-se mais a mulher, que aproveita para lhe agarrar os pés e cortar as unhas).
Calam-se durante cinco minutos, na bela observação abistada da neta da Ti Juila Alinhavada, que bem lá ao longe e daqui a nada bai passar im frente ao café. Depois da pariga passar, o outro diz que o verão este ano foi no outono, como se as porcas parissem patos e o outro responde novamente “tás parbo”. Opois, um diz que as laranjas da Cunpratiba ei que eram boas, o outro gosta mais das dos Retornados, que o Lau ei mais intigo que a Palhota, o outro responde que os morteros do Cirios da Atalaia boam mais alto que os foguetões dos amaricanos e o outro diz que os amaricanos se ca biessem só gostabam do Cafei Amerca (café América) e o outro diz que eles já andem por aí, só nã bê quim ei parbo. (O Chispalhudo inerba-se, concorda com o verão, mas diz que as laranjas melhores são as do InterMache e a mulher diz que os foguetões ei que aboam mais alto que os morteros. Começam os dois também a garrear, ele a espernear e ela de gazua eim punho a ber ser lhe corta as unhas dos chispes).
„Dizem que agora bai muita malta par fora, pó estrangeiro. "Pá donde? Pa Palmela?; não parbo, memo pa fora, muito par lá da Caramelândia.; Só espero que o nosso parsidente, o Lagarto também nã comece a dizer que a gente tem de emigrar. O outro: pois ei, o mundo ei grande. O outro: Nã ei tão grande como a Lua ou como o Sol. Sim, mas ei redondo. Ei. E pode-se dar a bolta. Pode-se, concorda o outro. E pa dar a bolta bai-se por li (aponta lá par fora, na direcção donde beio a a neta da Ti Juila Alinhavada). Não, pa dar a bolta bai-se por lá (aponta na direcção da casa do Toino Labagante). Não, por li. Não, por lá. Ei por qui! Ei por lá! Na ei! Ei! Na ei! Ei! Na ei! Ei! Por qui!!! Por lá!!! Tás parbo!!! Olha que alebazias, ai lebas lebas!!!" (entra uma música de ferrinhos e som de trela de cão a bater em chapas, a qual cria grande tensão). "Bai uma aposta? Ah ateimas?!!! Sim, ateimo, queres apostar?!! Bamos apostar! Mas primero bamos buer mais uma. Pitroila, bá lá ber mai duas meidas, pá gente buer e adepois se a gente desaparecer diz que um dia boltamos e bai pondo a mesa porque quim ganhar paga a almoçarada e as grades de mines que os homes quiserem buer. E podes dzer quei bar aberto atei a gente regressar." A Pitroila olha descunfiada para eles, ao mesmo tempo que serve a buída e pargunta: atão mas bão adonde?. Respondem os dois ao mesmo tempo: “Bamos dar a bolta ao Mundo, mas na bamos um mais o outro. Um bai por qui, outro bai por li. E bamos a ber quim tem razão!!!!”.
Assintados, Toinito da Sibéria e Custódio da Siderurgia Nacional bebem as duas medias em silêncio, pinsando já na biajem. Odepois levantam-se pedem mais duas, pa lebarem no caminho e arrancam cada um pa seu lado. (Chispalhudo olha pá televisão quase siderado, ei um episodio de grande suspanse. A mulher bai fazer o jantar e cuntinuar a labuta das filhoses. Na mesa vê-se a sopa de intulho begetal em grande plano e duas fatias de pão cum manteiga dos dois lados (para criar habitos de boa comida aos espectadores da nobela). Da cozinha ainda diz “atão e tu nã apareceste neste episoido?!! Agora só te botam a ber os outros na tua nobela?!!”
E agora??? Será que o Toinito da Sibéria e o Custódio da Siderurgia Nacional bão mesmo dar a bolta ao mundo??? Ou bão mas ei ó cafei Capuchinho e ó depois ó Tascão e ó depois ó Cafe América? Ou só inbentaram isto porque na são parbos e bão-se mascarar de Pai Natal Caramelo (que este ano tá ainda em fase experimental) e na querem que ninguém descunfie que são eles???
Não percam os próximos episóidos desta nobela, que ei tão boa como a sopa caramela!!!