30.7.11

Cuntar contos e acrescentar pontos

O ciclo de histórias que a FLCpromove tem agradado os caramelos. Temos recebido barias cartas com histórias de bários contadores que devido à gente ganharam curaige e tamém querem cuntar as suas históiras.

Dentro destas cartas e daquelas que ainda não foram dadas aos porcos, queremos partilhar um pouco da carta que a Ti Balbina nos inbiou bia galo-da-india-do-Lau.

Prestem atenção agora, ca bai ela:

„Ora biba atão repaziada balente da FLC! Tão rijos? Cá a Ti Balbina tá um pouco inferrujada da ossaria mas como dizia a nha abó, cum áuga do poço e áuga do tramoço qualquer dia inda aranjo um moço. Fico cuntente à parba por ber que as históiras caramelas boltam. Quando era uma gaiata brabia gostaba de ficar horas a obir o mê tio, o Toino Labagante a cuntar histórias dos caramelos e acho que isso fez com que tibesse na maniazinha-parba das escrituras. Mas bou-bos atão cuntar uma históira que tem dentro outra históira que ainda podia ter dentro outra históira e por ai fora, como quando descascamos çaboilas para cozer cum batatas im água e sal.

Sempre cuntei as históiras á nha manera. Inda nem escrebia poesias, já tinha um caderno cumprado na Cooperatiba cheio de históiras Mas quando as cuntaba ás nhas bizinhas (à noite, antes de haver telebisão e nobelas) elas riam-se e diziam que as históiras na tinham trambelho nhum. Um dia amuei e pinsei, ah na querem obi-las? Atão bou pó marcado da capital, lê-las im boz alta e todos bão ter de obir elas (só na obiam se tapassem os obidos cum algodão doce). E assim foi, fui par lá, botei-me im cima dum alguidar da ciganaige, abri o cadernito e cumecei a ler im boz alta. Uns olhabam par mim, outros passabam sim olhar, ê sei lá . Tibe naquilo uma hora e odepois fui buer uma sumol pa mir imbora. Meti a sumol nos quexos e apareceu-me um home com fato de lavrador-dos-domingos-de-marcado a dizer que me tinha obisto e que eu (debido ás nhas histórias) era uma espéice de Mario Hinrique Liria, um na sei quei que escrebia. O mê home taba ó lado a buer uma mine e deu-lhe logo ca mine pa cabeça e três punhadas no lombo que o home na me chamou mais nomes e foi-se imbora pá estação apanhar o comboio pó raio cu parta. Nunca mais o bi nim parcebi o que ele quis dizer caquilo.

Uma das minhas histórias que nesse dia de Marcado de 1968 li im boz alta foi esta, ainda ma lembro, parece que foi onte:

A história da Mulher-Home

Era uma bez um mulher belha que bibia na Palhota e lababa roupa o dia intero no sê tanque com sabão azul e branco. Lababa a roupa da alta burguesia caramela, dos sobrinhos e primos do José Maria dos Santos. Esta mulher falava muito, taba sempre a falar, mesmo se tibesse sozinha. E o engraçado era que nã era capaz de terminar uma frase sim dizer "home". Se alguém binha buscar a roupa, ela dizia, "então ta limpinha ó não, home?” ou quando apanhaba batatas sozinha, dizia para si própria "hoje bou fazer batatas com toicinho, bai ser uma boa traçaige, ai bai bai home!” ou à noite quando ditada de barriga pó ar a comer figos cuntemplava as estrelas da imensidão caramela, dizia pa quem a quissese obir: "tanta luz lá im cima, home, parece aquaise a festa da Atalaia, mas im silêncio, sem o som da morteraige, home!”.

Conta-se que num dia de neboero essa mulher ia a andar pelo acero afora e incuntrou uma caixa de costura muito bela. Com a sua curiosidade disse logo: "alto, quei isto home?!!”. Parou, olhou para os lados a ber se habia mais alguém por ali e só abistou a canzoada do Albino Aparbalhdo, que ainda eram mais parbos cu dono. Pegou na caixa cum cuidado e abriu ela muito lentamente espreitando lá par dentro, com um olho fechado e outro aberto. A caixa estava bazia mas passados uns segundos começou a ditar mais fumo que um meio-bidon a dar vazão im horas de ponta. Quando o fumo desapareceu estava diante dela um ser esquisito, que taba de péi, mas que não tocava com os chispes no chão, dir-se-ia que boiava no ar e parecia uma mistura de faquir do Circo Mariano com equilibristas dos Irmãos Avelinos e tinha ainda um cigarrito ao canto da boca, que afinal era de onde binha o fumo todo. O ser olhou para ela (de braços cruzados) e disse calmamente: "libertaste-me da caixa de custura e agradeço-te por isso. Diz-me, quais são os teus desejos, tens direito a três, a ber se na pedes todos duma bez!". A velha mulher, para não cair no chão com o susto e admiração, acocorou-se e respirou fundo. Ficou assim durante uns breves segundos, de olhar fixo nos olhos no home que falava. Depois pinsou que o melhor era aprobeitar e disse: "ai sou a tua patroa?! Atão quero que me transformes numa jovem mulher, home!”. "De certeza?!! o teu desejo será satisfeito” disse o home do circo, e num instante a velha transformou-se numa jovem mulher-home, com um par de mãos que mais pareciam as do Albanito da Motoserra e um bigode á Talau numa cara de jovem. A mulher quando se apercebeu disso, disse em aflição:”nã, nã era isso, eu quero que me transformes mas ei numa bela mulher, home!”. "Bem, nã há problema, ainda tens dois desejos. Assigura-te que ai bai!”. Num instante apareceu uma bela mulher-home, um pouco mais belha do que a primeira, agora com pernas peludas e arqueadas, um barrigão tipo Belarmino Pançudo e uma face realmente bela, mas com pêlos nas orelhas e a unha do dedo mindinho da mão direita bastante saliente. Tinha também umas calças de fazenda e uma nabalhita no bolso. De novo a mulher protestou: "Não ei nada disto, tás parbo ó quei?!!”. "Podes pedir ainda um desejo minha Mestra, tudo o que quiseres eu te darei”, disse o home da caixa de costura. A mulher insistiu mais uma bez: "Home, be lá se não falhas agora, transforma-me outra bez numa mulher, mesmo se for belha não faz mal, mas só quero ser novamente uma mulher, home!” Assim foi, voltou a ser uma velha mulher, mas desta bez uma velha-mulher-home. Quando acabou o último pedido, o home-coisa desapareceu, só ficando a caixa de costura e novamente uma fumarada capaz de inxotar mosquitos de todos os charcos das redondezas. E foi assim que ainda hoije se hoube falar na mulher-home, que dizem os mais intigos deambula pela Palhota em noites de Lua Cheia, com uma caixa de costura nas mãos, a coser os homes e as mulheres uns ós outros.

21.7.11

OS GAITEIROS DA BARDOADA E O TENDEIRO DA LOIÇA

A FLC continua com as LEITURAS DE BERÃO dando espaço à mais intiga associação caramela da cultura tradicional nocturna que é o “Recreio Oral de Fábulas Improbisadas e Ladainhas Aldrabadas” (R.O.F.I.L.A.).

Esta rubrica serbe pra toda a família contar ao sarão, e prá gaiataige reaprinder a obir histórias intigas à bolta dum sorvete. Atão prestim lá atinção.


OS GAITEIROS DA BARDOADA E O TENDEIRO DA LOIÇA

Havia no Pinhal Nobo um grupo de gaiteiros da Bardoada que andabam esmorcidos porque sempre que tocabam, só os cabeçudos é que balhabam. O resto do pobo ficaba embezerrado a olhar pró rumor das gaitas de foles. Num belo Domingo de Marcado, os gaiteiros, fartos de berem só os cabeçudos a balhar, deslargaram as gaitas e jogaram elas par dentro duma canastra das bindimas (ainda com restos de uba) e puseram-se a buer binho da Cascalheira pra consolar a tristeza. Enquanto estabam entartidos com o grau, apareceu um cão badio, começou a chirar as gaitas de foles, deu três boltas à canastra, alçou o pernil e espatou uma mijadela nos instrumentos caté parecia uma açorda de polvo. Nesse instante outonal, caiu um balente relâmpago sobre a canastra deixando as gaitas com um chiar nobo. Foi esta rara mistura de acontecimentos (restos da bindima + mijadela de cão + relâmpago), que deu às gaitas um poder extraordinário. Nesse Domingo, já lusco-fusco, quando passava um tendeiro com um jumento carregado de loiça, os gaiteiros puseram-se a tocar como se nã houbesse mais amanhã: friii-friiii-tiriri-tiriri... rititi-friiiuuiiiiim... trolaró-trolarééé... Tanto o tendeiro como o jumento puseram-se rabitesos e deram logo em balhar que nem uns perdidos. Com tantos pulos, coices e cambalhotas que deram, em pouco tempo a loiça fez-se im cacos.

Gritava o tendeiro aos gaiteiros que não tocassem mais, mas estes, todos cuntentes com o acontecimento, só tiraram a gaita dos beiços quando não habia uma só peça de loiça inteira.

Com os bofes de fora e o sangue nas bentas, o tendeiro foi-se logo queixar à GNR.

Passado uns tempos os gaiteiros foram chamados a tribunal. Disse o juiz aos gaiteiros:

- São acusados de terem partido a loiça deste homem.

- A gente nã samos culpados. A gente só tocámos à gaita e esse home a mais o burro puseram-se a balhar feitos parbos.

- E têm aí as vossas gaitas?

- Temos sim sr. Juiz, andamos sempre mais elas.

- Então toquem lá à gaita. - ordenou o juiz, sentado na sua poltrona.

Os gaiteiros meterem as gaitas ao beiço, tiberam meia hora a afinar umas cas outras, e puseram-se a tocar friiii-friiii-tiriri-tiriri... frrnzziiiiimmm-trolaréééééé... trilariiiiiiiiim... caté zunia nos obidos.

O tendeiro da loiça, que a esse tempo estaba a limpar as cagaitas das unhas, pegou na cadeira e pôs-se a balhar com ela. O juiz agarrou no seu martelo e começou a acompanhar a modinha dando belentes marteladas na tampo da secretária, à maneira dos Bardoada, caté ia tudo pus ares. A mãe do juiz, que moraba logo ali ao lado, estava entrebada na cama há mais de sete anos, prega um pulo da cama e entra pu tribunal à Homem-aranha e poz-se a balhar tamém, batendo as palmas e cantando:

Bá de folia

Bá de folia

Q'há sete anos

Ê nã me mexia.

E assim se converteu o tribunal numa animada sala de bairaricos, pois até a GNR, os cacetes, as cadeiras, os tinteiros e todos os móbeis se puseram a saltar e a balhar.

Passados alguns momentos pediu o juiz aos gaiteiros que acabassem de tocar e eles, passadas duas horas obedeceram imediatamente, pois biram que tanto o tendeiro como o juiz, sua mãe e a GNR nunca tinham suado tanto na bida, pois estabam todos que nem barrascos depois de cobrirem uma dúzia de porcas de 400Kg.

Depois do juiz limpar o suor disse para os gaiteiros:

- Podem-se ir embora sem culpa nem pena, porque são homens bons que até curaram a minha mãe, que há muitos anos não se podia mexer na cama.

E os gaiteiros sairam do tribunal contentes e sastesfeitos e foram im direito à Associação de Reformados fazer um balho psicadélico caté a reformadaige, a balhar im tronco nu em cima das colunas e grades de mines, parecia que estaba toda indrogada... mas não! Era apenas a magia das gaitas.

E AGORA ÉS TU DESINSAIMADO,

IMBENTA PIRIPÉCIAS, ACRESCENTA UM PONTO

PRA AUMENTAR ESTE CONTO,

PÕE O GAIATO DESIDRATADO.

13.7.11

LEITURAS DE BERÃO

A FLC abriu aqui neste baldio, uma clareira para entrar a mais intiga actibidade da cultura expontânea caramela que é o “Recreio Oral de Fábulas Improbisadas e Ladainhas Aldrabadas” (R.O.F.I.L.A.).

Esta rubrica serbe pra toda a família contar ao sarão, e prá gaiataige reaprinder a obir histórias intigas à bolta dum sorvete. Atão prestim lá atinção.


O SAPATEIRO E O SPLOINE

Habia um sapateiro que trabalhaba à porta de casa e todo o santíssimo dia cantarolaba lindas cantigas de sua autoria imbentadas na hora (como o “Ó raspa, ó raspa, ó raspa”, “Ao saltar a bala da Salgueirinha, molhei o chispe puz o pé” entre outras). Ele tinha uma ninhada de filhos que andabam sempre à padrada pa rua e opois iam aos cachos de ubas pla borda dos aceiros ali em Baldera, pra matar a fome. À noite, enquanto a mulher fazia a ceia, o home puxaba das canecas, bacias, gamelas e púcaros, e tocava os seus batuques todo coutente da bida. Era uma alegria.
Ora, defronte do sapateiro moraba o Sploine, que era um home ricaço, que reparou naquele biber e teve pelo sapateiro tal compaixão que lhe mandou dar um talego de dinheiro, porque o queria ber totalmente feliz.

O sapateiro lá ficou admirado:

- Mau Maria! Isto chera-me a esturro!

Agarrou no talego do dinheiro e à noite fechou-se na capoera amais a mulher para o contarem. Naquela noite, o pobre home já não tocou nas canecas, nim nos pucaros, nim nas gamelas nim nada. A fedelhaige, sozinha e desalmariada, pôz-se num estrafego pa casa num cagaçal caté a galinhaige caia dos poleiros. Por isso levaram o home mais a mulher a errar na conta. O sapateiro sai da capoera (cheio de pó, penas e notas), foi a caminho da gaiataige e teve de lhes arrear pu lombo com o pau do marmeleiro. E bá roupa! Oubiu-se uma choradeira, como nunca tinham feito quando estabam com mais fome.

De bolta à capoera, dizia a mulher:

- E agora, que é que a gente faz a esta remessa de dinheiro?

- Compramos um Ferrari como o do Sploine.

- Tás parbo! E ê quero lá essas balhanas! E opois quando a gente for à barraige do Rio Frio, como é cagente mete lá dentro tanta gaiataige.

- Oh! Arranjamos um atrelado dum tractor e atamos ó carro com um baraço.

- Isso nã tem aira nhuma! Eu quero mazé uma máquina de labar a roupa que eu tenho as mãos todas arreganhadas, de labar no tanque roupaige até mai não.

- Isso não! Interrâmezio num buraco.

- Interrado?!! Opois perdemos o tino ao dinheiro. É melhor infiar ele na arca.
- Mas pódim roubar ele!... Isto tem que ser ós mês módos.

- E se a gente comprar um terreno baldio pra fazer uma pocilga? Eu sou filha de labrador e puxa-me o corpo prós porcos.

- Nessa não caio eu, opois começabas a chirar a suina.

- Suino és tu.

A pájnas tantas as coisas foram-se azedando. Palabra puxa palabra, o homem arreganha as bentas e atiça duas solhas na mulher. Berreiro duma banda, berreiro da outra, naquela noite ninguem pragou olho (nim as galinhas).

O bizinho Sploine, na sua mansão, bispaba tudo com uns binóculos de infrabermelhos, e não sabia explicar porque é que as coisas começabam a ficar de outro jêto.

Por fim, o sapateiro disse à mulher:

- Sabes que mais? O dinheiro tirou à gente a nossa intiga alegria! O melhor é ir lebar o talego outra bez ao Sploine, e que deixe a gente cá com aquela pobreza que fazia a gente amigos uns dos outros!
A mulher abraçou a ideia com ambos os chispes (porque tinha nos braços uma catrefada de roupa pra labar no tanque). O sapateiro, com bontade de boltar à sua alegria e a da mulher e da fedelhaige, foi entregar o talego de dinheiro ao Sploine. Boltou para a sua casa e pôz-se a cantar e a batucar nos púcaros e panelas, e no dia seguinte foi trabalhar e cantar nobas modinhas todo cuntente como de costume. Acabou.

E AGORA BAIS TU REPARTIR,

ABRE AS GUELAS, ACRESCENTA UM PONTO

PRA AUMENTAR ESTE CONTO,

E PÔR O GAIATO A OBIR.

5.7.11

CONSULTÓRIO DO DIA A DIA - OSGAS

Se tiberes ãinças ou buntade de dar punhada no fumo do coirato, escrebe práqui que a FLC dá-te o azeite. Tamém podes fazer as tuas précuras que temos um rancho de caramelos especializados que te dão as respostas certas.

Carta:

Ora munto boa tarde, espero que a FLC se incontre rija que nem um carril da CP, pois por aqui por Baldera está tudo balente. Eu sou caramelo desde 1945 e sou conhecido por Xico Jumento. Nã sei se estão bem a ber quim sou, sou da família dos Equídeos ali do Bal da Bila, neto do Toin Burro, aquele belho que era muita conhecido por ser mais teimoso cum Burro e até se conta por i que o home, depois de morto, teimava em nã querer intrar pró caixão. Mas isso são históiras.

O que leba a mim a escraber esta carta são as osgas. A nha casa está cheia de osgas e ê cá nã gosto nada desta bicheza. Dá-me uma raiba caté… Ê sei que elas nã fazim mal a ningueim, mas uma bez uma osga caiu dentro duma cafeteira e opois um gaiato foi buer o chá (com a osga lá dentro) e inrolou logo as unhas. É por isso que ê nã gosto de osgas. Por isso, à noite faço uma caçada, primeiro comecei a dar cabo delas à bassoirada, opois foi com a flober. Agora tenho o reboco da casa todo esburgado e problema é que isto nunca mais tem fim. O que é que me acunselham a fazer pra acabar com esta bicheza?

Obrigado pa vossa atinção.

Resposta:

Ò meu repaz, bocemecê beio lebantar um belo tema de cumbersa, que é meter a gente a falar da nossa fauna nativa. Isto porque a nossa bicheza tem sido desprezada por muita gente, deribado à opressão cultural de todo o hemisfério norte, que insistem em pôr a gente a gostar só de papagaios da amazónia, gatos persas, pastores alemães, queijo flamengo e muito mais. Mas isso bai ter de mudar. Com os tempos que se aproximam (e se os caramelos nã prestarem atenção às instruções da FLC), pode bir o dia em que toda a criação desaparece desses quintais e a fome dá em aperto. É nessa hora que bocemecê bai ter de arranjar maneira de fazer um pitéu à base de osgas que toda a família bai querer comer e chorar por mais. Se bocê nã souber fazer, pergunte aos chineses que eles sabem. A FLC sabe, de fonte segura, que no Camboja, quando a fome apertou, a maltezaria-de-olhos-im-bico começou a fritar tarântulas e a comê-las como quem come tramoços, e hoije é uma especialidade regional de primeira catigoria. Mas esta ideia de comer osgas torna-se perigosa se a sua históira (da osga que caiu dentro duma tigela de remédio prós ratos e opois um bebé foi lá buer e lerpou) for berdade, já que a gente quer é toda a caramelaige biba e sadia. Dessa maneira, a FLC foi imbestigar essa tal históira que bocê contou.

Das imbestigações efectuadas ficámos a saber que:

- Na zona da Benda do Alcaide, a osga caiu dentro dum alguidar de sopa e uma moça (lá prós lados do Lau) foi lember o choriço e esticou o pernil.

- Na zona do Lau, a osga caiu dentro da açorda e um gaiato (lá prós lados da Palhota), foi ao cheiro do bacalhau, lembeu as bordas da gamela e inrolou as unhas.

- Já na zona da Palhota, a osga caiu dentro dum balde de papas de milho e o home (lá prós lados do Poceirão) foi comer e… deixou a farinha para os outros.

- Opois na zona do Poceirão, a osga caiu dentro duma frigideira e um gaiato (lá prós lados da Carregueira) foi comer um pudim e bateu as botas.

- Por fim, na zona da Carregueira, a osga caiu dentro duma garrafa de binho e um moço (lá prós lados da Benda do Alcaide), foi-se ao frasco da marmelada e patinou.

De todas as histórias recolhidas, os especialistas chigaram à conclusão que a osga era sempre a mesma, e todos aqueles que bateram a canastra (por causa da osga) eram tamém o mesmo, e era uma pessoa afastada… “ali práquelas bandas”. Por outro lado, à medida que as imbestigações intrabam em detalhes, a história intranhaba-se nas profundezas do tempo ao ponto da osga cair dentro duma pastilha elástica do D. Afonso Henriques e a mãe dele (armada im parba) foi roer a pastilha e lerpou.

Mas, dada a convicção com que as histórias foram contadas, a FLC não ficou descansada e partiu prá imbestigação em laboratóiro. Assim, fizemos com que as osgas caíssem naturalmente dentro de tubos de ensaio para opois serem processadas até ficarem crocantes. Opois foram metidas dentro de papo-secos com manteiga, e daí foram infiados dentro duma embalagem de esferovite (colorida com palhaços e oferta dum urso de borracha). Este produto secreto foi oferecido às equipes de futebol infantil caramelo, que serbiram como cobaias da nossa experiência. Foi assim que a fedelhaige, quando acabou um jogo, esgalgados cum fome, começaram a comer este artigo gastronómico caté pareciam os reformados a garriar e a comer sardinhas de borla nas festas. Os resultados foram esbrutificantes: já com as osgas no bucho, os pequenos atletas pareciam zundapes de escape libre a trabalhar a querosene. Boltaram logo pró campo e começaram a jogar à padrada (com os ursos de borracha) tal era a forçaria e entusiasmo físico. Foi intão que a FLC certificou a osga como produto natural caramelo de interesse gastronómico.

Agora, oh Xico Jumento, o melhor é bocemecê deixar os bichos à buntade lá no seu domicílio, pois já sabemos que tem uma reserba nutritiba de grande balor calórico. E como os caramelos balorizam toda a bcheza que é boa pra comer, já nã há razão pra odiar os bichinhos. A partir de agora a históira que bocemecê bai contar é esta: “um dia destes caiu uma hamburga BigMac (cheia de maionese-peçonha) dentro dum púcaro do leite e um gaiato (ali práquela zona) foi buer o leite e bateu a caçoleta”. Só assim se repõe a berdade da nossa cultura e a preserbação das espécies autóctones.

Resposta do Zoólogo-Magarefe

(especialista em de bichesa badia como ratazanas,

escarabelhos, sapos, lagartas do pinheiro, lesmas e cágados), Ti Virgolino do Talho.

Mais uma missão salbadora da cultura e fauna caramela.