7.4.12

VIA SACRA CARAMELA

Dada as festividades pascais, e em tom de comemoração do 7º anibersário da ocupação deste baldio, a FLC decidiu transmitir aqui a Bia Sacra Caramela, retirada dos intigos pergaminhos encontrados debaixo do naperon do altar da capela do Rio Frio.

Eis a transcrição:

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1ª estação: Toin-Jjus está em sua casa, na Fonte da Baca. Refastelado no sofá, ele lembra-se que está com uma certa sede e por isso lebanta-se pra ir buer uma mine no café ali ao lado “Ou bébezias ou mamazias”.

2ª estação: Toin-Jjus infia-se par dentro da sua fargoneta e dá à chave. No entanto, a farguneta nã pega e fica mais teimosa que um burro espanhol quando a palha nã lhe agrada. Toin-Jjus fala à farguneta: “Tóoo, tás teimosa? Hã?!! A gente já bai ber quim é que éi teimoso.”

3ª estação: Toin-Jjus, malino, salta cá pra fora e espeta um pontapé no guarda-lamas caté descolou um bocado de estrume calcinado que já lá estaba desde 1969, e diz: “Toma lá que é pra aprinderes quem é que manda aqui.”

4ª estação: Toin-Jjus bai esbaforido tipo tiro, a coxear pelo carreiro, até ao monte do bizinho, Zei Pedro, que está na graça do dia a dar de biberão a uma dúzia de bezerros órfãos de pai. Toin-Jjus diz ao bizinho: “Deslarga lá essa adoração da bezerraige e bem mais eu pra impurrar a fargoneta, que está bruta que nem uma deputada em noite de lua cheia, e eu preciso de ir buer uma mine.”

5ª estação: O bizinho Zei Pedro assenta-se aos comandos do beículo, enquanto Toin-Jjus, teimoso e sedento, empurra a fargoneta que bai deslizando lentamente carreiro afora.

6ª estação: Dois quilómetros mais à frente, Toin-Jjus continua a empurrar com balentia pelo meio das erbas num campo baldio, e diz então: “Se nã deslargares a imbriaige, só com um milagre é que ela trabalha.”

7ª estação: Já na Salgueirinha, o bizinho Pedro engata a terceira e deslarga a imbriaige. A fargoneta dá três peidos petrolíferos, cada peido uma nubem de fumo negro, cada nubem um solavanco, cada solavanco um estilhaço de poeira que salta prós olhos de Toin-Jjus que cai pela primeira vez de bruços. Um bando de gaiatos parbos acompanha passo a passo, e com grande alegria, este tormento.

8ª estação: Toin-Jjus, ergue-se e caminha coxo, mas ganha um alento extraordinário, bindo do seu interior brabio, e começa a impurrar a fargonete que nem um perdido, até parece uma automotora descomandada na Lagoa da Palha. A gaiaiaige chama mais gaiataige e canzoada.

9ª estação: Pedro começa a apitar enquanto a fargoneta segue plos aceiros, empurrada pu Toin-Jjus, perseguido por uma resma de gaiatos a mais um cardume de cães a ladrar, desconfiados de tanto cagaçal e força brabia.

10ª estação: Toin-Jjus chega à Palhota e cai desfalecido no meio duma poça com arrãs. Ele aproveita pra molhar as beiças de tanta secura. A canzoada olserba em silêncio e a ofegar com a língua de fora. A gaiataige chama o povo que se ajunta às centenas pra acompanhar neste suplício.

11ª estação: Toin-Jjus, chega à Benda do Alcaide todo rasgado, enlameado e ressequido a mais uma multidão de seguidores caté parece a manifestação a favor do pão com manteiga barrado dos dois lados. A polícia de choque entra em ação e desata à mocada a toda a gente caté cria bicho. Ninguém dispersa e Zei Pedro fuma uma cacilhada a guiar a fargoneta em procissão vagarosa.

12ª estação: Já na Bolta da Pedra, chegam num alvoroço à casa do amigo Quim Judas pra pedir o auxílio derradeiro. A estrada está num motim completo com o povo a gritar, canzoada a morder, polícia a inxertar, os porcos a grunhir e os galos a cantar. Chegam as primeiras roulotes de farturas e os monhés com balões.

13ª estação: Toin-Jjus arrasta-se pu passeio e bate no portão da casa de Quim Judas. Judas aparece todo fresquinho, com uma mine na mão, e pergunta ao povo agitado: “U que é que se passa aqui? Hã?” A populaça engalfinha-se em respostas, opiniões, juízos e sentenças de todo o fitio ao mesmo tempo caté os jornalistas do Jornal do Pinhal Nobo ficam aparbalhados com o milagre da multiplicação da informação. Esclarecido, Quim Judas aponta pra Palmela e diz: “É preciso pôr a farguneta lá no alto, pra opois pôr ela a descer.”

14ª estação: Toin-Jjus encontra-se fustigado que nem um barrasco depois de cobrir 470 porcas de seguida, mas ainda assim empurra a sua fargoneta ladeira acima até ao castelo de Palmela. Multidões e bicheza acompanham ele em romaria, devoção, fé, punhada, coices e cornadas. Alguém diz: “Ou o home andou a buer querosene ao pequeno almoço, ou isto é um milagre!”. A mensaige espalha-se ainda mais e logo chegam acordeonistas e cantadeiras, suinicultores e reformados, costureiras e aleijados, cabras, borregos, ordenhadores e enjeitados. Chegam tamém tendeiros a bender bandeiras e galhardetes, as roulotes de bifanas nã têm mãos a medir, os polícias tamém não, e os ciganos aproveitam pra bender pensos e pentes.

15ª estação: Toin-Jjus chega ao castelo ca sua fargonete. Lá no alto nove camiões regam as multidões com grau da cascalheira e os círios lançam foguetaige rija. O castelo está a cagulo de gentio à bolta da farguneta e dos fogareiros que nã dão basão a tanto coirato. Nesta epopeia espera-se o milagre. Toin-Jjus amonta-se na sua fargoneta e bai ladeira abaixo que toma um tal balanço em queda livre que chega à Fonte da Baca, imobilizando-se à porta do caféi “Ou bébezias ou mamazias”.

16ª estação: Toin-Jjus bebe uma mine e inspira fundo. Ele sente-se como se tibesse renascido, e diz as palabras bíblicas: “Isto hoije cheira aqui a borregum!”

Boa Páscoa

e

parabéns à FLC que há sete anos anda a lutar pela cultura caramela.