PUDINS DE PENSAMENTO
Uma
crónica sobre o
existencialismo caramelo e outros distúrbios da realidade,
com a assinatura da Associação Académica
"Os Sefosseus"
O dircurso oral caramelo tem um
mecanismo testado e aperfeiçoado desde os tempos que as caramelas
mijabam dim pei, por debaixo das sete saias (um home só sabia disso
quando bia nelas um olhar cândido e infinito, e ao mesmo tempo um
lago a crescer debaixo dos chispes). Uma cumbersa caramela está está
sempre cheia de fertilizantes linguísticos e cresce até se tornar
intelectualmente inacessível para um palmelão... ou lá o quer que
seja. Quando a faladura se torna performativa, a linguaige é
ornamentada por uma bela sessão de punhada a geitos de ilustrar as
posições de cada um e desencardir todos participantes. Mas isto já
toda a gente sabe. O que se quer aqui rebelar é um dos pontos mais
importantes e misteriosos do discurso caramelo que pouca gente
conhece, mas aplica no seu dia-a-dia.
Atão é assim: toda a cumbersa
caramela, a dado momento, dá uma cambalhota e um coice imaginário.
É o momento que inquieta e atrai, um ponto que desperta o caramelo
para uma metafísica popular capaz de espumar todas as cabeças a
mesma seiva mental.
E esse momento determina-se quando
alguém, em alta voz, começa a frase assim: “Se fosse eu...”
Falamos pois, do ponto “Sefosseu”.
Trata-se do momento cumbersatibo onde o
orador pode dzer o que lhe bai nos neurónios caramelos em todo o seu
explendor sem efeitos intelectuais retroativos. É o momento da arte
e dos instintos, o lugar em que a comunicação adquire o estatuto de
liberdade e poesia.
Estudiosos da FLC já conseguiram
distinguir seis tipos de Sefosseus, os quais apresentamos
exemplos tirados de bários cafés e tremoçarias da nação.
O Sefosseu heróico-destemido:
“Se fosse eu, escalava logo ali
par cima dum eucalitro, opois saltava par cima cornos do boi, ia
amontado nele até à do Toin Barbante pra buscar um baraço, opois
prendia o bicho à automotora da meia noite e um quarto. Queria ber
se ele me marraba. Era o marrabas! Quando ele pensaba em abançar, já
os cornos estabam no Poceirão!”
O Sefosseu abstrato-incógnito:
“Se fosse eu, eles habiam de ber
como é que era! Nim sei o que fazia, era o que era!”
O Sefosseu bélico-apocalíptico:
“Se fosse eu arrebintava com
aquilo tudo... e quem ficasse ai ai ai, ainda
lebaba com uma marretada pas trombas caté os olhos iam parar ao
Samouco. Só ficabam os escarabelhos pra arrumar o esterco.”
O Sefosseu onírico-delirante:
“Se fosse eu, com 150 milhões...
só pra começar artilhaba a minha minarda com asas de prata e duas
turbinas em labaredas, pra caçar pardais, a fazer toques de embriage
em pleno voo ca minha flober.”
O Sefosseu
escárnio-blasfemizante:
“Se fosse eu, dizia a ele pra
comer merda de galinha à colherada mais a puta cu pariu!”
e por fim o Sefosseu
mixordio-aparbalhado:
“Se fosse eu entrava lá par
dentro com uma limosine im chamas e começaba a escarafunchar com a
minha nabalhita até eles terem que fugir par cima dum poste de alta
tensão... opois, com um baraço pinduraba eles de cornos pra baixo
caté...!”
Naturalmente nem todos os cidadãos
podem usufruir desta dádiva comunicatiba. Falamos por exemples do
parsidente Amaro, que, a meio dum discurso nã pode dzer “Se
fosse eu atirava os pedragulhos do castelo pu barranco abaixo e
alcatroava o morro todo pra fazer uma pista de obstáculos prás pcicletes.” Ele nã pode, mas qualquer caramelo pode!
Ou, noutro exemplo, o padre a meio da
missa não pode dzer “Se fosse eu, lá no céu, era só cobrir,
cobrir, cobrir e buer o binho sagrado do Cajó com parsunto até ao
arrebatamento total.” Ele nã pode, mas qualquer caramelo pode!
Estudos rebelam que sem o ponto
Sefosseu, a comunicação caramela tende a extinguir-se no
silêncio (a obir-se apenas os porcos a darem notícia lá ao longe
ou, ebentualmente, o grunhido dum telejornal). Por isso conclui-se
que qualquer cumbersa tem por finalidade chigar o mais rápido
possíbel ao ponto Sefosseu para desencadear um deleite mental
à desgarrada.
O momento discursivo Sefosseu é a
forma de dizer a berdade uns aos outros, o exercício do
autoconhecimento, a expressão do pinsamento selbaige. Quem faz
cumbersa no momento Sefosseu, é, afinal, ele próprio
em toda a sua natureza brabia.