Biagens pela Caramelândia
Palhota. Escola Primária. Meio da manhã. O sol caramelo aquece as poças de auga fria, onde alguns porcos chapinham. Os gaiatos brincam e palreiam no pátio. É o intervalo do aprender, onde se aprende as coisas selbagens do ser. No alpendre, duas mulheres braçudas e orgulhosas, vestidas à moda Toino Brinca, observam o gado pequeno, duma ponta à outra do correr. Três pássaros no telhado a olhar para o longe. É grande a caramelândia, mesmo a voar. Na rua passa uma famel a todo o gás, debe ir direita à sede, o home bai buer a primeira mine da manhã. Enrejar a brabeza dá saúde e faz rejeza (diz a boca dos velhos na Palhota). Agora fora da escola. As bozes dos gaiatos mais baixas, rés-do-chão, casa típica caramela. As mulheres chamam o gado brabio, “benham pa dentro, a professora já introu!”. Boa voz para o rancho da Palhota, devem andar lá, amanhã há ensaio, não se esqueçam. O porco adormeceu na poça. Focinho de fora. Parece um crocodilo. Crocodilo-caramelo a grunhir de felicidade. Do outro lado da rua. Calma da manhã. Mercearia da Ti Zulmira dos Pitromaxs. Bende tudo. E mais alguma coisa. “É só dzer”, diz ela. Há diálogo. Há tempo. Há freguesas. Depois é o almoço. Talvez chispes ou dobrada. O home hoje debe de bir a casa. Há diálogo im boz alta, os sacos dos abios, repousam no chão:
-éi
-nã éi!
-éi!
-nã éi!
-o mê gaiato disse que éi!
-e tu acraditas no gaiato?!!
-atão o gaiato éi esperto!
- éi parbo!
-éi esperto!
-éi parbo!
-a terra éi radonda!
-tás parba?!!
-e anda à bolta do sol!
-comós carroseis?!
-sim!
-atão a terra éi um carrosel?!!!
-mais ó menos…
-e éi radonda como uma laranja?
-mais ó menos…
-atão, éi ó nã éi? Primero dizes que sim, ódepois já nã éi?!!
-tu éi que tás a dzer isso…
-eu?!!debes tár párba!
-párba és tu!
-és tu, amais as ideias parbas do tê gaiato!
-tá calada, bê lá mas éi!
-o quéi?
-tás parba, ó quéi?
-ai éis?
-quem?
-eu, secalhar, nã queres tu bêr!
-bái mas éi ber se ê tou no marcado do Pinhal Nobo, a cumprar çaroulas ós ciganos!
-bai mais éi tu ber se ê tou a cumprar rabuçados pá tosse na raforma agráira.
(…)
-éi radonda e anda à bolta do sol!
-e eu sou neta do Zei Maria dos Santos!
- bai mas éi chafurdar na lama amais os porcos
-olha, bai mas éi à merda!
-éi!
-na éi!
E por aí fora, nos aceros da língua em inxovalho crescente, mas sadio. Pelo menos intartãe, diz a Ti Zulmira dos Pitromaxs. Já há mais gente na mercearia. À bolta delas. Oubem cum atinção. Ao longe, o toque do mí-dia. O home já debe ter chegado a casa. Nim almoço, nim mulher. Bai haver punhada e garreia lá im casa.
-éi!
-nã éi!
(…)
-nã éi!
-éi!
-nã éi!
-o mê gaiato disse que éi!
-e tu acraditas no gaiato?!!
-atão o gaiato éi esperto!
- éi parbo!
-éi esperto!
-éi parbo!
-a terra éi radonda!
-tás parba?!!
-e anda à bolta do sol!
-comós carroseis?!
-sim!
-atão a terra éi um carrosel?!!!
-mais ó menos…
-e éi radonda como uma laranja?
-mais ó menos…
-atão, éi ó nã éi? Primero dizes que sim, ódepois já nã éi?!!
-tu éi que tás a dzer isso…
-eu?!!debes tár párba!
-párba és tu!
-és tu, amais as ideias parbas do tê gaiato!
-tá calada, bê lá mas éi!
-o quéi?
-tás parba, ó quéi?
-ai éis?
-quem?
-eu, secalhar, nã queres tu bêr!
-bái mas éi ber se ê tou no marcado do Pinhal Nobo, a cumprar çaroulas ós ciganos!
-bai mais éi tu ber se ê tou a cumprar rabuçados pá tosse na raforma agráira.
(…)
-éi radonda e anda à bolta do sol!
-e eu sou neta do Zei Maria dos Santos!
- bai mas éi chafurdar na lama amais os porcos
-olha, bai mas éi à merda!
-éi!
-na éi!
E por aí fora, nos aceros da língua em inxovalho crescente, mas sadio. Pelo menos intartãe, diz a Ti Zulmira dos Pitromaxs. Já há mais gente na mercearia. À bolta delas. Oubem cum atinção. Ao longe, o toque do mí-dia. O home já debe ter chegado a casa. Nim almoço, nim mulher. Bai haver punhada e garreia lá im casa.
-éi!
-nã éi!
(…)
10 comments:
Eu tibe nessa cumbersa. Eu aicho que éi.
Bela cumbersa essa.
Isso é uma conversa a Comuna, cheia de mentiras.... pobres Caramelos
eu acho que ei, a terra é redonda. Bela conversa, fiquei com vontade de ir á Palhota. Eu sou das Lagameças e sou bruto.
Devo dizer e afirmar sem qualquer medo de represálias que não considero os comunistas mentirosos, pois privo de perto com muitos que assim se afirmam e nunca deles ouvi mentiras, nem de ninguém que nos governa. Portanto quem atira bocas dessas como o sr. tibério deveria ter a coragem de explicitar melhor as suas ideias, não se escondendo atrás de identidades que nada acrescentam á comunidade que aqui vem, avidamente ler os novos posts.
Eheheheh! Ganda cunbersa!
ê cá acho que nã éi... ma tamém na bou dizer porquê
bou além fazer pioes co joper.
Mais um clássico chiinho de pontos final. Os pontos final parecim milho partido, mas a gente gosta. èi nã éi?
Estamos no tempo das matanças, e muita é a mortandade que vai por essas aldeias, com os cochinos em alto grunhidoiro nas manhãs gélidas. Uns matam por tradição, outros por manifesta necessidade, porém todos por apreciarem a boa carne dos porcos que medraram no chiqueiro.
MatançaCorre desde há uns anos forte e decidida campanha contra a mortandade do animal, sacrificado sobre uma banca, em acto atroz de absoluta impiedade. Clama-se que tal prática, ainda que ancestral, é atentatória à dignidade do animal. Parece-nos, contudo, que ainda ninguém clamou contra o consumo da carne de porco, nem os enchidos, nem os presuntos e os torresmos. Isso é que era bom! A carne é saborosíssima, e enche as medidas a qualquer apreciador da boa culinária, ainda que muito se fale em dieta e em comidas light, que em português escorreito seria melhor dizer limpa de fortes valores nutritivos.
Ora, perante tal contradição – o gosto da carne versus a protecção do animal que a fornece – encontrou-se um argumento de peso: a falta de higiene e de controlo sanitário. Nada há contra a morte do marrano, desde que aconteça em matadouro, sob o controlo das entidades fiscalizadoras, de forma a garantir-se a qualidade da «fazenda».
Ora, cabe-nos perguntar, que melhor garantia há para a qualidade da carne, do que ser o próprio consumidor a matar, limpar e desmanchar o seu marraninho, cevado na sua cortelha, a trato de bolotas, saramagos e retassos, sem que uma pitada de ração de compra lhe entrasse no bucho? É morto à frente de todos os que vêm para ajudar ou que passam na via pública e se assomam, sem receios de mostrar que o bicho quando vem para o banco traz boa saúde e é com absoluta limpeza e asseio que é tratado desde que a faca lhe entra no gasnete até ir para o chambaril, ser desmanchado e partido para as diversas peças do enchido que haverão de atestar o fumeiro. Que melhor garantia do que essa de ser o próprio consumidor a tratar do seu sustento?
Mas não, os senhores mandantes, ocultando estranhos interesses, vêm reclamar a pureza dos novos métodos do matadouro. O que na verdade se passa no açougue, só o sabe quem lá trabalha, entre as quatro paredes, longe das vistas públicas, aproveitando tudo o que há para aproveitar, ainda que centrifugado para salsichas e fiambres, comendo depois o consumidor uma pasta de carne gustativa, mas toda de igual sabor, independentemente do tipo de alimentação que o animal teve.
Deixem-se de hipocrisias. O que essas leis proibitivas e atentatórias aos costumes pretendem, é servir interesses comerciais instalados, que fazem pressão sobre quem decide, para que se ponha fim à matança do porco doméstica, para que mais salsichas cozidas venham para o mercado.
Ainda que os tempos sejam outros e que falte gente nas nossas aldeias, o porco deve continuar a ser morto nos currais e à beira das estradas, não apenas nas aldeias, mas também nas vilas e nas cidades, para que se demonstre que o povo quer estar bem servido, quer comer o que sabe ser de qualidade e estar sujeito a regras de limpeza e de salubridade que faltam nos estabelecimentos industrias. Esteja o povo fiel ao antigo adágio: faz a matança e enche a pança.
Viva a matança do marrano!
Paulo Leitão Batista
A FLC, ANDA A LUTAR PELA LIBERTAÇÃO DA NOSSA CULTURA, POR ISSO APOIA ESTAS INICIATIBAS. MUITO BEM.
ê ca tou parba ca esparteza da ti coisa dos pitromax k inda hoije na se k raio d m**** e essa...
e né ca melher e esperta...cum certeza k andou na escola velha do alto estanquero, onde eu tb andi e aprendin tudinho o k se hoije...tudinho ate a fazer xixi xem mijarv as fitas do xtido...
ass. caramela du alto estanquero...akilo onde se passa quando se vai po forum ou pas festas da atalaia ver o arrematar da banderas!
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