Grande entrevista (3ª e última parte)
(…) Eu era o mais guloso, era à colherada pó buxo, à ganância açucarada. Eu amais o Albanito do Solstício, o Vítor Agrário e o Florindo Paleólitico, inbentámos uma traçaige noba: comíamos coiratos que ficabam de um dia pó outro com açucre, rijos que nim chaparia mas docinhos cmó mel, era mais ó menos meio saco d’açucre por cada coirato, por isso hoje acho graça à bossa nobela, nunca perco um episóido dos Coiratos cum Açúcar ó lá o quéi! E ódepois (saiu a 10ª grade de médias, esta taba em cima da paraige) a nossa brincadera faborita, quando nã estábamos na época nem de armar ó bisgo nem da pesca nocturna-clandestina do Lagostim na Chaboca, era andar á padrada uns cus outros. Ora, uma coisa e outra, deram-me cabo da cramalheira, mais os insaios da padrada do que o açucre e quando fiz a tropa já só tinha três dentitos, dois deles quase a cair da boca abaixo. Nã me importaba, sempre cuntinuei a traçar coirato e costeleta de porco.
Ora bem, uma bez na Feira de Maio da capital, os homes dos carros de choque anunciaram no altifalante que o seu chefe (o que só bende fichas, na faz mais nada, ele é que manda) oferecia uma recompensa por quem lhe desse alguns dentes que lhe faltabam na sua cramalheira, o home caria traçar torresmos e torrão d’alicante e nã cunseguia. Eu, manhoso coma ciganaige do Marcado do Pinhal Nobo, tratei de pricurar o que eles dabam im troca: um dente de ouro, uma balente sacada de fichas amais andar num carro de choque artilhado sempre que quisesse. Nim pinsei duas bezes. Disse que oferecia os mês dentes todos (aqui inganeio-os, pois eles já nã eram muitos, só por causa disto, bamos buer atão a abaladiça!). Lebaram-me ó chefe lá na cabina, abri a boca, ele pôs uns óculos de ber ó perto, olserbou cá par dentro e disse: são mesmo esses que eu procurava!; já mos cariam arrancar logo ali com uma gazua de assentar o chão da pista, mas eu apanhei medo e disse que no outro dia lá estaria com os dentes.
Ora bem, uma bez na Feira de Maio da capital, os homes dos carros de choque anunciaram no altifalante que o seu chefe (o que só bende fichas, na faz mais nada, ele é que manda) oferecia uma recompensa por quem lhe desse alguns dentes que lhe faltabam na sua cramalheira, o home caria traçar torresmos e torrão d’alicante e nã cunseguia. Eu, manhoso coma ciganaige do Marcado do Pinhal Nobo, tratei de pricurar o que eles dabam im troca: um dente de ouro, uma balente sacada de fichas amais andar num carro de choque artilhado sempre que quisesse. Nim pinsei duas bezes. Disse que oferecia os mês dentes todos (aqui inganeio-os, pois eles já nã eram muitos, só por causa disto, bamos buer atão a abaladiça!). Lebaram-me ó chefe lá na cabina, abri a boca, ele pôs uns óculos de ber ó perto, olserbou cá par dentro e disse: são mesmo esses que eu procurava!; já mos cariam arrancar logo ali com uma gazua de assentar o chão da pista, mas eu apanhei medo e disse que no outro dia lá estaria com os dentes.
Assim foi, fui ao Rui Ferrador logo ali ao lado e o home lá me arrancou o resto da cramalhera. Fiquei com fichas pó resto da feira de Maio, tibe as parigas todas que quis, fui o rei da pista, tibe o cuidado de só comer coirataige menos rija e no final, boltei ao Rui Ferrador pa ele me aparafusar o mê nobo dente douro com qualquer coisa que tibesse à mão.
Chaguei aos Olhos d’áuga de carrinho de choque (o home-dono da pista ficou mesmo cuntente e atei me emprestou um carrinho de choque que depois o Rui Ferrador retficou pa andar no asfalto e terra batida sim ser praciso botar fichas) e todos se admiraram com o mê dente, as parigas sorriam par mim e eu pinsei, hás de ter mais destes na tu boca, hás de ser um home raspeitado. E assim foi, fui coleccionando, a pouco e pouco, ora cumpraba um, ora cunpraba outro, atei que depois de muitos anos tenho esta cramalheira de fazer inbeja ao Rei-Rapa. Agora bou leiloá-la, já tá à benda em toda a caramelândia, nas sedes e colectibidades, quem der mais fica cum ela e bou ódepois cuncretizar o mê sonho: construir um posto de olserbação da estrelaige pá nha neta.
O Babuíno Aluado (grande inventor caramelo) também já tá todo intusisamado e já deu esta ideia: montar uns andaimes im forma de torre bertical, com uma altura nunca bista na caramelândia, mais alta do que daqui-ali (levanta-se e aponta lá pó longe com o dedo esticado, nim ele sabe bem para onde), secalhar atei mais! De dia cobre-se com um oleado por cima e pede-se a um home-artista da terra para pintar umas estrelas na parte de dentro pa inganar a gaiataige e à noite destapa-se o oliado e lá do alto, olserbamos as estrelas aquaise a tocar nelas e tamém se quisermos, pode serbir de farol, pás motorizadas que andam à noite de colectibidade im colectibidade por essa caramelândia afora, se guiarem, sabendo sempre onde são os Olhos d’Áuga (nesta altura o canito já dorme, a paraige éi agora apenas mais um vulto na escura noite). Entretanto ouvem-se passadas na gravilha. Alguém se aproxima com um pitromax, éi o Florindo Paleolítico, que se assenta ao nosso lado. O Berto da Cramalheira, feliz e aquase inbalsamado pelas médias que já inborcou diz-lhe “bens mesmo a horas, ia propor a abaladiça!”. Buemos atão a última, desta vez em silêncio individual.
O Babuíno Aluado (grande inventor caramelo) também já tá todo intusisamado e já deu esta ideia: montar uns andaimes im forma de torre bertical, com uma altura nunca bista na caramelândia, mais alta do que daqui-ali (levanta-se e aponta lá pó longe com o dedo esticado, nim ele sabe bem para onde), secalhar atei mais! De dia cobre-se com um oleado por cima e pede-se a um home-artista da terra para pintar umas estrelas na parte de dentro pa inganar a gaiataige e à noite destapa-se o oliado e lá do alto, olserbamos as estrelas aquaise a tocar nelas e tamém se quisermos, pode serbir de farol, pás motorizadas que andam à noite de colectibidade im colectibidade por essa caramelândia afora, se guiarem, sabendo sempre onde são os Olhos d’Áuga (nesta altura o canito já dorme, a paraige éi agora apenas mais um vulto na escura noite). Entretanto ouvem-se passadas na gravilha. Alguém se aproxima com um pitromax, éi o Florindo Paleolítico, que se assenta ao nosso lado. O Berto da Cramalheira, feliz e aquase inbalsamado pelas médias que já inborcou diz-lhe “bens mesmo a horas, ia propor a abaladiça!”. Buemos atão a última, desta vez em silêncio individual.
A noite éi agora dos grilos, das arganaças selvagens (estilo coelhos adultos) e de todo o tipo de bicheza nocturna que a esta hora ganha vida e liberdade existencial. O canito acordou e roi agora (só para se entreter) umas das muitas grades de médias que povoam o chão da paraige.
Muito a custo lebantamo-nos do banco corrido e encontramos a menarda da FLC. Pomos os capacetes debaixo do braço e montamo-nos a cavalo como se se tibesse lebantado uma araige parba que nos impurra pa um lado e pa outro. Ainda óbimos o Berto da Cramalhera a vociferar para o Florindo Paleólitico:”olha bem aí o Victor Agrário de pitromax na mão!Éi sinal de que nos bamos dibertir, bamos andar à padrada uns cús otros, como quando éramos gaitos parbos!”.
A paraige das caminetas fica para trás. Sobre nós o infinito céu estrelado, belo como milhares de meios-bidons im chamas.
A paraige das caminetas fica para trás. Sobre nós o infinito céu estrelado, belo como milhares de meios-bidons im chamas.
As mesmas estrelas que nos Olhos d’Áuga “hão de ser bistas mesmo dó perto, tão dó-péi que atei bão ofuscar!”.
3 comments:
Bom dia aos caramelos.
Tá bela entrevista, sim senhor.
Li até ao fim e gostei muito.
Espero pela próxima!
A entrevista merece divulgação nos pasqueins da região que só divulgam não interesse de nada. VIVA A FLC.
Bom dia aí ó maltezaria!
Atão bocês andam à padrada uns ós otros e nã cumbidam aqui a becheza?
Bamos lá imbora, já desde o timpo im que era galfarro que nã arreio uma padradas im ningueme olhem que houberam umas belas sessões quando a maltezaria da Cunfidente ia jogar à bola cum a repaziada da Sul Ponte aquilo era rara a vez que n~se acabava cum umas mortêradas uns nos outros...belos tempos, ai ca sódades, aquilo inté fravia.
Adepois a malta foi crescendo a ajuntavos na Sede do Pinhalnobense, pa umas jogatanas ao loto e depois ao snooker e às máquinas e arreavamos uns insaios na malta de fora que por ai aparecia armados im parbos.Só tenho pena de agora a passaige da linha ó pé da cumpratiba teja fechada porque arrajambam-se ai mas belas pedras.
quando for a proxima garreia digam.
Agora que o Costa já boltou de férias bou mas é buer mas mines, bora Toino, já tou a ir.
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