Consultório do dia-a-dia

Carta:

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Muito boa tarde, sou advogado, morador da Villa Serena e estou desempregado, por isso tenho andado com alguns problemas financeiros. Nos dois últimos meses não consegui pagar a água, ainda que tenha alguns fundos que me permitem pagar a gasolina e ir de Audi passear o meu Tulipo (um cão Rottweiler com pedigree) até à praia da Ericeira. E depois à volta ninguém me tira um cafezinho e um cigarrinho na Caparica com o meu Tulipo. De qualquer forma, a verdade é que não tenho dinheiro para pagar a água e corro o risco de ficar sem esse bem precioso. Já me dirigi à Câmara de Palmela a expor este assunto e eles deram-me uma resposta turva.

Tenho ainda a dizer que consegui adquirir uma fotocópia dum diploma de caramelo, de um workshop que a FLC promoveu há uns tempos. Portanto posso provar que sou caramelo com essa fotocópia. É por isso que venho pedir à FLC que, se não for incómodo, me adiante um fundo especial para pagar a água e, se não é pedir muito, que me ajude a pagar a fatura do telemóvel.

Obs. Posso prestar serviços de Direito Fiscal à V/ organização. Honorários a combinar.

Muito Agradecido.

Sem outro assunto,

Atentamente

Pinhal Novo, 28 de Agosto de 2012

Alexandre F.D.P. Cavaco Soares de Azevedo e Mello Amorim"

Resposta:

Ó meu repaz, bocemecê não está a pedir dinheiro, está a pedir mazé uma pázáda de esterco de galinha pas trombas abaixo.

E agora siga o nosso conselho. Em primeiros deixe que lhe cortem a água para ela se acabar por completo. Assim, com a secura, o cão percebe quem bocemecê é e emigra pró canil da Câmara adonde lhe dão sopa de intulho. Na mesma secura, a sua mulher começa a cheirar a restos de marisco com dois dias de sol e quando as moscas começarem a apoquentar-lhe os entrefolhos, ela percebe quem bocemecê é e bai ter com o cão a Palmela pra saber o que fazer da bida. Quando isso acontecer, a FLC é contactada para lá buscar eles, e treinar eles, prá bida caramela actiba brabia, sadia e sem pandleirices.

Assim, quando bocemecê vier aqui chirar ao nosso Quartel General, no seu Audi, à precura da família, recebe logo da sua esposa (já caramelizada) um pontapé pus túbaros caté levanta os chispes três palmos acima do tejadilho do carro, e quando tiver a espojar-se pu chão, leva umas ferroadas do cão já com o nome de Javardan (o bicho, com nova identidade, fica civicamente treinado pra educar o dono aparbalhado). É então que bocemecê começa a aprender a ser um home governado e a ganhar respeito àqueles que não têm mesmo nadinha pra comer, nem pra pagar medicamentos nem a água. Depois disso bocemecê recebe mais instruções punho-educatibas pra se tornar um caramelo às direitas. Abisamos desde já que, quando a sua querida biatura Audi for transformada numa coelheira a ceu aberto, e espatar o telemóvel nas fuças dum avaliador do IMI, pode bir (a pé, hã?... A PÉ), aqui ao nosso Quartel Central celebrar a primeira etapa e ganhar o primeiro carimbo nessa tal fotocópia que bocemecê arranjou na feira da ladra num Domingo à frente do Costa Bar. O nosso carimbo especial é uma rodela especial, pintada de binho especial, da base dum copo especial que só a gente é que tem (o binho é da Cascalheira e tem uma fórmula única, guardada pu Cajó dentro dum barril de pólvora). Portanto nã se ponha com maningâncias parbas à laia de Bale e Azebedo que isso pode sair-lhe caro e ter que ir (todo arrebentado), buscar os seus miolos ao Castelo de Palmela. Depois desse carimbo, ainda faltam mais 39 (de 39 rodelas de copos especiais de binho). Só quando a fotocópia estiber toda cagada de carimbos especiais é que, um dia, bocemecê pode considerar-se caramelo e apto prá luta a olhar de frente pró horizonte e prá bida independente e sadia.

            Quanto aos seus serviços, bá mazé prá bindima que faz melhor figura. A FLC é uma organização clandestina de cunho parbo-socio-cultural que nã pede nada a ninguém.

Resposta de Virgolino Pedradas 

(auxiliar de manutenção da peneira automática que separa a correspondência do entulho geral).