10.12.05

CENTRO DOVARI EM ASSEMBLEIA

Após a passada reunião da nossa independência ficou assente que a Assembleia da República Caramela vai ser no Centro Comercial Dovari. O Dovari foi o escolhido para a Assembleia por ser um templo magnífico plantado no meio do passeio, inspirado no Pentágono e nas cúpulas da Biblioteca da Alexandria, com vistas paisagísticas para as paredes dos prédios da vizinhança.
É claro que o edifício vai sofrer algumas alterações recorrendo, para isso, ao projecto original feito pelo Ti Gentil Agressivo, (especialista em desenhar centros comerciais com um palito na terra). Eis então as cinco principais alterações:

1- Cada loja passará a ser a sede oficial de cada ministério, devidamente equipada com uma secretária com tampo tipo matraquilhos; um arquivador de dossiers tipo saleiro pró presunto; um armário tipo vasilhame; um cadeirão tipo taipal para 10 cumbidados; um computador com espeto rotativo, copos e canecas prás caricas, e consumíveis diversos tais como tinteiros (com tinto).
A fazenda das lojas propriamente ditas cabe toda num tractor com reboque de rodado duplo e cobertura de lona. O tractor fará serviço de venda ambulante aos lugares mais inacessíveis do nosso territóiro, fazendo propaganda à Independência e bindendo a mais variada mercearia caramela, chumbinhos prás floberes, acolchoados, vestidos de noiva, enxovais, cassetes dos ranchos, charcutaria e rifas.
2- Cada ministério terá um cão de sê fitio, mas todos de boa raça, guardando o dono.
3- A Abelha Maia, que põe a gaiatage parba, será oferecida à coletbidade “PIA” para animar os fundadores e fazê-los parecer que estão em actibidade. Na assembleia ficará um burro berdadeiro (encomendado das manif’s do Poceirão) para os caramelinhos se habituarem a amuntar neste tipo de beículos rebolucionários sem recurso ao pitróil nem à corrente, ensinando-lhes assim o caminho prá total independência. As vaseiras à volta do edifício servirão pró animal comer e buer.

4- A partir da cave será escavada uma complexa rede de túneis de emergência que vão desembocar nos melhores pontos de estratégia militar, tais como:
- no marcado, debaixo da rulote das farturas;
- no Rio frio, na cozinha do “Rédea Solta”;
- em Baldera, dentro da baliza do adbersário;
- na Carregueira atrás duma moita específica.

5- O letreiro “Dovari Centro” será substituído por “Todos no debate-garreia, pá punhada e moches”. Ainda que seja um letreiro polémico, é aquele que melhor exprime o lema da nossa Assembleia.

As obras serão feitas da noite pró dia. A 16 de Dezembro terá lugar a sessão solene em que os presidentes das Juntas de Freguesia trazem para o hemiciclo em força de braços a Grade-da-Aliança (que estava escondida na Compratiba das Farinhas atrás dum rolo de mangueira).
A Grade-da-Aliança contem os 10 mantimentos que são os princípios da constituição da Caramelândia pelos quais os caremelos seguirão escrupulosamente, preserbando a sua cultura e costumes.
A constituição do hemiciclo terá várias bancadas com o corrimão decorado com um cordão de flores, sendo a bancada da frente destinada aos forcados caramelos por mostrarem fitiu brabo, capazes de lidar com as mais valentes punhadas e cornadas.

O primeiro debate-garreia será logo no dia 18 de Dezembro, data em que se decide quando será o segundo debate-garreia.

2 comments:

Anonymous said...

Boa tarde ó pandleraige.
Pa mim ei uma mine.
Atão bão criar uma assembleia?
Balente ideia, eu bou lá tar, a distribuir opiniões e punhada e ando à garreia se for praciso pa lebar a nossa terra pá frente.
Uma pargunta. Bai lá haber bar?
Éi que eu nã sou capaz de tar muito tempo sem uma p... duma mine nos quechos e ó depois tinha de tar sempre a sair e a intrar e isso sempre incomodaba os homes da assembleia.

Anonymous said...

Era uma vez na Caramelandia...

Eram horas vazias de uma noite calma, onde a vida repousava, permitindo o merecido descanso do povo que mais ordenha, enquanto os pérfidos aproveitavam a penumbra das trevas, por ela se aventurando. Ali, na frescura húmida da rua, os musgos, na sua acção, deterioram e ornamentam de verde tapetes sedosos nas fissuras do desgaste do tempo. A quietude da cidade abafava o eco buliçoso do dia anterior. Eram horas da madrugada de uma noite amena de Outono, entrecortada por uma brisa fresca com aroma longíssimo mas marinho. Lá no alto, a Lua estava em quarto minguante, e na vila de Pinhal Novo, só as luzes foscas dos candeeiros competiam com o negrume da noite, em solidariedade para com as poucas estrelas que cintilavam naquele céu enevoado. A capital, pigmentada de luzes ténues, era refrescada por uma brisa ligeira e o perigo que a rondava, malfadadas vezes vinha do Costa Bar e não da Tasca do Xico imponente e misteriosa. Era aquele bar que acariciava a avenida que muitas vezes permitia o saque, a insidiosa ira de tiranos e os ataques cheios de voracidade dos larápios dos Caramelos.
Subitamente, quebrando a harmonia estática da vila àquelas horas, irromperam quatro vultos na escuridão. Pelas ruelas e becos mais escuros seguiram caminho, evitando a luz e deslocando-se em passos ágeis, leves e cautos. À frente, pela postura, seguia o suposto líder que espreitava e, após tomar os zelos recomendados, ia dando indicações aos restantes para avançarem. Percorreram ruas desertas, recolheram-se nas reentrâncias de portas ornadas por rochas negras de porosidade esmiuçada. Mais adiante, esconderam-se à espreita e pelo andar decidido, aparentavam conhecer muito bem o seu fito. Subiram algumas artérias da Vila e de revés de um candeeiro mas este não era um, era só o monumento o 25 de Abril, viram-se de relance as suas expressões: as suas fisionomias eram rudes, os seus cabelos grisalhos e em desalinho; os seus trajes encardidos coadunavam-se com aquela tez repisada pelos raios solares. Usavam botas negras, calças largas de cinto espampanante e camisa clara, aberta até quase à barriga, desvelando o peito bronzeado de onde pendia um amuleto, em forma de concha, atado por um fio de cabedal. Os seus braços eram robustos e nos seus físicos definiam-se traços másculos e viris. (...)