28.5.13

PUDINS DE PENSAMENTO - O MANETA

Uma crónica sob total responsabilidade do escritor João das Porras, sobre o existencialismo caramelo e outros distúrbios da realidade.
 
O MANETA

Estou ao balcão do café “Manda Abançar” em Águas de Moura, seguindo a leitura com o deslizar do meu dedo pelas linhas do jornal “O Acendalha”. A páginas tantas a realidade torna-se temperamental e o que está escrito no papel entra-me pelo dedo acima, incorporando-se no cérebro como uma descarga das pocilgas da Quinta do Anjo se incorpora nos lençóis freáticos. Fico com azia aristotélica (uma espécie de azia em forma de paralelepípedos). Diz-se que o povo lusitano (o qual os caramelos ainda se incluem) arranjou uma díbida mais comprida do que fazer a reta do Poceirão de Zundape, ida e bolta, duzentos mil milhões de bezes sem pagar. Ora mas isto é o queim, afinal? Tamos todos a brincar ó quê, hã? Pergunto eu amontado a cabalo em mim próprio.
Começo a fazer as contas de cabeça, com a ajuda dum lápis. Conclusão: cada caramelo deve 20 mil euros (10 mil em cada nalga) a um tal de nã-sei-quêm, que mora lá prós lados nã-sei-das-quantas.
Desamonto-me de mim próprio e pergunto, de escape libre, pró giral do café:
- Mas mas afinal debemos dinheiro a queim?
- Tamaxóz!!! Tás parbo ou alimpas-te às cuecas do Xico? Debemos ó Maneta, páh. – responde o Jaquim Traça-Linguiças com a certeza na ponta da mine.
- Maneta? Mas que maneta?!! – pergunto eu entrelaçado entre fragmentos de confusão e supositórios de abstracionismo.
- Atão nã bês q’isto bai tudo pró Maneta? Nã fica cá nada pra ninguem, nim água, nim terra nim sementes de escalracho. Nem os porcos ganem. – responde Alcides Seborreia na garantia da sua nabalhita afiada, a dar-a-dar como um maestro.

Nã fiquei totalmente sastesfeito. Na berdade, fiquei como se tivesse comido um quilo de figos, mas sem pão nem binho. Sinto um certo bazio interior, preciso de saber quem é afinal O Maneta que é um tal nã-sei-quem, que mora lá prós lados nã-sei-das-quantas.
Amonto-me a cabalo na nha Lambreta e bou que nem um tiro im direito à Carregueira, mais propriamente à Confederação Caramela de Lançadores de Foguetaige Rija (C.C.D.L.D.F.R.), porque é lá que se encontra a maior concentração de manetas da nossa nação. Bou na esperança de incontrar o tal Maneta e saber em que malhada é que ele drome.
            Aqui bou eu a açapar de pinsamento em pinsamento estrada a fora. Ao passar pelo Lau olho prá barraca do Toin-Zei Perfumado, e dentro do meu capacete repenso o seguinte: “só na casa do Toin, a contar com a mulher (quase a parir o sexto gaiato), mais a sogra ensaimada, somam 18 nalgas ou seja, uma díbida de 180 mil euros. Isto pra um home brabio que toda a bida fez queijo de cabra a partir das suas próprias mãos, e a única coisa que pediu emprestada, foi uma ficha tripla, em 1986, pra ber a Dora no Festibal Eurobisão da Canção, enquanto comia uma gamela de caracóis no quintal. A ficha tripla foi rapidamente debolbida assim que soube que a canção caramela “Nã sejas mau pra mim” ficou quase em último lugar.” Foi este o meu pensamento!
            Sigo a estrada e sigo também o encadeamento deste misterioso axioma: cada nalga = dez mil euros pró maneta. E é assim que ao passar o cruzamento da Palhota já contabilizo mais de um milhão de euros e ao chigar à Carregueira, depois de atravessar o Pinhal Novo, a conta acagula pra cima os 600 milhões.
            Na Carregueira encontro-me com oito manetas lançadores de foguetaige rija que estão a jogar matraquilhos em duas equipas (quatro homes em cada lado). Quando lhes pergunto “quem é O Maneta que anda a inbentar díbidas a tudo o que mexe na Caramelândia? e adonde é que ele drome?” Todos apontam com os seus respetibos cotos, cada um pra seu lado. Um aponta para a América; outro para a Alemanha; outro para a Suiça; outro para as Ilhas Caimão; outro, indeciso, aponta para o céu; outro aponta para o Pólo Norte e, por fim, o mais brabio aponta pró castelo de Palmela.
           
Afinal O Maneta é um deus omnipresente para o qual tudo nasce, cresce e morre!
Nunca uma sociedade se desvinculou tanto de si própria para se extinguir na metafísica de dívidas criativas.

Ou o povo põe as mãos nisto, ou bai tudo pró Maneta.

1 comment:

Toino das Mines said...

Boa noite pandleraige!
Taba a ber que andabam parbos!
Mas adonde tabam, que o Toino baza grades e aqui na anda ninguem?!!Bazo grades e chamo e nada. Nim ningume nim homes nhuns, nim nada. Mas falam agora do quei? Do maneta? Aquio o Toino im cada nalga tem mais grades de mines do que a estatua da boneca tem ferraige. Mas se esse maneta quer denhero, a gente pindura-o numa zundapp e aponta-o direito a Palmela e dizemos lhe mas ei pa ter juizo que os caramelos de parbos temos pouco. Debemos quanto? Esse denhero que os homes da FLC aqui falam, isso im mines da pa 70 anos a buer que nim um pardido. Por falar nisso bou buer uma grade, hoje ainda so bui 4 grades. Bou depis regar, se o motor de rega tiber cum buntade. Depois bou buer mais tres grades bou assapar na minha menarda. Bou agora. E esses homes manetas dexem de ser parbos. Bou assapar e buer.