23.1.06

Homes de cultura

A FLC, para dar vazão à enxurrada de cartas recebidas diariamente para a secção "Consultório do Dia a Dia", cria aqui uma nova rubrica, dedicada especialmente a desabafos caramelos de índole cultural. Se achar que algo vai mal, ou pelo contrário quiser elogiar o que está bem na cultura do país caramelo, não hesite. Assente-se e escreba-nos. A gente ó depois dibulga

Ora atão muito boas tardes. Escrebo esta carta a bócêzes, homes da FLC, com o propoisito de bos alertar pa uma situação e pa que as boas gentes que leiam aqui o que ê bou escraber se ajuntim, e assim mais eu, garreiem p’la nha (nossa) ideia.
No ôtro dia, taba eu assintado no banquito que tenho à porta de casa, intartido a descascar um ramito de eucalitre com a minha nabalhita de corte, e dei por mim, armado im parbo a pinsar nos dias de marcado da capital, e quando íamos todos ó cenema à SFUA, bulgo Sociedade. Aquilo ei quera balente, íamos todos de excursão, eu, a Ti Toina Imbalsemada, o Ti Galganas, o Atoino do Jerrican e amais a canzoada toda do café do Maxmino "chera a tinto", tudo pó marcado de caminete alugada. De manhã, Marcado, cumprar alguidares, comida pá becheza, carpetes, tapetes pá retrete, ê sei lá o que mais aquela boa gente, a canalha cigana, nos bindia. Ó depois, im chegando a galga, íamos todos ó almoço debaixo dos eucalitres, aquilo era tanto fumo que parecia aquelas notes de naboero, im que um home na bê nada e tem de desparar tiros pó ar, só pós otros saberim que ainda tamos ali. Mas dezia eu, a gente comia e bubia que nim uns alarbes e ó depois, íamos dormir a sesta pás matinés da SFUA, ber os cóbois contra ós índios, tudo à garreia uns com os otros, e agente podia fazer o barulho que quisesse, e comintar o filme im boz alta e assobiar quando aparecia uma repariga balente, infim os homes do cinema dixabam a gente ber os filmes im paz, e ai daquele que tibesse a maniazinha de nos mandar calar. Já sabia que o filme dos cóbois passaba a ser na sala da SFUA, e ó depois ainda pracisabam de caderas nobas…
Mas a cunbersa já bai longa, e a nha caneta já quase nã pinga, bou direto ó assunto que me leba a escreber, ê que eu, aquaise analfabeto, sei escreber, mas aquaise que nã sei ler, pois aprindi só aquilo que minsinaram. No outro dia, bim à capital, ó marcado, e tibe na ideiazita parba de ir ó cenema, agora sei que há lá aquele moderno, perto da casa com libros. Ós anos que este bosso home na punha os chispes im tal sítio. Atão nã ei, que aquaise tibe de afiar a nabalhita, porcausa dos homes-donos dos filmes, que me mandabam cunstantemente calar. Que nã se pode falar alto, nã se pode assobiar, nã se pode comer (tinha mandado imbrulhar uma intarmiada no marcado de propóisito), na se pode nada. Mas afinal quei isto?!! Ca raio de cenema ei aquele? Já lá nã bou mais, só pa nã me chatiar e birar aquilo do abesso, só gente parba, com a mania que sabim tudo. Exijo aqui e agora, e espero que mais homes se ajuntim a mim na garreia-luta, que a nossa belha SFUA, passe a dar cenema, pelo menos ós domingos de marcado!


Ti Toine Desinxaugado (Bale da Bila)

16 comments:

Anonymous said...

Estou dacordo. O cinema da sfua é que é, com cadeiras de tábua só pra gente rija.

Anonymous said...

Apoado. Contem comigo. Vou passar a ideia na loja do Brinca.

Anonymous said...

Também eu ia à SFUA VER OS COWBOYS E os indios nas matinés. Compravamos rebuçados e era tudo nosso. Para quando cinema na sfua?
Os senhores da camara que respondam. Ou antes, os senhores dirigentes da sfua que nos digam porque não querem que lá haja cinema. Podiam fazer ciclos antigos, de cowboys e Indiana Jones, etc. Os caramelos iriam todos ver.
Fica a proposta lançada. Apoio o Ti toino Desixaugado.

Anonymous said...

Nós também.

Anonymous said...

No balcão agente via os filmes e aparecia o lanterninha amandar calar a malta. EHEHEHE, tudo na SFUA a ver filmes com bilhetes a 50 melreis e ainda dava para os rebuçados.
Quem nãos se lembra dos cartazes que els tinham com os filmes já antigos e que faziam as delícias dos caramelos?

Anonymous said...

Oh pá!! Era ali que via o Charlot...grande SFUA...velhota já centenária.

Anonymous said...

He he he he! Tá bom sim senhor eu também me ajunto à sfua.

Anonymous said...

Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas
que
fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que
partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos
finais
de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que
trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...

Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada
vez
mais raro.

Vamo-nos perder no tempo....

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:

- "Quem são aquelas pessoas?"

Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!

"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha
vida!"

A saudade vai apertar bem dentro do peito.

Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......

Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último
adeus de um amigo.

E, entre lágrima abraçar-nos-emos.

Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em
diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida,

isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo.....

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes
tempestades....

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os
meus
amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Anonymous said...

Eu vi o Desixaguado lá no auditório do cinema. Era ele e mais eu. Só a gente os dois! A SFUA, nos velhos, tempos metia mais gente a ver cinema num só dia do que a Biblioteca num mês inteiro. É que os caramelos é que têm o carcanhol da venda dos bacros e compram os cinemas plasma lá para casa. Assim já podem "comintar" quando lhes apetece.

Anonymous said...

Estou de acordo com o Ti Toine Desinxaugado!
Queremos cinema na SFUA aos dias de marcado.

Anonymous said...

Olá repaziada malina.
Sou a Ti Balinda e gosto de ber este blog. Aprindi a mexer no cumptador ós 91 anos só para cunseguir escrever aqui na FLC.
Apoio o Ti Toino Dezinchaugado, que é meu bizinho.
Cinema no cinema caramelo que ei a sfua.

Anonymous said...

Boa tarde ó pandleraige.
Pa mi ei uma mine.
Atão a cunbersa aqui ei de cinema.
Como já bus disse, sou um home simples que nã sabe ler nim escreber, mas que memo assim distingo o rótulo da Sagres da Super boque, mas par mim sou mais mines, sou um home da tradição e nã gosto dessas modernidades que andam pá i, como outras marcas binderem mines. Mine ei Sagres e mai nada. Mas apoio o Ti Toino Dezinxauguado e acho balente a luta deste home im quere pôr cinema na SFUA, porque realmente ei lá que a caramelândia aprendeu a ber cinema. Eu ia lá, atão ós domingos de marcado nã falhava um filme e les sabiam que as excursões chegabam e punham sempre filmes de cóbois pá malta ber. Atão lembro-me do Jon Ueine e dessa pandleraige toda ós tiros ós indios e a gente ó depois quando o filme acabava ainda iamos ó amrcado detar abaixo umas grades de mines.
Alguém tem bisto o meu amigo Zei Ratoera? Ó Zei ANDA BUER UMAS MAIS EU.

Anonymous said...

Vejam o que descobri.
Este Ti Toino Dexinxaugado é o presidente do património caramelo. Não sei se ainda é ou se é o mesmo, mas parece-me ele.
Vejam os posts de Junho.

Anonymous said...

Viva a SFUA e o antigo cinema caramelo.
Invasão cinéfila já!

Anonymous said...

Olá repaziada bravia.

Anonymous said...

Em Portugal, é a religião católica que detém os direitos de autor na liderança espiritual dos portugueses. Nos dias de hoje, contudo, diversos sectores da sociedade portuguesa assumem cada vez mais posições fracturantes com a instituição religiosa. Não lhe perdoam a cumplicidade com o Estado Novo, acusam-na de ser inflexível em relação às evoluções sociais e encaram-na como uma barreira conservadora fase aos novos desafios da humanidade.