19.11.06

EDITORIAL

Escrito pela Edite das Crónicas por escraber crónicas caramelas nos editoriais dos jornais.

Hoije bou cuntar a bocemecês a história do talego cheio de coidas de pão, uma históira berídica que se passou entre os Batutes e a Fonte da Baca num dia de nabueiro de 1958, em plena crise do Meio-bidom.
O Jequim Tição era assim conhecido por ser o único home do reino caramelo com licença de uso e porte de isqueiro e com alvará de acendedor oficial de meios-bidons. Por isso era sempre chamado pró serbiço onde quer que houbesse um pitromax, um fogareiro ou um cigarro pra acinder, quando não habia fórfos. Num belo dia foi chamado pró serbiço especial de acendedor de rastolho numa matança do porco. Esse rastolho em labaredas, espatado numa forquilha, serbia pra chamuscar o bicho, já morto, pois nessa altura era assim que queimava o pêlo dando aquele chirinho a chamusque c’agente tanto gosta impregnado nas nossas camisolas interiores. Hoije usam-se maçaricos ligados à bilha do gás da cozinha e já na tem o mesmo infeite. Bem…, lá ia o Jequim Tição, com os chispes na geada, estrada fora, assobiando par dentro do nabueiro quando introu no batatal do Baldemiro Pirolito (assim chamado por beber pirolitos e ter forrado a fachada a sua casa com os berlindes dessa bebida gasosa). Baldemiro assustou-se assim que viu o vulto, deu um arrote e um tiro de caçadeira pró ar, e disse:
- Quem és tu e que o que é bieste práqui chirar?
- Sou eu, o Jaquim Tição, e bou à matança do porco do Belarmino Pançudo.
- Ahh! És o Tição,… Atão acende lá a mim esta lamparina que eu na tenho fórfos.
- Tu tamém na tens fórfos?
- Nem um fórfozinho bê lá tu!
Meteu o talego no poial, tirou o isqueiro da algibeira do colete e zás pôs-se a acinder a lamparina. A canzoada deu-lhe o cheiro do farnel e truca, roeu-lhe o pão cum banha deixando só a coida.

Quando chigou à matança do porco é que reparou que tinha o talego só com coidas. Foi uma barrigada de rir que toda a gente ficou a saber do sucedido. Jaquim Tição quase teve pra mudar de alcunha pra Jaquim Tição das Coidas… mas não pegou. Bem… resultado: como ele só tinha as coidas, toda a gente lhe ofereceu ovos caseiros, repolhos, hortaliças, e fartou-se de comer coirato e intarmiadas, e buer binho até à noitinha. Portanto, aquele belho ditado “Pá fome na há má pão” neste caso até quase se berifica poque o Jaquim incheu a pança de coirato.

Deribado a esta históira berídica é que ainda hoije os caramelos modernos quando comem pão cum Tulicreme deixam as coidas em cima da mensa como sinal de esperança de birem a ganhar uma barrigada de coirato, intarmiada e binho.

Prá semana, no próximo editorial, bou cuntar uma históira ca nha tia cuntava quando eu era ainda gaiata, uma históira dum cogumelo labado cum áuga do poço.

5 comments:

Anonymous said...

Tá boa esta crónica.
Nã sabia esta história das coidas.

cristina roldao said...

tanta história se passou á roda da chaboca, debaixo dos calitres e nas andanças da respiga. Que ricos episóides da nubela que estes cenários abiam de dar.

Anonymous said...

xiça penicos...

Anonymous said...

Atão mandem, lá mais destas histórias para a malta deixar de ser parba.
Parece que vócês andam a dormir ou a fugir da policia.

Anonymous said...

ê cá só tenho a dezer, cá aquela jubentude k come akele pao de plastico sem coida, k n presta par nada... irem masé comprar pao da lagoinha pra berem o k é bom! e o coirato agradece... bai coirato, pao, coida, e cum azar, bai dedos e tudo... porra.