5.7.11

CONSULTÓRIO DO DIA A DIA - OSGAS

Se tiberes ãinças ou buntade de dar punhada no fumo do coirato, escrebe práqui que a FLC dá-te o azeite. Tamém podes fazer as tuas précuras que temos um rancho de caramelos especializados que te dão as respostas certas.

Carta:

Ora munto boa tarde, espero que a FLC se incontre rija que nem um carril da CP, pois por aqui por Baldera está tudo balente. Eu sou caramelo desde 1945 e sou conhecido por Xico Jumento. Nã sei se estão bem a ber quim sou, sou da família dos Equídeos ali do Bal da Bila, neto do Toin Burro, aquele belho que era muita conhecido por ser mais teimoso cum Burro e até se conta por i que o home, depois de morto, teimava em nã querer intrar pró caixão. Mas isso são históiras.

O que leba a mim a escraber esta carta são as osgas. A nha casa está cheia de osgas e ê cá nã gosto nada desta bicheza. Dá-me uma raiba caté… Ê sei que elas nã fazim mal a ningueim, mas uma bez uma osga caiu dentro duma cafeteira e opois um gaiato foi buer o chá (com a osga lá dentro) e inrolou logo as unhas. É por isso que ê nã gosto de osgas. Por isso, à noite faço uma caçada, primeiro comecei a dar cabo delas à bassoirada, opois foi com a flober. Agora tenho o reboco da casa todo esburgado e problema é que isto nunca mais tem fim. O que é que me acunselham a fazer pra acabar com esta bicheza?

Obrigado pa vossa atinção.

Resposta:

Ò meu repaz, bocemecê beio lebantar um belo tema de cumbersa, que é meter a gente a falar da nossa fauna nativa. Isto porque a nossa bicheza tem sido desprezada por muita gente, deribado à opressão cultural de todo o hemisfério norte, que insistem em pôr a gente a gostar só de papagaios da amazónia, gatos persas, pastores alemães, queijo flamengo e muito mais. Mas isso bai ter de mudar. Com os tempos que se aproximam (e se os caramelos nã prestarem atenção às instruções da FLC), pode bir o dia em que toda a criação desaparece desses quintais e a fome dá em aperto. É nessa hora que bocemecê bai ter de arranjar maneira de fazer um pitéu à base de osgas que toda a família bai querer comer e chorar por mais. Se bocê nã souber fazer, pergunte aos chineses que eles sabem. A FLC sabe, de fonte segura, que no Camboja, quando a fome apertou, a maltezaria-de-olhos-im-bico começou a fritar tarântulas e a comê-las como quem come tramoços, e hoije é uma especialidade regional de primeira catigoria. Mas esta ideia de comer osgas torna-se perigosa se a sua históira (da osga que caiu dentro duma tigela de remédio prós ratos e opois um bebé foi lá buer e lerpou) for berdade, já que a gente quer é toda a caramelaige biba e sadia. Dessa maneira, a FLC foi imbestigar essa tal históira que bocê contou.

Das imbestigações efectuadas ficámos a saber que:

- Na zona da Benda do Alcaide, a osga caiu dentro dum alguidar de sopa e uma moça (lá prós lados do Lau) foi lember o choriço e esticou o pernil.

- Na zona do Lau, a osga caiu dentro da açorda e um gaiato (lá prós lados da Palhota), foi ao cheiro do bacalhau, lembeu as bordas da gamela e inrolou as unhas.

- Já na zona da Palhota, a osga caiu dentro dum balde de papas de milho e o home (lá prós lados do Poceirão) foi comer e… deixou a farinha para os outros.

- Opois na zona do Poceirão, a osga caiu dentro duma frigideira e um gaiato (lá prós lados da Carregueira) foi comer um pudim e bateu as botas.

- Por fim, na zona da Carregueira, a osga caiu dentro duma garrafa de binho e um moço (lá prós lados da Benda do Alcaide), foi-se ao frasco da marmelada e patinou.

De todas as histórias recolhidas, os especialistas chigaram à conclusão que a osga era sempre a mesma, e todos aqueles que bateram a canastra (por causa da osga) eram tamém o mesmo, e era uma pessoa afastada… “ali práquelas bandas”. Por outro lado, à medida que as imbestigações intrabam em detalhes, a história intranhaba-se nas profundezas do tempo ao ponto da osga cair dentro duma pastilha elástica do D. Afonso Henriques e a mãe dele (armada im parba) foi roer a pastilha e lerpou.

Mas, dada a convicção com que as histórias foram contadas, a FLC não ficou descansada e partiu prá imbestigação em laboratóiro. Assim, fizemos com que as osgas caíssem naturalmente dentro de tubos de ensaio para opois serem processadas até ficarem crocantes. Opois foram metidas dentro de papo-secos com manteiga, e daí foram infiados dentro duma embalagem de esferovite (colorida com palhaços e oferta dum urso de borracha). Este produto secreto foi oferecido às equipes de futebol infantil caramelo, que serbiram como cobaias da nossa experiência. Foi assim que a fedelhaige, quando acabou um jogo, esgalgados cum fome, começaram a comer este artigo gastronómico caté pareciam os reformados a garriar e a comer sardinhas de borla nas festas. Os resultados foram esbrutificantes: já com as osgas no bucho, os pequenos atletas pareciam zundapes de escape libre a trabalhar a querosene. Boltaram logo pró campo e começaram a jogar à padrada (com os ursos de borracha) tal era a forçaria e entusiasmo físico. Foi intão que a FLC certificou a osga como produto natural caramelo de interesse gastronómico.

Agora, oh Xico Jumento, o melhor é bocemecê deixar os bichos à buntade lá no seu domicílio, pois já sabemos que tem uma reserba nutritiba de grande balor calórico. E como os caramelos balorizam toda a bcheza que é boa pra comer, já nã há razão pra odiar os bichinhos. A partir de agora a históira que bocemecê bai contar é esta: “um dia destes caiu uma hamburga BigMac (cheia de maionese-peçonha) dentro dum púcaro do leite e um gaiato (ali práquela zona) foi buer o leite e bateu a caçoleta”. Só assim se repõe a berdade da nossa cultura e a preserbação das espécies autóctones.

Resposta do Zoólogo-Magarefe

(especialista em de bichesa badia como ratazanas,

escarabelhos, sapos, lagartas do pinheiro, lesmas e cágados), Ti Virgolino do Talho.

Mais uma missão salbadora da cultura e fauna caramela.

2 comments:

Zé Bife said...

Conheço tb essa história da osga.

Lionel, o ordenhador said...

Ó homes intão andam balentes ou querem lebar uma punhada nos intestinos?

Nã se priocupem com o osguedo porque isso é bicheza que nã faz mal a ninguém. Como diz o Chico da tasca: "O que nã mata ingorda". Eu já comi lombinhos à do Chico e nã morri, caté que lombinhos cum baratas é bom; e nã sei se já comi um ou outro lombinho com osgas.
Em tempos teve lá a acontecer o FDLD'O - festival degustação de Lombinhos d'ontem - ao mesmo tempo que a tasca era um laboratorio de fauna caramela (baratas, osgas, aranhas, arãs camufladas, etc) e sempre que agente ia degustar um lombinho agente nã podia lavar as mãos. Nem os assadores de lombinhos usavam cuecas na cabeça como essa gente cheia de higiene cum home até fica cheio de tosse só de olhar.
Belhos tempos em que ninguém se preocupava com os lombinhos serem de porco ou d'outro bicho qualquer... eram bons e prontos.

É preciso é pra-diante e protejam os nosso animais.... porque quando a fome apertar agente tem lá eles para nos tirarem a barriga de miséiras. A mine é que nã pode faltar. Com ou sem fome a mine tem de tar sempre no punho que nem um acelarador d'uma casal quando vou atrasado pra ordenhar as minhas cabra.

"Ê sou caramelo e nã lavo as mãos
e eu bibo feliz e cuntente
Nunca morri, nim os meus irmãos
Come de tudo pa seres um home balente"

(José Maria dos Santos, 1876)