31.7.08

A Abaladiça

CONSULTÓRIO DO DIA A DIA
Exmos Srs da FLC, eu sou aquele cidadão que, pela altura das Festas do Pinhal Novo, vos mandei uma carta para saber o que é uma rodada. Tenho a agradecer a vossa resposta pois fiz tal como disseram e correu tudo muito bem. Hoje sou um homem realizado. Já sei beber à rodada e sou uma pessoa conhecida por toda a comunidade do Terrim e arredores. Custou-me um bocadinho a primeira vez porque bebi minis até começar a bolçar. Depois fiquei de cama três dias e três noites com a cabeça que parecia um maço de calceteiro. Por isso é que já sou conhecido por Zé Cabeça de Maço.
Mas o que hoje me traz aqui é uma outra questão. É que quando estou a beber à rodada, estão sempre a dizer “bamos buer a abaladiça”, depois bebemos mais uma rodada e voltam a dizer “agora é que bamos buer a abaladiça”, depois bebemos mais uma rodada e voltam a dizer “bamos lá intão buer a abaladiça” e assim sucessivamente. A pergunta que eu faço é: o que é uma abaladiça?
Já agora, andam sempre perguntar-me “o teu pai é mocho?” ora que raio quererá isto dizer?!
Resposta

Ó meu repaz só bocemecê é que tira a gente dos banhos quentes dos charcos e tanques (aquecidos à soalheira), pra responder a perguntas parbas como essa. Mas como bocemecê parece ser boa pessoa em bias de se tornar um caramelo a perceito, a gente responde com galhardia.
Intão é assim: a “abaladiça” é um termo do alentejano arcaico, adoptado na língua caramela desde que o povo alentejano escolheu o nosso territóiro pra biber. “Abaladiça” é uma palabra-de-ordem com muita força, e é muito comum evocá-la quando se bebe à rodada. Segundo o Dicionário Universal de Língua Caramela (sem acordo ortográfico), “abaladiça” quer dizer “bamos mazé buer mais uma rodada e dêxim-se de merdas”. No entanto o termo traz a ideia de “abalar” ou seja, sugere a ideia de que é a última rodada pra cada home abalar e ir ter com a sua Maria que está, de combinação vestida, à sua espera. Este termo “Abaladiça” tem uma força dupla como uma retroescavadera que cava prá frente e pra trás. Por um lado tem o poder de abrir a consciência do home caramelo prás responsabilidades do mundo real e despertar-lhe as saudades do lar, enquanto que, por outro lado, abre o apetite para mais uma rodada e ficar no combíbio na coletbidade, até andar à punhada. A abaladiça tem uma força tal que ninguém faz frente, porque parece mesmo que bai ser a última e ninguém pode recusar a última rodada. Houve já quem fosse deserdado por ter recusado uma abaladiça. Eis aqui a força desta palavra.
Portantos, ninguém diz “bamos buer uma rajada de oito rodadas”. Diziam logo “Tóóó! Tas parbo ó quê? Tás cum medo ca buida se acabe, ou cresce-te mais a cagança ca barriga? Hã!”. No entanto sabe-se que qualquer home consegue buer oito abaladiças de seguida (sem arrotar). É tudo uma questão de etiqueta e bons costumes caramelos que devem ser postos em prática aos balcões das coletbidades. No intanto é bom que se diga que este termo só deve ser evocado em determinada altura. Não faz qualquer sentido mandar bir uma abaladiça, logo na primeira rodada. Nem na segunda!... Só lá prá vigésima rodada é que se pode começar a pensar na fase das abaladiças.

Agora quanto à pergunta que lhe fazem “O teu pai é mocho?”, essa não respondemos e deixamos por conta de bocemecê a precura da resposta.

Resposta de Ivando Rebola Caixotes.

4 comments:

Zé do Cão said...

Zé Barrigas. Assim é qué. Uma bez, meti-me em cortezias altas e tibe a desfaçatez beber à rodada, ali prós lados do Poceirão. Não foi preciso chegar à abaladiça. Apanhei uma torcida que não me aguentei e o meu cumpanheiro também. Tiberam que me lebar a casa.
Queria bolçar e inbês do fazer prá pia dos despejos, quera ao lado da chaminé, afastei a cortina e foi pra cima do fogareiro a pitrólio.
Adorei, este texto, inté chorei a rir.

Dom Fuas. said...

Rapaziada mais uma vez a por em prática o serviço publico de forma a esclarecer a caramelage, a Edite estrela a ensinar a termos em portugues é uma menina ao pé do pessoal caramelo..

ZEZE

Anonymous said...

nada

Anonymous said...

sou lisboeta raçado com alentejano e como tal os termos n m são desconhecidos...abaladiça = ultima cerveja (ou outra bebida qualquer whatever) e pai mocho = paneleiro ou algo do genero, pois, dizem os meus conterraneos alentejanos k o mocho tem a piça no cu!
continuem aki com o bom trabalho a esclarecer as duvidas mais pertinentes ao pessoal leigo no que diz respeito ao léxico mais complexo xD cumps